As famílias de países ricos deitam fora cerca de 30 por cento dos alimentos que compram, segundo um estudo apresentado na World Water Week, a conferência mundial sobre a água, que termina esta sexta-feira em Estocolmo, na Suécia.
Segundo o director do Comité Científico do Instituto Internacional da Água de Estocolmo (SIWI), este desperdício colectivo significa também a perda de milhões de toneladas de água para produzir os alunos.
De acordo com o estudo, na Suécia, considerando-se apenas as famílias com crianças pequenas, 25 por cento da comida comprada vai parar ao caixote do lixo.
Nos Estados Unidos, os números mais recentes indicam que as famílias desperdiçam ainda mais: cerca de meio quilo de comida por dia vai para o lixo, o que equivale a uma média de 40 por cento dos alimentos.
Na Grã-Bretanha, o desperdício é estimado entre os 30 e 40 por cento, num prejuízo avaliado em 30 mil milhões de euros por ano.
«Comida é água»
«É preciso compreender que comida é água», afirma o director do Comité Científico. «Nós bebemos um ou dois litros de água por dia, mas «comemos» toneladas de água todos os dias». A produção de um quilo de carne, por exemplo, exige 10 a 15 toneladas de água. Para um quilo de arroz, são necessárias uma a duas toneladas de água, ou mais, dependendo da região de cultivo.
Comer um bife com batatas fritas significa «beber» 1,5 a duas toneladas de água, utilizada para produzir esta porção de comida.
O desperdício de alimentos e água acontece também nos países em desenvolvimento, mas com um diferença essencial: «Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, o problema do desperdício está concentrado no campo, com uma taxa média de 30 por cento de perdas relacionadas com o armazenamento e transporte dos alimentos, especialmente nos países de clima mais quente e húmido. Na Europa e nos EUA, técnicas e mão-de-obra especializadas significam que o problema maior não está no campo, mas sim nos lares».
Nos casos dos países ricos, considerando o total desperdiçado pelos consumidores, restaurantes e supermercados, e perdas na cadeia de produção, elevam o desaproveitamento até aos 50 por cento.
«Mudança de valores»
Ao ser questionado sobre o motivo desse desperdício, o professor Jan Lundqvist diz que se deve a uma «conjunção de factores, que representa também uma mudança de valores em relação aos alimentos».
«Ficou mais barato comprar comida, os preços caíram e o poder de consumo aumentou. Os subsídios à agricultura significam que o preço da comida nas lojas é distorcido, e não reflecte a realidade. As pessoas compram mais, e se não usam, simplesmente deitam fora. A minha geração foi ensinada a não desperdiçar comida, mas houve uma mudança de percepção desta realidade».
Segundo o cientista, outra razão do desperdício é a obediência cega aos rótulos dos fabricantes, que indicam na embalagem a data máxima aconselhada para o consumo.
«É ridículo», afirma. «Se passar um dia da data indicada na embalagem para o consumo do leite, por exemplo, as pessoas deitam imediatamente o leite fora. Ora, basta cheirar o leite para saber se de facto está estragado. No caso do leite, pode-se consumir mesmo uma semana após a data indicada na embalagem. É só cheirar para verificar. Com outros alimentos é a mesma coisa: basta provar».
Promoções do tipo «compre 2 e leve 3» também aumentam o volume do lixo doméstico. «As pessoas compram mais do que necessitam, e acabam por desperdiçar».
Mas há mais razões para estes números tão elevados, é que, segundo o professor, as pessoas também comem demais. «O mundo tem hoje 1,1 bilhão de pessoas obesas e acima do peso, de acordo com estatísticas da Organização Mundial de Saúde. É preciso lembrar que há 850 milhões de pessoas subnutridas no mundo.
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Ano da Publicação: | 2007 |
Fonte: | http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=844106&div_id=291 |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |