A senhora do lixo

Alguma coisa estranha acontecia dentro de uma casa, em uma rua movimentada de um bairro nobre de São Paulo.



“A gente passava e não agüentava o mau cheiro”, diz a vizinha Mercedes Rezende. “Todo mundo brigava, chamava a prefeitura, mas ninguém vinha”, comentou a vizinha Bárbara Juliana.



Os vizinhos não agüentaram e chamaram a polícia. E sabe o que foi encontrado lá dentro? Mais de 200 toneladas de lixo!



A dona da casa é uma viúva, Dona Violeta, de 78 anos. Segundo os vizinhos, ela guardava lixo havia 18 anos.



“Ela sai com o carrinho pegar lixo em tudo quanto é canto. À noite, todo mundo vê”, contou a vizinha Bárbara Juliana.



Agora, Dona Violeta vai ser indiciada por crime contra a saúde pública. “São coisas que eu guardava. Que lixo nada! Não tinha negócio de lixo. Eram coisas minhas, coisas que a gente não pode jogar fora”, alegou Dona Violeta.



O Fantástico mostrou na série “Quem é normal?” que guardar velharias em casa pode ser sintoma de um distúrbio: o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Mas Dona Violeta pode sofrer de outra doença: síndrome de Diógenes. O nome é uma referência ao filósofo grego, que viveu no século 4 antes de Cristo.



Diógenes morava dentro de um barril, porque não queria depender da sociedade. Para isso, juntou um monte de objetos em volta dele.



“Ele começou a agregar coisas que, para os outros, era inútil, mas para ele era absolutamente indispensável em um momento de necessidade”, explica o psiquiatra da Faculdade de Medicina da USP.



O primeiro caso da síndrome de Diógenes foi diagnosticado em 1974. A doença geralmente atinge pessoas com mais de 60 anos, que moram sozinhas. São cinco casos registrados por ano em cada dez mil pessoas.



“Essas pessoas não se sentem doentes. Elas acham que é absolutamente normal, e que aquilo não é lixo”, acrescenta o psiquiatra.



Seu Félix tem 74 anos e mora sozinho em uma casa em Ribeirão Preto. Acumula entulho e carros velhos. A Vigilância Sanitária acompanha o caso dele há dez anos. “Ele revira os lixos e traz pra dentro de casa”, conta Devarlei Mastro, vizinho.



“A síndrome de Diógenes, inicialmente, foi descrita como síndrome que chama atenção dos vizinhos, porque pessoas do convívio não percebem”, alerta o psiquiatra.



Um dos filhos de Dona Violeta confirma que a mãe começou a acumular objetos inúteis logo que ficou viúva e passou a morar sozinha. Ele nunca não conseguiu convencê-la a se desfazer de nada.



“Ela falava que sabia o que estava fazendo, que eram coisas dela, que era para eu não me meter. Ela me repreendia”, lembra o filho de Dona Violeta.



Depois que descobriram o seu segredo, Dona Violeta foi internada para tratamento.

“Os sintomas se agravaram mais, porque deu uma sensação de perda. Realmente, ela está doente”, finaliza o filho de Dona Violeta