Desconhecimento sobre sacola oxidegradável

As leis que obrigam o comércio a substituir sacolinhas plásticas pelas supostamente biodegradáveis contêm um grave equívoco. No imaginário popular, estas embalagens, quando descartadas, desapareceriam sem causar danos ambientais, o que não é verdade.
Por Francisco de Assis Esmeraldo

Esses plásticos não são biodegradáveis. Eles são meramente oxidegradáveis ou fragmentáveis. Recebem um aditivo que acelera seu processo de degradação. Contudo, não se biodegradam, porque não se decompõem em até seis meses, como prescrevem as normas técnicas nacionais e internacionais para que ocorra a biodegradação.

Bebendo plástico – Os plásticos oxidegradáveis, quando começam a se degradar, se dividem em milhares de pedacinhos. No fim do processo não vão desaparecer, e sim virar um pó que facilmente irá parar nos córregos, rios, represas, lagos e mares. Isso significa que nossa geração poderá beber involuntariamente plástico oxidegradável misturado à água! E mais: os fragmentos poderão ser ingeridos por animais silvestres, criações nas fazendas, pássaros e peixes, com danos econômicos e ambientais, com conseqüências imprevisíveis.

Tal fato foi amplamente comprovado por universidades e centros de pesquisa como Centro de Tecnologia de Alimentos (Cetea), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Universidade de Joinville, em Santa Catarina, Universidades de Michigan e da Califórnia, nos Estados Unidos.

Em Guarulhos, por exemplo, uma lei obriga o comércio a adotar essas sacolas degradáveis. Para aferir o impacto da medida no meio ambiente, o Ibope Inteligência entrevistou uma mostra qualificada de 602 mulheres daquele município, responsáveis pelas compras de seus domicílios.

Consciência – A pesquisa revela um elevado grau de consciência sobre a necessidade de preservação ambiental. Cem por cento das entrevistadas reutilizam as sacolas plásticas para acondicionar o lixo doméstico: 73% utilizam as sacolinhas de supermercado e 26% adquirem os sacos plásticos comercializados para essa finalidade. As entrevistadas reutilizam, em média, três sacolas plásticas por dia. E 69% delas as consideram como sendo as embalagens ideais para carregar as compras do supermercado para casa.

Entretanto, a grande maioria das entrevistadas revela alto grau de desconhecimento em relação ao significado da palavra ‘biodegradável‘. Apesar das campanhas de informação da prefeitura, 65% respondem não saber o que significa e 5% relatam sentidos equivocados (‘que emite gases tóxicos‘, ‘que demora para se decompor‘).

O desconhecimento é ainda maior quando indagadas sobre a principal diferença entre um produto biodegradável e um degradável: 84% respondem que não sabiam e 2% fornecem respostas incorretas (‘degradável não agride o meio ambiente e o degradável agride‘, ‘degradável se decompõe mais rápido e o biodegradável demora‘).

Confrontadas com o conceito correto de biodegradável ‘todo material que em contato com o meio ambiente se decompõe em até seis meses‘, 81% admitem que não o conhecem.

O risco de dano ambiental por desconhecimento aumenta ainda mais quando 60% delas afirmam acreditar que o uso de sacola biodegradável contribuirá para o aumento de lixo na cidade, o que revela uma estranha associação entre biodegradabilidade e resíduos. Das entrevistadas, 64% acreditam que essas embalagens não podem acondicionar produtos congelados, gelados e úmidos, nem frutas (60%) ou legumes (56%), quando, na verdade, a embalagem plástica é a melhor para carregar e conservar todos esses produtos.

Informação – Curiosamente, 82% respondem que a sacola biodegradável deve ser depositada somente em coleta seletiva de lixo e apenas 12% disseram que ela ¿desaparece¿ após ser descartada na natureza. Na verdade, o procedimento correto é o de que as sacolas biodegradáveis devem ser direcionadas à compostagem, e esta ainda é inexistente no Brasil.

Diante do evidente risco de dano ambiental que a utilização das sacolas degradáveis traz, o que o município de Guarulhos deve fazer é mudar a legislação e estimular a população a praticar os 3 R‘s: reduzir o número de sacolas para transportar compras, reutilizá-las dando-lhes uma infinidade de novos usos e reciclá-las depois de sua vida útil. O poder público pode ajudar, implementando a coleta seletiva municipal dos resíduos urbanos e estimulando as pessoas a separar o lixo orgânico do reciclável dentro de suas casas.

Todas as prefeituras também poderiam parar de jogar milhões de reais no lixo se, em vez de fazer aterros sanitários, construíssem usinas de reciclagem energética para gerar energia térmica (para as indústrias) e eletricidade (para residências) com tecnologia limpa. As sacolinhas plásticas que embalam o lixo servem de combustível no processamento, economizando óleo diesel ou outros derivados do petróleo. Isso é possível devido ao elevado conteúdo energético dos plásticos: 1 quilo de plástico produz a mesma energia de 1 litro de óleo diesel. Em síntese: plástico é energia, portanto, não desperdice!

Francisco de Assis Esmeraldo, 67 anos, é engenheiro químico, presidente da Plastivida Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos e membro dos conselhos ambientais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro e da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Ano da Publicação: 2009
Fonte: http://www.setorreciclagem.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=838
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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