Arte surge do lixo

É por meio do reaproveitamento do lixo que a Escola Experimental Casa das Mangueiras transforma a vida de crianças e adolescentes nos bairros Vila Recreio e Ipiranga, Zona Oeste de Ribeirão Preto. Há 34 anos, a ONG trabalha com pessoas em situação de risco e, para evitar que entrem na criminalidade, usa a reciclagem e a arte para gerar renda.



"Eles recebem por tudo o que produzem. Não somos assistencialistas, não damos nada às crianças, apenas as ensinamos e as acostumamos a trabalhar", disse a diretora, Sueli Danhone. Criadas em 1989, as oficinas são hoje de três tipos: papel e parafina, tapetes e separação de material reciclável, sendo que todas trabalham com itens que iriam para o lixo.



A casa atende 150 crianças e adolescentes. Entre eles estão Jonathas da Silva Fernandes, 15 anos, e João Paulo Correia, 15. Os dois freqüentam a instituição há três anos e já passaram por todas as oficinas. Hoje trabalham na separação do lixo reciclado, obtido por meio da doação de moradores e empresas. Os oito adolescentes do projeto recebem uma bolsa de R$ 104. "Deixamos de ficar na rua e agora nos sentimos úteis e damos valor à vida", disse João Paulo. Todo o material é vendido, e o que iria para o aterro sanitário ganha nova utilidade. "O lixo separado vai para empresas e se torna conduítes, garrafas PET e papelão", disse João Batista Rosa, responsável pela oficina. Para obter os materiais, a instituição faz coleta seletiva com dois caminhões e uma Kombi.



A reciclagem não se limita à venda e a papéis velhos. Parafina de santuários e retalhos são transformados em arte. Na oficina de papelão e parafina, os jovens fazem álbuns, cadernos, blocos, cartões e velas.



Jovens ficam longe do crime



Fundada em 1973, a Casa das Mangueiras surgiu parar tirar adolescentes da criminalidade. "O tráfico de drogas era muito forte no bairro e precisávamos fazer algo", disse a diretora Sueli Danhonhe, uma das criadoras da ONG. "De 6 mil a 7 mil pessoas já passaram por aqui e de 70% a 80% delas abandonaram a criminalidade. Foi o primeiro projeto no Brasil a trabalhar com infratores em meio aberto". Além das oficinas, a Casa também oferece outras atividades, como cultivo da horta, aulas de teatro, dança, música, mandala e mangá. Os participantes também almoçam na instituição.



Reciclagem move projeto e dá dinheiro



A diretora Sueli Danhone disse que a reciclagem é a principal bandeira defendida pela Casa das Mangueiras e as oficinas são suas principais ações. A oficina de tapeçaria recebe 60 toneladas de retalhos de doação por mês e conta com o apoio da artista plástica Gláucia Petersen, que desenha os modelos e escolhe as tendências de cores. Segundo a educadora Carolina Gilberti Padial, as crianças e adolescentes que participam do projeto fabricam tapetes, bolsas e almofadas por encomenda e ficam com parte do valor da venda do que produzem.



Mariana de Oliveira, 13 anos, está há três na Casa. Ela, que demora de duas a três semanas para produzir um tapete, está satisfeita como as vendas. "Eu compro minhas roupas e coisas para o cabelo. O dinheiro ajuda na minha casa e eu aprendo uma profissão." Maicom Lopes, 14, também lucra. "Eu compro coisas para mim e já fiz tantos tapetes que até perdi as contas", disse.



Além de ensinar uma profissão, a oficina de separação de materiais recicláveis pode colocar os participantes no mercado de trabalho. Esse é o caso de Gislane Heloísa Moreira, 15. Ela está há seis anos na instituição e trabalha catando bolinhas no Centro Médico. "Arrumei um emprego por causa daqui, sem contar que saí da rua e agora sei fazer horta, bordar e cozinhar", disse.





Fonte: Gazeta de Ribeirão

Ano da Publicação: 2008
Fonte: http://www.reciclaveis.com.br/noticias/00808/0080818arte.htm
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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