Para muitas pessoas, a idéia de construir de forma integrada ao meio ambiente pode remeter a casebres rústicos no meio do mato, com total renúncia aos confortos da vida moderna. Nada que se aproxime de inovações tecnológicas em reciclagem de materiais, reutilização de água, sistemas combinados de eficiência energética e outras soluções criativas.
Pois é essa imagem que o movimento da construção sustentável quer reverter. E difundir maneiras de construir com menor impacto ambiental e maiores ganhos sociais, sem, contudo, ser inviável economicamente. "De forma geral, pode-se aumentar a sustentabilidade de qualquer empreendimento sem aumento de custos", avalia o professor e pesquisador Vanderley John, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), e um dos arautos do movimento no Brasil. "As construções planejadas com esse viés podem ser mais caras, por adotarem novas tecnologias que ainda não têm escala. Mas, mesmo assim, trazem benefícios em redução dos custos de manutenção", frisa. John ressalta que o conceito abraça o tema da responsabilidade social e inclui o respeito às normas trabalhistas na contratação de mão-de-obra, a existência de condições adequadas de segurança para os trabalhadores e o uso de materiais de construção produzidos dentro da legalidade. "Sabemos que no Brasil existe a concorrência de uma indústria ilegal de materiais de construção que não paga impostos", observa.
O embrião da construção sustentável foi o conceito de green building, que surgiu na Europa e nos Estados Unidos a partir da década de 1970. Com a crise energética decorrente dos altos preços do petróleo no mercado internacional, os construtores passaram a pensar modos de se construir de forma mais amigável ao ambiente, com uso de fontes alternativas de energia, como a solar. Nos anos 1980, houve o "boom" dos sistemas de avaliação da performance ambiental dos edifícios, o que fortaleceu o movimento.
Após pesquisas de mercado que apontaram o nicho de mercado dos consumidores conscientes, a construtora Setin resolveu apostar num empreendimento com esse perfil. Lançou, em outubro do ano passado, o Mundo Apto, que agrega fundamentos da construção sustentável a um conjunto de residenciais urbanos em São Paulo. Os dez edifícios que serão erguidos terão coleta seletiva dos resíduos e aquecimento de água misto (energia solar e gás), que, segundo a empresa, possibilita uma redução de custos da ordem de 80%, se comparados aos gastos com energia elétrica.
Os edifícios terão ainda sistema de reuso de água – a água dos chuveiros e lavatórios, após tratamento, volta para abastecer os sanitários e as torneiras das áreas comuns. Isso possibilita uma economia de água da ordem de 35% e confirma uma tendência ainda incipiente, mas já identificada em cidades que sofrem com problemas de abastecimento. E tudo isso não custa mais caro para o consumidor, garante Antonio Setin, presidente da Setin. "Um empreendimento com viés sustentável tem investimento de 5% a mais, que acaba sendo amortizado com a economia nos custos operacionais", diz.
Para Setin, construir de modo sustentável "tem um valor social muito grande", mas o consumidor não está disposto a pagar a mais por isso. Não obstante o ganho ambiental, os apartamentos do Mundo Apto seguem as tabelas do mercado para dois e três dormitórios e custam a partir de R$ 115 mil. "É uma questão estratégica. Se o projeto sair mais caro, não é sustentável, pois precisa ser viável em um mercado como o brasileiro", avalia o professor e pesquisador Vanderley John, da Poli-USP.
Com proposta diferente, mas conceito semelhante, as construtora Y.Takaoka e JAG lançaram os condomínios de lotes residenciais Gênesis I e II, localizados em uma área remanescente de Mata Atlântica, em Santana do Parnaíba. A boa aceitação do primeiro residencial, lançado em 2002 e entregue no ano passado, levou os constru
Ano da Publicação: | 2005 |
Fonte: | www.reciclaveis.com.br |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | bulletin@residua.com |