Bioplástico a partir da cana-de-açúcar

Segundo os pesquisadores, além da utilização de bactérias, também se pode produzir bioplástico a partir da fermentação, utilizando levedura. Foram feitas, ainda, experiências com o milho, o algodão e outras plantas-modelo, como o tabaco e Arabidopsis thaliana, que é uma planta daninha. Mas, muito mais na parte experimental, nada industrial. E existe uma terceira linha de pesquisa, à qual Heique está mais diretamente ligada, que é a produção do bioplástico em cana-de-açúcar.

“Meu objetivo é utilizar os genes responsáveis por essa rota metabólica e introduzi-los na cana-de-açúcar. Porque a cana-de-açúcar produz biomassa muito grande e o Brasil é o maior produtor mundial. A planta utilizaria o CO2 e a luz solar como fonte de carbono e energia para a produção desse polímero. Não necessitaria colocar um substrato, como a glicose ou a sacarose, na cultura. E isso baratearia bastante.”

Quase todos os procedimentos são feitos em laboratório. A exceção é o cultivo da cana-de-açúcar não-transgênica, que é feito no herbário do Campus do Vale. São 23 potes com três cultivares (variedades de uma mesma espécie). Duas foram desenvolvidos no Brasil, pela Copersucar (as cultivares 185 e 3280) e já foram transformados geneticamente. A outra (a cultivar Q117) foi desenvolvida na Austrália.

Heique usa essa cultivar australiana porque ela já foi muito bem estudada. “Retira-se um pedaço da planta, que é colocado num meio chamado de indução de calos, onde as células que são diferenciadas se desdiferenciam. Esse aglomerado de células será transformado geneticamente por metodologias de laboratório; e a massa desdiferenciada volta ao estado diferenciado quando colocado em outro meio de cultura.”

Ela explica que o resultado obtido num laboratório nem sempre é obtido em outro, porque as condições, os aparelhos e o manuseio podem ser diferentes. “Então, o que estou tentando neste momento é melhorar as condições para a transformação genética. Eu já consegui transformar a cana-de-açúcar em laboratório, só que num nível ainda muito baixo.”

TEMPO E DINHEIRO

Entre outras qualificações humanas, o trabalho que Heique e Diego estão realizando exige paciência. Diego compara o que está sendo feito com a construção de um avião. “Antes de construir um avião, é preciso conhecer a mecânica do vôo e todas as lei que a regem. A mesma coisa se faz nesse tipo de pesquisa: é preciso conhecer todos os parâmetros biológicos antes de começar a produção de bioplástico em escala industrial.”

Heique sabe que as coisas andam devagar e não mede o tempo em dias e sim em anos: “Vamos continuar na pesquisa básica durante mais alguns anos. Esperamos que as indústria se interessem e venham a financiar esse tipo de projeto.”

Ano da Publicação: 2008
Fonte: http://www.ufrgs.br/jornal/agosto2002/pag13.html
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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