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Neste artigo, argumento que, devido à vulnerabilidade institucional das agências ambientais e
à limitada capacidade técnica encontradas nos países periféricos, nessas regiões ainda não se
deve considerar a co-incineração de resíduos industriais em fornos de cimento como uma
atividade adequada do ponto de vista social e ambiental. Esse argumento é baseado em uma
extensa revisão bibliográfica sobre co-incineração, e apresentado em três etapas.
Primeiramente, analiso a literatura sobre co-incineração em fornos de cimento em países
industrializados e mostro que, mesmo nesses locais, a co-incineração ainda apresenta
incertezas e riscos para o meio ambiente e para a população que vive no entorno das plantas
industriais. Em um segundo momento, discuto os problemas de saúde ocupacional e
ambiental da produção de cimento em países periféricos. Esses exemplos são ainda
complementados pela descrição de algumas experiências de co-incineração em países
periféricos realizadas por agências de desenvolvimento internacional. Todos os casos
descritos sugerem que as empresas de cimento nos países periféricos dificilmente têm
capacidade técnica de garantir o funcionamento adequado dos seus equipamentos para a
queima de resíduos. Por fim, avalio em mais detalhes, a realidade da co-incineração no Brasil:
comento o crescimento recente dessa prática no país, comparo aspectos da legislação nacional
com a experiência de países industrializados, e analiso alguns casos descritos na literatura
nacional que mostram práticas inadequadas de diferentes empresas. Concluo o artigo
defendendo a necessidade de um fortalecimento institucional das agências ambientais e dos
canais de participação social, para que estado, empresários e sociedade possam reavaliar e
rediscutir a os riscos e as incertezas da co-incineração de resíduos industriais em fornos de
cimento no Brasil.