À primeira vista, é difícil imaginar que José Carlos, um homem magro, de estatura baixa e andar calmo, cruza em média sete bairros de Santos todos os dias carregando até 250 quilos com a força dos braços – e uma ajudinha de todo o peso do corpo. Carrinheiro, vive do recolhimento informal da reciclagem de lixo que encontra nas ruas de Santos. José Carlos do Nascimento, de 44 anos, é um dos 250 carrinheiros cadastrados pelo Município que evidenciam que os números do material reciclado na cidade estão subestimados.
Se cada um recolher 150 quilos de resíduos reaproveitáveis por dia, em uma estimativa conservadora, são retiradas das ruas 1.125 toneladas de lixo por mês, oito vezes o total recolhido pela coleta da Prefeitura de Santos. Somam-se a esses trabalhadores as cooperativas de reciclagem, que geram renda em comunidades carentes, e os caminhões que, por conta própria, também recolhem o lixo reaproveitável nos bairros em dias da coleta oficial, com o objetivo de vender e ganhar dinheiro.
O resultado é uma cadeia de agentes que, se tivesse a Prefeitura como parceira, poderia incentivar ainda mais a reciclagem e diminuir o custo do Município com a coleta, que atualmente é a mais cara do Brasil, conforme apontou pesquisa do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre).
Em 2007, saíram dos cofres públicos US$ 587,09 por tonelada recolhida. Atualmente, as 200 toneladas de lixo reciclável coletadas mensalmente representam menos de 2% do total de lixo produzido pelos santistas. Municípios que já contam com coleta seletiva avançada reciclam 10% de seus resíduos. Acontece que, contabilizada a coleta informal só de carrinheiros, Santos se aproxima desse percentual. Foi com a incorporação de carrinheiros e organizações não-governamentais ao processo de coleta oficial de lixo limpo que Londrina, por exemplo, conseguiu reduzir os custos e aumentar a quantidade de resíduos recolhidos. A cidade paranaense paga US$ 21,76 por tonelada (28 vezes menos do que o lixo santista) e coleta 3.576 toneladas por mês.
Mas José Carlos e todos os outros carrinheiros não têm apoio de ninguém no trabalho. Ao contrário: seguem o calendário de coleta da Prodesan e procuram chegar aos bairros antes do caminhão da empresa. Para trabalhar, obedecem os horários estabelecidos pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que, na maioria, se restringem à noite e madrugada. José Carlos sai de casa de madrugada e trabalha até as 14 horas. A parada final é um ferro-velho na Rua São Francisco, que paga R$ 0,17 pelo quilo de papelão, R$ 0,30 pelo quilo da garrafa pet e R$ 0,15 pela mesma quantidade de plástico.
– Esse é o que paga melhor – contou.
Por mês, ele chega a ganhar R$ 800,00, o suficiente para pagar o aluguel do quarto em que mora sozinho, mandar dinheiro para as filhas, que continuaram no interior do estado, e se sustentar. Seu carrinho traz o número de registro e o telefone da CET de Santos na parte traseira.
– A gente trabalha direitinho, mas tem muitos carrinheiros que não são registrados (na CET e na Secretaria de Assistência Social).
Cooperativa rende menos
Lixo é um negócio bem menos lucrativo para moradores da Vila Nova e do Paquetá que fazem parte da Cooper Sampa Litoral, uma cooperativa que começou em São Paulo e chegou a Santos há três anos. As 10 toneladas recolhidas todo mês de 30 locais, entre empresas e condomínios, não chegam a render R$ 200,00 para cada um dos 10 cooperados. A cooperativa fica em um galpão alugado por R$ 1.200,00 mensais na própria Vila Nova. Depois de coleta e triagem, um caminhão da cooperativa leva o material para a Capital. Mesmo ganhando pouco, Ana Maria Sabo acredita no seu trabalho.
– Eu sofria muito catando papel na rua. Era muito sacrifício – diz José Carlos do Nascimento, de 44 anos, é um dos 250 carrinheiros cadastrados no município.
O secretário municipal de Meio Ambiente, Flávio Rodrigues Corrêa, reconheceu que a
Ano da Publicação: | 2008 |
Fonte: | http://www.reciclaveis.com.br/noticias/00805/0080513santos.htm |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |