Os lixos que espalham confusão nas cidades, parques, praias e em todos os cantos transformam em deprimentes quaisquer partes do globo. Tornaram-se o símbolo da cultura de massa do descartável: barato, inútil, mesmo que passageiros obstinadamente não degradáveis e inassimiláveis. Estes subprodutos da indústria petrolífera são os ícones de uma economia industrial construída na super-exploração do petróleo e outros combustíveis fósseis que transformam o planeta literalmente num mundo do lixo terminal. Ocupar-se com os lixos plásticos adquiriu significância não longe diante da redenção derradeira.
O mundo consome 100 milhões toneladas de materiais plásticos – 36,8 milhões na Europa, 5 milhões no Reino Unido – e crescendo de 3 a 4 por cento a cada ano [1,2]. O maior setor isolado, 37,3 por cento, está nas embalagens. Há em torno de 50 diferentes grupos de plásticos com centenas de diferentes variedades.
A quantidade de lixo plástico gerado anualmente no Reino Unido estava estimada, em 2001, em 3 milhões de toneladas. Apesar de todos os tipos de plásticos podem ser reciclados, somente 7 por cento atualmente são. O restante são abandonados em aterros (80%) ou incinerados (8%). A maioria dos plásticos não são biodegradáveis o que significa que eles levarão um longo tempo para se decomporem, naturalmente.
Quantidades significativas de combustível fóssil são requeridas para se fazer plásticos, tanto como matéria prima como energia para fabricá-los. Em torno de 4 por cento da produção anual do mundo de petróleo são utilizados como matéria prima e outros 3 a 4% para fabricação.
A fabricação de plásticos exige uma boa quantidade de água, produzindo resíduos e a emissão de gases estufa. Envolve ainda a utilização de substâncias químicas perigosas, especialmente com o PVC (polivinil cloreto), o segundo tipo de plástico mais comum no mundo, gerando além disso substâncias tóxicas durante a fabricação [3,4]. Enterrando resíduos plásticos nos aterros ou queimando em incineradores cria ainda mais danos para a saúde e o ambiente (ver quadro).
A melhor maneira de cortar o lixo plástico é reduzir seu uso, eliminando as embalagens desnecessária e a reutilização de itens tais como sacolas plásticas, brinquedos, frascos de cosméticos etc. O melhor uso a seguir é reciclar.
PVC – O PLÁSTICO VENENOSO
PVC, polivinil cloreto, é o segundo plástico mais comumente empregado no mundo e causador de grandes problemas para a saúde e o ambiente. É a maior fonte de dioxina quando incinerado nas usinas ou em incêndios acidentais em prédios. A dioxina também é gerada durante o processo de fabricação e aditivos químicos tóxicos são incorporados aos produtos de PVC.
Os maiores empregos do PVC são para fabricar materiais como: cabos elétricos, esquadrias de janelas, forros, paredes, divisórias, condutores para fios elétricos e tubulações para fornecimento de água e esgotamento, pavimentos de vinil, portas pantográficas, piscinas para crianças, papel de parede, venezianas e cortinas de banheiro (box). Também está presente em produtos de consumo como cartões de crédito, discos de vinil, brinquedos (bonecas, mordedores e outros), mobiliário de escritório, prospectos (folders), colas, juntas e canetas. Na indústria automobilística como material de suporte, em hospitais como utensílios médicos e cirúrgicos, como imitação de couro e mobília de jardins.
A produção de PVC envolve o transporte de materiais explosivos perigosos tais como o monovinil cloreto (um carcinogênico) e gerador de lixos tóxicos, notavelmente o alcatrão dicloreto de etileno. Os resíduos de piche (ou alcatrão) contém enormes quantidades de dioxinas que quando incinerado ou aterrado dispersa dioxina no ambiente. Numerosos aditivos são incorporados no produto de consumo, incluindo amaciadores para torná-lo flexível, metais pesados como estabilizadores das cores e fungicidas. Dioxinas são geradas durante a fabricação que acaba indo junto com o descarte como lixo e algumas vezes no próprio produto ele mesmo. Plastificantes não ficam confinados ao plástico e podem lixiviar depois de algum tempo. Os plastificantes presentes nos pavimentos de vinil evaporam ficando em suspensão nos ambientes dos prédios. O mais comum deles é o ftalato DEHP (di(2-ethylhexyl)phthalate), é um carcinogênico suspeito e mais de 90% são empregados somente para fazer produtos de PVC flexíveis, incluindo brinquedos infantis e mordedores. Desde 1999, a União Européia proibiu os ftalatos em brinquedos que são levados à boca das crianças abaixo de três anos de idade [5].
A disposição final de produtos de PVC cria mais problemas. Se queimados em fornos abertos ou incineradores, eles liberam um gás tóxico em conjunto com a dioxina. Se aterrados, liberam aditivos que contaminam as águas profundas e os fogos em aterros envolvendo PVC são fontes adicionais de dioxinas.
TCDD (2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina), o membro mais letal da família das dioxinas, é um conhecido carcinogênico e disruptor hormonal e é reconhecido como o composto sintético mais tóxico jamais produzido. Todos os humanos e outros animais agora carregam uma carga de TCDD e outras dioxinas em seus corpos.
Vai a 3,2 milhões de toneladas de PVC o que é descartado como lixo nos EUA a cada ano, onde 70% consiste de embalagens e garrafas. O PVC é difícil de reciclar e contamina outros plásticos. Grupos ambientalistas mais atentos querem que ele seja gradualmente cancelado até a eliminação total.
RECICLAGEM DE LIXOS PLÁSTICOS ECONOMIZA ENERGIA E EMISSÕES DE CARBONO
A produção de sacolas para carregar compras oriundas da reciclagem em vez do polietileno reduz o consumo de energia em dois terços e produz somente uma terça parte do dióxido de enxofre e óxido nitroso. Reduz o uso de água quase que em 90%, além da emissão de dióxido de carbono duas e meia vezes. Para cada tonelada de polietileno reciclado produzida, 1.8 toneladas de petróleo são economizadas.[1]
A reciclagem pode ser feita mecânica ou quimicamente. No processo mecânico o lixo plástico é classificado, fundido, triturado ou transformado em grânulos e moldado em novos modelos.
Na reciclagem química, os polímeros dos plásticos são quebrados até seus monômeros que os constituem pelo tratamento a calor (despolimerização térmica) e poderão então ser novamente utilizados em refinarias ou na produção petroquímica e química. No Reino Unido não há nenhuma fábrica de reciclagem química em escala completa. De acordo com o Departamento de Indústria e Comércio inglês [2] o capital requerido para investimento é muito mais alto do que as indústrias de reciclagem mecânica.
Mesmo com a vasta possibilidade de aplicações dos plásticos reciclados, a atual tonelagem de lixo plástico que retorna ao ciclo de consumo de materiais reciclados ainda é relativamente pequeno. Corriqueiramente, plásticos reciclados são raramente empregados para embalar alimentos – o maior mercado isolado para plásticos – em razão da preocupação quanto à segurança alimentar. Outro constrangimento no emprego de plásticos reciclados é que, para ser economicamente viável, os processadores de plásticos requerem grandes quantidades de plásticos reciclados produzidos para especificação rigidamente controlada em relação a um preço competitivo quando comparado ao polímero virgem.
LEGISLAÇÃO SOBRE A RECICLAGEM
A Normatização sobre Embalamento e Resíduos de Embalagem 94/62 EC da União Européia, em 1994, intentou estabelecer a responsabilidade dos produtores quanto ao resíduo das embalagens. A norma foi implementada no Reino Unido através das Regulamentações das Obrigações da Responsabilidade do Produtor (Resíduo de Embalagens) de 1997 e pelas Regulamentações sobre Embalagens (Condições Essenciais) de 1998. A anterior coloca metas para a coleta e reciclagem dos resíduos de embalagens, incluindo resíduos plásticos de embalagens. O governo inglês proclamou a reciclagem nacional de embalagens e as metas de coleta para 2004 e anos seguintes. Isto exigiu 21,5% de resíduos plásticos a ser reciclado em 2004, aumentando para 23,5% em 2008.
O Programa de Ação sobre Resíduos e Recursos foi estabelecido no Reino Unido em 2001 para promover o manejo sustentável de resíduos. O foco particular do Programa de Ação é criar um mercado estável e eficiente tanto para os materiais reciclados como para os produtos.
Este Programa atinge especificamente um programa com resíduos plásticos.
O Departamento Inglês de Negócios para o Meio Ambiente, Alimentação e Rural colocou em ação, no ano passado, um plano para a coleta nacional de plásticos das fazendas e processo de recuperação, e as Regulamentações de Manejo de Resíduos serão aplicados para o lixo agrícola em 2005[7]. As propriedades rurais geram mais do que 80 mil toneladas de resíduos plástico a cada ano, como sacos de fertilizantes, de rações animais e embalagens de agroquímicos, filmes para silagem, cobertura e filmes para cultivos em plasticultura. A queima dos resíduos plásticos tanto ao ar livre como em tambores incineradores – a opção de disposição corrente entre a maioria dos fazendeiros – não deverá estar mais disponível no futuro.
TERCERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS PLÁSTICOS
Mas, o que realmente acontece às embalagens e garrafas plásticas que os consumidores ingleses diligentemente colocam em containeres de reciclagem para serem coletados pelas autoridades locais, e mais ainda, àqueles containeres que os supermercados, os maiores deles, que se acredita serem responsáveis pela reciclagem?
Foram excluídos já que mais de um terço de todo o resíduo de papel e plástico coletado pelas autoridades locais inglesas, supermercados e comércio para reciclagem foi enviado para mais de 8 mil milhas (mais ou menos 12 mil km) para a China [8]. A exportação para a China está alcançando as 200 mil toneladas de lixo plástico por ano. As cadeias de supermercado inglesas, algumas das maiores geradoras de resíduo plástico de embalagem na Grã-Bretanha, estão conseguindo fazer sua reciclagem na China. Grupos ambientalistas e membros do Parlamento estão chocados com a tremenda escala do negócio. Nenhum estudo foi feito com relação aos custos ambientais desta viagem dos lixos para a China.
Autor: Dr. Mae-Wan Ho
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, dezembro de 2005.
Ano da Publicação: | 2011 |
Fonte: | http://www.nossofuturoroubado.com.br/old/12te%20lixo.htm |
Link/URL: | http://www.nossofuturoroubado.com.br/old/12te%20lixo.htm |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |