Descartar lixo requer manual de instruções – no Japão

Enquanto no Brasil ainda são poucos os que pensam duas vezes antes de colocar uma garrafa PET no lixo, no Japão, reciclar é obrigatório –e complicado. Lá, cada prefeitura decide quantas categorias de lixo terá, e são ao menos cinco: de materiais incineráveis, não-incineráveis, garrafas PET, latas de metal e alumínio e vidros



Na cidade de Yokohama, por exemplo, há dez tipos. Para livrar-se de uma garrafa PET é preciso lavar o interior, amassar e colocar em um saco plástico semitransparente, antes de deixar para a coleta. Rótulo e tampinha vão em um segundo saco, destinado a peças plásticas pequenas.





Parece complicado? Livrar-se de uma prateleira é muito pior. Se ela for de madeira e medir menos de 50 centímetros, entra na categoria de incineráveis. Se for maior, deve-se pedir à prefeitura que venha retirá-la. Se o lado mais comprido tiver até um metro, a taxa será de 1.000 ienes (aproximadamente R$ 16). Se for maior, de 1.500 ienes (cerca de R$ 24).



Sim, grande parte das cidades realmente têm manuais de instruções para os novatos, e os estrangeiros são os que mais sofrem. Em Komaki, onde há 11 categorias de lixo –algumas recolhidas só uma vez a cada duas semanas–, o transtorno fica evidente pelo número de idiomas que há no DVD com as explicações sobre cada lixo. São cinco: português, espanhol, inglês e chinês, além de japonês.



“É uma neurose. Eu morava em Hiroshima e, lá, são oito tipos de lixo. Só que alguns são recolhidos a cada duas semanas e, uma vez, não deu para guardar o lixo por uma semana. Eu coloquei na data errada, e os lixeiros não levaram. Todos os vizinhos sabiam que era o meu lixo que tinha ficado lá. Mudei agora para Kawasaki, onde há apenas três tipos de lixo. Estou no paraíso”, conta o professor de inglês, Edelson Barbieri Finozzi, 41.



“Eu acho que separar o lixo é só uma questão de hábito. O problema é quando não estou em casa em dias de coleta de lixo incinerável, que contém restos de comida. Se perco o dia, fico com o lixo guardado dentro de casa por uma semana. Por isso, sempre penso na escala da coleta de lixo antes de marcar uma viagem”, conta a engenheira de alimentos Fernanda Ushikubo, 27, que estuda no Japão.



Cultura da reciclagem

Para a engenheira ambiental Ana Paula Gomes Ferreira, 33, que vive em Okinawa há três anos e elabora uma tese de mestrado sobre utilização de energias renováveis, o sistema de coleta de lixo do Japão funciona por causa da “cultura de reciclagem” que foi criada durante anos. “Os japoneses aprendem a separar o lixo desde pequenos.”



Ela afirma que a reciclagem minuciosa é necessária porque, no Japão, “falta espaço para tudo”. Com o detalhamento dos materiais recicláveis, o Japão, que importa quase toda sua matéria-prima, pode reutilizá-la em vez de importá-la novamente, em sua totalidade. Outra vantagem é a potencialização da incineração. “Com a incineração, o volume de lixo gerado diminui, e os poucos aterros sanitários existentes duram muito mais.”



Segundo um relatório divulgado pelo Ministério do Meio-Ambiente do Japão, em 2005, cerca de 80% das 53 milhões de toneladas de lixo doméstico geradas foram incineradas.



Para os preguiçosos, o Japão aponta uma saída: pagar. “Uma amiga mora em um prédio onde a maioria decidiu não separar o lixo. Desta forma, cada condômino paga 2.000 ienes [uns R$ 32] por mês para uma empresa que faz a separação”, conta Ferreira.



fonte: www.folha.com.br

por GABRIELA MANZINI



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Ano da Publicação: 2008
Fonte: http://www.setorreciclagem.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=681
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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