O catador de materiais recicláveis Douglas Moreira Pires da Silva, 33, passou a frequentar em agosto um curso na USP (Universidade de São Paulo) para certificá-lo como reciclador de computador e aparelho celular.
Ganhando em média R$ 450 por mês com a reciclagem de papel, papelão, plástico, ferro e sucata, espera aumentar sua renda para até R$ 800 com a nova atividade na cooperativa em que trabalha, na Grande São Paulo.
“Antes, a gente recebia um computador e vendia como sucata a R$ 0,30. Agora, a gente consegue até R$ 8 com um quilo de processador”, disse Silva, que é casado, pai de dois filhos e mora com a mãe, também catadora.
Ainda sem uma definição oficial da responsabilidade sobre o lixo eletrônico, universidades de São Paulo e do Rio apostam nessa classe de trabalhadores para dar a correta destinação aos equipamentos que já estão sem uso.
Na USP, até agosto, 169 catadores de 60 cooperativas fizeram o curso (15 turmas) oferecido em parceria com a Petrobras. Na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o curso é dado por meio de uma incubadora tecnológica de cooperativas populares.
“Os catadores aprendem a lidar com o material eletrônico e conseguem se tornar referência para descarte correto e aumentar a renda”, disse Walter Akio Goya, professor do curso na USP.
A lógica do curso é comum a todos os participantes. Acostumados a trabalhar apenas com papel, papelão, plástico, ferro e sucata, os catadores aprendem a separar as peças dos equipamentos e vendem por valor mais alto.
Uma tonelada de lixo eletrônico gera 350 kg de ferro, 170 kg de cobre, 150 kg de fibras e plásticos, 70 kg de alumínio e 25 kg de chumbo, e de 300 gramas a 1 quilo de prata, 300 gramas de ouro e de 30 a 70 gramas de platina.
Mãe de três filhos, a catadora Joana D´arc Cardoso, 28, disse que se surpreendeu com os riscos à saúde ao manusear um equipamento sem conhecimento. “Agora que sei, vou fazer o melhor trabalho e ganhar mais”, disse.
Ela pertence a uma cooperativa da zona norte de São Paulo. Quando o trabalho estiver a todo vapor, espera receber até R$ 2.000 por mês.
Tesoureiro de uma cooperativa em São Paulo, Walison Borges da Silva, 27, fez o curso há 14 meses. A renda obtida com o trabalho é depositada numa poupança. No final do ano, eles dividem o recurso com os 24 cooperados.
“Os computadores vêm de empresas e da própria comunidade. Se recebemos mais, temos condições de aumentar a nossa renda”, disse. Numa das vendas, os cooperados faturaram R$ 4.000.
LÍDER ENTRE EMERGENTES
A Política Nacional de Resíduos Sólidos responsabilizou os fabricantes pelo descarte do lixo eletrônico.
Atualmente, se discute a gestão compartilhada entre o fabricante, o comerciante e o usuário. As regras têm de ser implementadas em um prazo de dois anos –até 2014.
O descarte de computadores e celulares no Brasil é um problema. De acordo com dados das Nações Unidas, o país é o maior entre os emergentes –considerando inclusive China– na produção per capita de lixo de computador: 0,5 quilo por ano.
CONTAMINAÇÃO
Sem áreas de destinação adequadas, os equipamentos acabam em lixões, contaminando o ambiente.
“Só fazendo muita pressão é que poderemos ter uma política séria nessa área”, afirmou a coordenadora do projeto na USP, Tereza Cristina de Brito Carvalho.
No Cedir (Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática) da USP chegam por mês, em média, 12 toneladas de equipamentos que passam por triagem e são recuperados ou desmontados.
Os computadores recuperados são doados a instituições para auxiliar na educação digital.
Oitocentos equipamentos já foram entregues, segundo a coordenadora do projeto. Aqueles que não têm recuperação são encaminhados para a reciclagem.
Ano da Publicação: | 2012 |
Fonte: | Folha de São Paulo |
Link/URL: | http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1154573-catadores-apostam-em-reciclagem-de-lixo-eletronico.shtml |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |