Todos os dias, pelo celular, Enildo Paulino recebe as cotações do dólar e dos mercados. “As Bolsas da Ásia tiveram quedas históricas”, dizia o catador de latinhas, preocupado com os negócios que lhe rendem, por mês, R$ 400 em média. Aos 45 anos, “seu Nenê”, como é conhecido, segue religiosamente o mercado financeiro. Graças ao câmbio, espera obter agora melhor preço por seu produto. “Com o dólar a R$ 2,31, consegui R$ 4,60 pelo quilo da latinha. Antes da alta, pegava R$ 3,50”.
Morador de uma favela em Osasco (Grande São Paulo), Paulino usa as informações para negociar melhor com os ferros-velhos, a quem vende pessoalmente seu produto.
“Se a gente chega desinformado, o comprador paga menos”. Para maximizar os rendimentos, criou uma base de dados de compradores e telefona a todos para descobrir as melhores ofertas.
Com isso, o valor que diz obter chega a superar o das cooperativas, que negociam volumes maiores.
Três entidades ouvidas pela Folha chegaram a vender o quilo da latinha por R$ 2,90 no ano passado e viram o preço subir. Mas, nos três casos, o máximo pago pelos intermediários foi de R$ 3,50/kg. A alta deve-se não só ao câmbio, mas ao desempenho do alumínio na crise das commodities (cujo preço é cotado em dólar). Enquanto o valor do níquel desabou 28% no último mês, o do alumínio caiu 12%.
“Tenho um papel nessa cadeia”, diz Paulino. Além de acompanhar notícias na TV (comprada a prestações) e pelo celular, ele lê todos os jornais que recolhe no lixo. E comenta o noticiário: acha “importante para a humanidade e para os negros” a candidatura de Barack Obama.
Fonte: Gisele Lobato (Folha de S.Paulo)
Ano da Publicação: | 2008 |
Fonte: | http://www.reciclaveis.com.br/noticias/00810/0081015bolsa.htm |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |