Carnaval: do luxo ao lixo urbano

Uhhuuuuu!!!! Chegou o carnaval. Uma beleza. Tem gente que trabalha o ano todo só pensando no carnaval. E tem gente também que trabalha o ano todo para o carnaval. Eu também gosto do carnaval. Ou melhor, adoro o que a data me proporciona, descanso com tranqüilidade numa cidade que amo. Mas que excomungo todos os dias ao ficar horas parada no trânsito da Marginal. Nestes dias de “folia”, sinto a cidade que escolhi para morar mais minha. Posso deitar na rede da varanda, só ouvindo o canto dos pássaros. Nada de buzinas e barulhos de ônibus e caminhões descendo a avenida.

Pois é. Como nada é perfeito, é na rede que perco esta mesma tranqüilidade. Sim. O carnaval me tira a paz de espírito. Só de imaginar o rastro da folia que vou encontrar espalhado pela cidade na Quarta-feira de Cinzas, fico com o estômago revirado. Entra ano sai ano, entra prefeito, sai prefeito e a palhaçada continua.

Carros alegóricos construídos para rodar apenas uma noite e unicamente nos 40 e poucos minutos de desfile no Sambódromo, na zona norte da capital paulista. Depois disso, impraticáveis, são largados onde quebram. Ou onde acharem conveniente. Assim, convivemos, nos meses seguintes, com a decomposição lenta de um monte de ferros enfeitados com algum brilho de papel laminado. É a morte pública e lenta daquele que foi o palco da fantasia, de musas, de lágrimas e sorrisos. Uma ingratidão das escolas, que delega à cidade o ônus de presenciar este triste espetáculo.

Acho lindo a mídia dar o maior ibope para a “folia”, para o povo que “trabalha duro no barracão” para fazer do carnaval de São Paulo um dos mais bonitos do País. Mas essa mesma mídia se esquece de mostrar, nos dias seguintes aos desfiles, o lixo que essa turma deixa pelo caminho. Entenda-se aí, Marginal Tietê e ruas do entorno. Sim, a mesma Marginal que me tira do sério pelos congestionamentos noturnos.

Cadê a reportagem da Globo e da Bandeirantes, por exemplo? Cadê a reportagem do Estadão, que fica ali ao lado do Sambódromo? Cadê o pessoal da Folha? Ninguém fala nada? Por que? Porque a mídia quer mostrar que São Paulo também sabe fazer carnaval “quase como o Rio”. Que mostrem também que para fazer carnaval igual ao do Rio falta comer muito feijão. E saber onde cagar seus dejetos.

Mas sabe porque isso acontece? Porque a Prefeitura não liga. Porque ninguém está nem aí… Porque o carnaval já gerou seus milhões para os cofres públicos e também para os das escolas. Porque seria muito fácil fazer um sistema de identificação destes carros alegóricos para que as escolas que os largassem pela rua fossem multadas. Multas milionárias. E que esse dinheiro fosse revertido para associações e cooperativas de reciclagem de lixo. Boa idéia, não? Então vamos botar a boca no mundo. Vamos reclamar. São Paulo não precisa de mais lixo espalhado pelas ruas.

Vou me dispor a fotografar o lixo carnavalesco de 2009 e espero que mais pessoas também o façam. E publiquem aqui. Quem sabe assim conseguimos mudar este quadro lamentável. Já que até hoje nenhum prefeito percebeu que isso acontece, vamos mostrar.

A hora é agora!!!