DE GRÃO EM GRÃO

Iniciativas de sucesso desenvolvidas por comunidades, empresas e instituições da Grande Florianópolis comprovam a viabilidade da coleta seletiva e reciclagem do lixo



Morador monta bicicleta com sucata



Antes de ir trabalhar no Centro de Triagem da Coleta Seletiva do Pântano do Sul, o pintor Itamar Alves da Silva, 32 anos, não tinha o hábito de separar o lixo. “Eu pensava que tudo era lixo. Só depois que vim para cá é que eu vi que não é bem assim. Aqui se aproveita tudo”, diz Itamar. Para provar que não fala só da boca para fora, Itamar mostra a bicicleta que montou com um quadro e dois aros que encontrou no lixo. Ele conta que só não conseguiu desentortar um dos aros e teve que pagar R$ 8,00 numa oficina. “Antes eu vinha trabalhar a pé e agora posso vir de bicicleta”, comemora.



A próxima empreitada de Itamar é montar um carrinho de cachorro-quente. A base é a caixa de uma máquina de lavar e a alça para empurrar o carrinho foi tirada de uma cadeira de praia. As rodas também foram encontradas no lixo. Itamar acredita que só vai precisar comprar o alumínio para revestir o carrinho. “É a única coisa que eu vou gastar”, gaba-se. “Sempre quis ter um carrinho de cachorro-quente mas não tinha condições de comprar”, conta Itamar, que já faz planos de vender cachorro-quente à noite para aumentar a renda da família de cinco filhos.





Bairros eliminam

coleta convencional



Lixo Zero. Esta é a proposta dos moradores da Praia do Forte e de Jurerê Internacional, no Norte da Ilha de Santa Catarina, que eliminaram completamente a coleta convencional e passaram a selecionar todo o lixo produzido. O sistema é simples. Os moradores só precisam dividir os resíduos em três sacos diferentes: lixo reciclável, lixo orgânico e rejeito. Todo o lixo é levado para um centro de triagem, onde é feita a separação do reciclável para posterior comercialização. O lixo orgânico é transformado em húmus num sistema de compostagem. Os únicos resíduos que são transportados pela Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap) para o aterro sanitário são os rejeitos, o lixo tóxico e o lixo de banheiro.



O programa Lixo Zero foi implantado na comunidade em novembro do ano passado, quando a coleta convencional começou a ser gradativamente eliminada. A iniciativa conta com a participação da Comcap e de instituições comunitárias e empresariais que formam o Grupo Gestor do programa. A expectativa é que Jurerê Internacional e Praia do Forte reciclem 80% da sua produção média diária de 4 mil quilos de lixo. Um levantamento do lixo produzido na comunidade mostrou que 45% dos resíduos são orgânicos e 35% são inorgânicos recicláveis. Para a Comcap, o programa funciona como um projeto piloto que poderá ser implantado em outras comunidades.





Triagem é

executada por voluntários



No Sul da Ilha, a coleta convencional ainda não foi dispensada mas a comunidade do Campeche e do distrito do Pântano do Sul têm programas de coleta seletiva que merecem aplausos. Nas duas localidades, o trabalho partiu da própria comunidade, preocupada com a saúde e qualidade de vida dos moradores. “Em setembro de 1995, a população se preocupou com um surto de hepatite e o lixo foi apontado como uma das prioridades na busca por uma melhor qualidade de vida”, conta Vera Bicca, coordenadora de projetos do Movimento Pró-qualidade de Vida do Distrito do Pântano do Sul, responsável pela coleta e triagem do lixo reciclável.



No início deste ano, o projeto ganhou um impulso com a instalação de um centro de triagem na comunidade da Armação. Todas as quintas-feiras, dia da coleta seletiva, voluntários se reúnem no galpão da triagem para fazer a separação dos materiais. “Estamos fazendo a parte prática da Agenda 21”, afirma Vera, referindo-se aos compromissos assumidos durante a Eco 92, realizada no Rio de Janeiro. Os voluntários sonham com uma prensa para reduzir o volume do material estocado e aumentar o valor dos materiais.<

Ano da Publicação: 2004
Fonte: A Notícia
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: tarbell@uol.com.br

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