Descaso com destino de resíduos é antigo

Embora o descaso do ser humano com o destino dos seus resíduos seja bastante antigo – consta que nas cidades medievais os cidadãos iam elevando os telhados das suas casas à medida que o lixo amontoado aumentava o nível da rua -, foi no século 20 que o desenvolvimento da indústria e a evolução nos hábitos de consumo fizeram o problema do lixo urbano tornar-se tão complexo. Para Lester Brown, do Worldwatch Institute, além do uso energético de combustíveis fósseis, o aumento amplo no uso de materiais foi um dos fatores que marcaram o desenvolvimento econômico no século 20.

Só o uso de metais passou de 20 milhões de toneladas anuais para 1,2 bilhão de toneladas, entre 1900 e 1999; o uso de papel, só entre 1950 e 1996, aumentou seis vezes, chegando a 281 milhões de toneladas por ano; a produção de plástico, quase desconhecido em 1900, chegou a 131 milhões de toneladas em 1995; em 1900, apenas 20 elementos naturais da tabela periódica eram utilizados pela economia humana, que hoje encontra utilidade para todos os 92 elementos.

Os números impressionantes apresentados por Brown no livro “Estado do Mundo – 1999” (UMA Editora, 1999) não param aí. No início do século 20, o mundo tinha “alguns milhares” de automóveis, que em 1999 já somavam 501 milhões. Como conseqüência da era da informática, desenvolveram-se as tecnologias da comunicação: as linhas telefônicas convencionais eram 89 milhões em 1960 e 740 milhões em 1996; os telefones celulares, 10 milhões em 1990 e 135 milhões apenas seis anos depois; em 1950, havia aparelhos de televisão em 4 milhões de domicílios, contra 1 bilhão na virada para o século 21; os computadores ligados à Internet, que eram 376 mil em 1990, passaram para mais de 30 milhões em 1998.

Para Brown, as estatísticas apontam que a urbanização é a tendência demográfica dominante no encerramento do século 20: em 1900, 16 cidades do mundo tinham 1 milhão de habitantes ou mais, e cerca de 10% da humanidade habitavam as cidades. Hoje, 326 cidades possuem cerca de 1 milhão de habitantes e 14 megacidades têm mais de 10 milhões de pessoas.

“Se as cidades continuarem a crescer como projetado, mais da metade de nós estará morando nelas em 2010, tornando o mundo mais urbano que rural, pela primeira vez na história. Efetivamente, nos tornaremos uma espécie urbana, longe de nossas origens caçadoras/colhedoras e mais separados do que jamais estivemos das nossas bases naturais”, observa.





Panorama



Esses dados compõem o panorama que Brown chama de “aceleração da história” – os grandes acontecimentos do século 20 ocorreram num período que corresponde a apenas 1% do tempo, desde que a humanidade iniciou a prática da agricultura. Com a aceleração da história, vêm as crescentes pressões sobre a natureza, da qual continuamos totalmente dependentes.

Surgem novas formas de distúrbio ambiental, como a redução da camada de ozônio e o efeito estufa. “A economia global em desenvolvimento entrou em choque com muitos dos limites naturais da Terra. Essas colisões podem ser vistas em tendências como a redução das florestas, a exaustão dos aqüíferos e o colapso da pesca”, sinaliza o autor. Para ele, para que seja deflagrada a necessária mudança para uma economia ambientalmente sustentável, deverá ocorrer uma transição tão profunda quanto a Revolução Industrial.

“O modelo econômico ocidental – a economia do descarte, centrada no automóvel, baseada em combustível fóssil – que elevou dramaticamente o padrão de vida de parte da humanidade durante este século, não poderá expandir-se indefinidamente se os ecossistemas dos quais depende continuarem a deteriorar. Estamos entrando em um novo século, com uma economia que não nos pode levar aonde desejamos ir. O desafio é projetar e construir outra que possa sustentar o progresso da humanidade sem destruir seus sistemas de sustentação – e que proporcione uma vida melhor para todos”, escreve Brown. (APL)



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Ano da Publicação: 2004
Fonte: AN Verde
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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