Dentre os vários problemas sofridos por uma metrópole incompleta, o do lixo ou resíduos sólidos causa sérios problemas. O lixo é produzido numa relação direta com o padrão de vida dos habitantes da cidade. Quem ganha mais gera mais lixo porque consome mais. Produzido com muita rapidez, a coleta, o transporte e o destino do lixo tem que ser feito de forma ágil e eficiente, garantindo condições de saúde e higiene na perspectiva do plano pessoal e coletivo. Nossa sociedade, extremamente desigual, faz do lixo fonte de renda e ganha pão de muitos. A cadeia produtiva do lixo é muita complexa.
Para as grandes empresas responsáveis pela coleta, transporte, seleção e tratamento trata-se de um negócio vultoso e concorrido. Para os catadores, verdadeiros agentes da reciclagem, um mal necessário, escancarando nossa incapacidade de oferecer melhores condições de vida aos nossos cidadãos. Nos lixões, longe do olhar dos formadores de opinião, um expressivo número de pessoas vive do ciclo do lixo. Poderia chamar o lixo durante todo tempo, de resíduo sólido, talvez purificando um pouco o universo putrefato e mal cheiroso que o envolve. Acho a denominação lixo, mais conveniente pela forma incômoda com que ele se espalha por nossa cidade evidenciando problemas de controle e fiscalização. Na estação chuvosa a situação se complica.
Os críticos de plantão tendem a afirmar de imediato que é problema dos gestores e da empresas coletoras. Afirmam e tem certa razão. Entretanto, seria impossível não falar dos problemas de falta de educação de muitos moradores de nossa cidade. Que falta faz a educação ambiental e o avanço de uma verdadeira consciência ecológica! Todos nós somos responsáveis por boas práticas de convivência saudável e cidadã. Fico incomodado e muito me aborreço com as mazelas de nossa Fortaleza. De meu apartamento observo a limpeza e coleta correta do lixo na rua em que moro.
Seria excelente, não fora, a insistência de muitos moradores, que elegeram alguns locais para formação de monturos. Infligindo a legislação, muitos contratam carroceiros para livrar-se de restos de construção, galhos e troncos decorrentes de poda de árvores ou limpeza de jardins e outros dejetos que são regularmente colocados nesses monturos. Na esquina das ruas República do Líbano e General Dutra, um enorme monturo ocupa a calçada e praticamente metade da via. Além da coleta sistemática do lixo domiciliar, o local é limpo regularmente. Ao amanhecer chegam carroceiros e mesmo camionetes que formam novamente o monturo gerando os problemas decorrentes. Infelizmente o problema é agravado por alguns moradores de casas da vizinhança que ali depositam seus sacos de lixo.
Na rua Frei Mansueto quase esquina com a República do Líbano um terreno baldio tem sido regularmente usado para formação de monturo. A prefeitura exigiu que o terreno fosse cercado, alocou placa alusiva à proibição de se atirar lixo no local e, mesmo assim, sacos de lixo são lá colocados. Como combater práticas tão danosas à saúde, à estética, ao nosso bem estar? Impossível um fiscal em cada quarteirão. A prefeitura da cidade tem obrigação e deve marcar presença fiscalizando os serviços contratados. As empresas prestadoras do serviço de coleta têm a obrigação de realizar a tarefa de forma satisfatória. E nós, o que devemos ou podemos fazer para frear práticas indevidas e indesejáveis? Como agir diante de cidadãos que atiram latinhas de cerveja e de refrigerantes das janelas de carros e ônibus, dos que jogam fraldas descartáveis usadas, dos que jogam papéis, tocos de cigarro? Alguma coisa tem que ser feita. Não podemos fingir que nada está acontecendo e nos tornarmos cúmplices dos que manifestam desrespeito ao interesse coletivo.
Uma cidade jamais será bela se o lixo emporcalhar suas ruas e praças, entupindo seus bueiros provocando inundações. Uma cidade jamais será saudável se os sacos, copos e outros produtos de plástico forem atirados às ruas após serem usados. Quem já viu um fim de festa em espaço público sabe do que estou falando! Para o catador de latinhas voltadas à reciclagem, excelente oportunidade de ganhar um dinheirinho. Inclusive na Beira Mar, apesar das lixeiras, muitos insistem em atirar o lixo no chão. Tenho ou não tenho razão de ficar aborrecido?
JOSÉ BORZACCHIELLO DA SILVA
Geógrafo e Professor da UFC
borza@secrel.com.br
Ano da Publicação: | 2009 |
Fonte: | http://www.opovo.com.br/opovo/opiniao/862649.html |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |