A reciclagem e a crise econômica

"O órgão ambiental inglês estimulou as parcerias entre prefeituras e empresas de reciclagem a promover a participação popular para uma coleta mais eficiente. Para reduzir os impactos ao meio ambiente, há, inclusive, abertura para identificação de áreas alternativas para armazenamento dos materiais"
Por Beatriz Luz

A reciclagem é mais uma área da economia que sofre com a crise mundial. A queda do consumo, a constante diminuição da produção industrial nos grandes centros produtivos, a retração nos preços das commodities e, conseqüentemente, a redução da demanda por materiais recicláveis afetam diretamente a viabilidade econômica dessa prática em todo o mundo.

Na Inglaterra não é diferente. No caso dos plásticos, por exemplo, o material já rendeu até 200 libras por tonelada, mas, em questão de semanas, o preço caiu a zero. Com isso, a reciclagem ficou inviável economicamente, uma vez que não é possível sequer cobrir os custos de transporte do produto.

A infra-estrutura de reciclagem na Inglaterra, em geral, não é capaz de processar todo o material gerado no país. Muitas prefeituras e empresas de gerenciamento de resíduos e de reciclagem dependem diretamente do mercado asiático para chegar aos níveis necessários de reprocessamento. Com a drástica redução na produção de materiais recicláveis e, conseqüentemente, a queda do preço, empresas britânicas começam a estocar o material no aguardo de uma melhora do mercado.

A estocagem inadequada, porém, poderia causar problemas legais às empresas que excederem a capacidade permitida de armazenamento. Por isso, o governo teve de agir rapidamente, para evitar a disposição ilegal ou inadequada de resíduos e ainda dar apoio a prefeituras e empresas de reprocessamento de materiais.

Eficiência e prevenção – A situação demonstra a necessidade cada vez maior de melhorar a infra-estrutura de reciclagem no país. Quanto mais eficiente a coleta dos materiais e, conseqüentemente, a qualidade do que é reciclável, maior o valor que pode ser obtido pelo material, tanto no mercado interno quanto no externo. Aqueles que se tornarem mais eficientes e fornecerem o melhor serviço sobreviverão à crise.

O órgão ambiental inglês estimulou as parcerias entre prefeituras e empresas de reciclagem a promover a participação popular para uma coleta mais eficiente. Em determinadas circunstâncias, a instituição sinalizou até mesmo com a possibilidade de mudança na licença, para permitir maior armazenamento de materiais de forma temporária, durante o período em que o mercado está em baixa. Para reduzir os impactos ao meio ambiente, há, inclusive, abertura para identificação de áreas alternativas para armazenamento dos materiais.

O objetivo, portanto, não deve mudar: a prioridade deve estar sempre na não-geração de resíduos. Quando há dificuldade de reciclagem e reuso, a compostagem e a incineração podem ser consideradas, mas o foco na hierarquia dos resíduos e eficiência não deve ser perdido.

Enquanto, no momento, a fase é extremamente complicada, a perspectiva é a de estabilização e de melhora do mercado no futuro.

Materiais de qualidade sempre têm o seu lugar no mercado. O trabalho eficiente evita desperdícios e reduz custos – fatores críticos em um momento de crise.

As campanhas promocionais e todo o trabalho feito no país para o aumento da reciclagem não podem ser esquecidos.

À medida que novas empresas de reciclagem surgirem, haverá redução da dependência do mercado chinês e aumentará a demanda por materiais recicláveis. O governo tem uma visão promissora, visto que há uma série de novos projetos sendo aprovada.

Novos mercados – As políticas de apoio e incentivo ao reuso e à reciclagem tornam-se cada vez mais importantes em momentos como estes. A identificação de novos mercados, incentivo ao uso de materiais alternativos e desenvolvimento de normas técnicas, que ajudam a transformar resíduos em produtos, são atividades que vão ajudar a diminuir a geração de resíduos e vão contribuir para a redução de emissão de gases danosos ao meio ambiente. The Waste Protocols Project, por exemplo, é um programa financiado pelo governo britânico que cria normas de qualidade para determinar ¿quando, onde e como certos resíduos podem ser reutilizados sem causar danos ao meio ambiente¿.

A crise não foi suficiente para interromper as atividades desse programa, que já vem sendo desenvolvido com sucesso desde 2006. No dia 21 de janeiro de 2009, o programa lançou uma nova campanha para identificação de mais resíduos que possam ser reutilizados ou reciclados em situações predeterminadas.

Já foram pesquisados a aprovados onze materiais. As normas devem ser seguidas para garantir o uso eficiente dos materiais em situações específicas. Com as novas possibilidades, os benefícios estimados para a indústria nos próximos dez anos resultam em uma economia de até 400 milhões de libras, com novos mercados que podem valer até 280 milhões de libras. Estima-se a eliminação de até 17 milhões de toneladas de resíduos que seriam dispostos em aterros sanitários.

Os protocolos de qualidade ou normas tecnicas (Waste Protocols) são ferramentas essenciais à indústria, pois oferecem a garantia de que o uso do material será eficiente e sem riscos. Resíduos são transformados em matéria-prima uma vez que são processados e tratados de acordo as determinações do protocolo.

Se trabalharmos juntos, como foco e uma visão positiva e criativa, podemos vencer a crise e ainda gerar bons frutos neste momento tão difícil.

Beatriz Luz, engenheira Química pela Universidade Federal do Rio e mestre em Engenharia Ambiental pela Faculdade de Surrey, na Grã-Bretanha, trabalha como consultora ambiental na Inglaterra na área de uso eficiente de recursos.

Ano da Publicação: 2009
Fonte: http://www.setorreciclagem.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=785
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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