Um terço de toda a comida que você compra vai direto para o lixo. Ou seja, a cada R$ 100 gastos em alimentos, R$ 30 são desperdiçados, conforme dados do Instituto Akatu. Num país em que 14 milhões de pessoas passam fome, segundo dados do IBGE, isso é no mínimo cruel. Veja bem: uma família que joga fora 350 gramas de comida por dia soma 10 quilos de desperdício em um mês, o suficiente para render uma bela refeição para 30 pessoas.
Você conhecia esses dados? Nem eu. Pois foi diante de pequenas barbaridades como essa que nasceu a campanha de TV do Akatu, veiculada desde janeiro passado, visando conscientizar a população sobre o conteúdo de nossas lixeiras. “Além do mais, a coleta e o tratamento dos restos jogados no lixo exigem investimentos que poderiam ser muito mais bem utilizados em educação, saúde ou transporte”, lembra Helio Mattar, diretor-presidente dessa entidade. A economista Luciana Chinaglia Quintão também não passou batido diante da situação. Consternada, fundou, em janeiro de 1989, a ONG Banco de Alimentos, que atua na cidade de São Paulo. A rotina dessa organização não governamental é fazer a coleta urbana de alimentos que, apesar de estarem em perfeitas condições, seriam descartados como sobra.
O fruto dessa colheita – que fique claro: não se trata de sobras deixadas em pratos – é distribuído em albergues, orfanatos, creches e asilos. Cabe à instituição que os recebe atestar a qualidade dos víveres. “Nestes anos de atividade, já salvamos do lixo mais de 2 milhões de quilos de comida” afirma Luciana. Hoje, a Banco de Alimentos recolhe 35 toneladas de alimentos por mês, beneficiando, nesse mesmo período, 22 mil pessoas, em 51 instituições sociais. São 692 250 refeições. Bravo!
As colheitas provocam polêmica – há quem tema a contaminação dos alimentos. A lei que regulamenta oprocesso de doação, batizada de Lei do Bom Samaritano, permanece encalhada no Congresso desde 1991. Enquanto isso, o movimento cresce e aparece. E, na sua casa, como anda a campanha contra o desperdício?
SUA VEZ
Para garantir que a comida que iria para o lixo chegará em perfeitas condições à mesa das entidades assistidas, a Banco de Alimentos oferece um treinamento aos doadores. Ensina técnicas de manipulação e armazenamento de alimentos, higiene e nutrição. Pensando em melhorar esse e outros serviços, viabilizando os custos operacionais com transporte, armazenamento e equipe, a ONG lançou uma campanha ancorada na figura do badalado chef Alex Atala. É ele quem explica que doando apenas R$ 9 por mês você estará alimentando uma pessoa por 30 longos dias. Que tal?
A cultura do excesso, que paradoxalmente conviveu com anos de fome e miséria, sempre olhou com complacência o desperdício. Mas, diante da nova consciência ecológica, parece que as coisas estão mundando.
Há um revival dos velhos (e sábios) conselhos das donas de casa de antigamente, quando o mundo não havia ainda passado pela experiência da fartura que rolou na segunda metade do século 20. Dicas de economia fazem parte da conversa nas rodas mais descoladas. Aproveitar os talos de couve, beterraba, brócolis e salsa, quem diria, é rotina até em cozinhas sofisticadas. Fritar cascas de batata para o aperitivo? Não há nada mais fashion! A Banco de Alimentos recuperou essa cultura culinária para somar forças à batalha contra o desperdício: navegue no site e pratique o consumo inteligente. Anote também os conselhos do Akatu:
– COMPRE BEM
Faça uma lista de compras que inclua sempre alimentos da época, pois têm melhor qualidade e preço.
– PRAZO DE VALIDADE
Preste atenção nos prazos de validade dos produtos, calculando a quantidade correspondente ao tempo de vida de cada tipo. Preste atenção também na qualidade do que está em oferta, pois tende a ser produto com menor vida útil pela frente.
– ALIMENTOS REGIONAIS
São normalmente mais frescos e baratos. Além disso, requerem menos transporte – o que provoca menos aquecimento da atmosfera, pelo gasto menor de energia.
– CARDÁPIO DA SEMANA
O maior desperdício doméstico verifica-se em frutas, legumes e verduras.
Planejar as refeições antes de ir ao supermercado permite comprar apenas o necessário e suficiente.
É isso e basta. Pequenas providências ajudam a reduzir os custos com alimentação, melhorar a qualidado do cardápio, cuidar do planeta, além de fazer você se sentir uma pessoa melhor.
Autor: Marina Cardoso
Revista Bons Fluidos – 06/2009
Ano da Publicação: | 2011 |
Fonte: | Planeta Sustentável |
Link/URL: | http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/lixo/conteudo_474043.shtml |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |