A Mafia sabe que o lixo pode valer uma fortuna

por

EMMANUELLE ANDREANI, Nápoles

SALVATORE LAPORTA-AP10 Janeiro 2008

A crise crónica do lixo em Nápoles. que atravessa actualmente um dos piores episódios, deve-se principalmente à mão da mafia local, a Camorra, no tratamento de dejectos, reforçada pela inacção das autoridades. “Esta crise é fruto da triste união da corrupção, que atinge em Nápoles um nível recorde, a um clima de impunidade e passividade da sociedade civil”, afirmou Massimiliano Marotta, advogado e membro da associação de defesa dos direitos dos cidadãos Napoli Assise.

“A Mafia sabe que o lixo pode valer uma fortuna e está presente em todos os processos”, acrescentou. Segundo este advogado, “a mafia infiltrou-se em várias sociedades que gerem a recolha e os centros de tratamento (CDR), onde ela colocou os seus membros ou os seus aliados ou tomou directamente controlo”.

Os CDR, pagos pelos municípios para recolher, fazer a triagem e compactar os dejectos em lingotes de plástico para serem incinerados, estão no epicentro da crise. Produziram milhares de toneladas de lingotes, mas na região não há incinerador: o primeiro estará pronto dentro de um ano. Esses dejectos são armazenados em aterros, saturados, nos próprios CDR, fechados por estarem cheios, ou em lixeiras selvagens nas mãos da Mafia, que cobra por isso.

Os dejectos urbanos juntam-se aos produtos perigosos sem respeito pelas normas. “As substâncias tóxicas e mesmo radioactivas infiltram-se no solo, com riscos para a saúde”, denuncia o geólogo Giovanni de Medici. “Uma vez acabado o incinerador, os lingotes voltam a beneficiar a Camorra. Ao queimá-los geram combustível, que a Itália considera como uma fonte de energia renovável, e por isso, alvo de ajudas estatais.”

“As sociedade que gerem os CDR recebem por isso dinheiro para produzir os lingotes, que são verdadeiras bombas ecológicas. É uma situação surrealista”, acrescenta. “Ora, nos CDR, os dejectos não são triados de forma regulamentar, e se os lingotes fossem queimados, libertaram dioxinas e substâncias tóxicas. Por isso, nenhuma outra região ou país quer encarregar-se de os queimar.”

“A Camorra sai a ganhar em todos os planos e tem todo o interesse em que a crise perdure, porque ganha muito em armazenar os dejectos em lixeiras ilegais e na recolha do lixo”, diz Francesco Iannello, da Napoli Assise.|Jornalista da AFP

Ano da Publicação: 2010
Fonte: http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=1000597
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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