Dinheiro no lixo é desafio para economia verde

O Brasil economizaria R$ 32 bilhões por ano, se todos os resíduos fossem reaproveitados. O grande potencial do aproveitamento energético de resíduos foi destacado pelo pesquisador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig) da Coppe/UFRJ, Luciano Basto, no encontro “O futuro sustentável – Tecnologia e inovação para uma economia verde e a erradicação da pobreza”, nesta sexta-feira, dia 15 de junho. “Se fosse computada a economia com a água no processo produtivo, o dinheiro economizado subiria para R$ 40 bilhões”, disse Basto, que coordena o projeto Usina Verde da Coppe/ UFRJ, no evento promovido na Cidade Universitária.

Hoje, 42% dos resíduos brasileiros têm uma disposição inadequada, segundo a professora do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, Alessandra Magrini. Ela ressaltou, ainda, que muito lixo ainda não é coletado nas cidades e que 32% dos recicláveis são dispersos de qualquer jeito. “Cada brasileiro produz 400 quilos de resíduos por ano, e o número tende a crescer, com mais consumo. Nos países ricos, como os EUA, onde o consumo já foi de mil quilos por pessoa, a produção chega a 750, com a adoção de mudanças de hábitos.”

Para o presidente da Associação de Catadores de Material Reciclável de Jardim Gramacho, Tião Santos, o mundo ficou pequeno para tanto lixo. “A reciclagem é a saída para diminuir o impacto ambiental e social. No Brasil, que ainda não chegou ao estágio de ter apenas aterros sanitários, a reciclagem surgiu no combate à pobreza. É preciso romper o preconceito diante do lixo, mostrar que reciclá-lo não é coisa de pobre, mas de gente inteligente”, ressaltou, no painel “Consumo, resíduos e reciclados: o luxo e o lixo”.

Alessandra Magrini acredita que uma saída é a redução da produção de resíduos, com princípios de química, e engenharia verde, otimizando plantas industriais: “Também podemos melhorar os produtos, com ecodesign e a previsão de que possam ser reciclados em partes. Uma ecologia industrial, com sinergia, pode proporcionar a troca de resíduos reaproveitáveis entre empresas. Já estamos fazendo isso em distritos industriais do Estado do Rio.”

Para Luciano Basto, que também é integrante do Painel Brasileiro sobre Mudanças Climáticas, a coleta seletiva tende a crescer, com a maior conscientização ambiental. “O avanço é inegável. Na Rio 92, estávamos no Aterro do Flamengo expondo uma lixeira com quatro compartimentos. Hoje a Coppe mostra como evoluiu a tecnologia brasileira na área, o que torna o nosso desafio maior.”

Na Rio 92, Tião Santos tinha 13 anos e catava lixo em Gramacho desde os 11, com sete irmãos. “Lembro de tudo, principalmente de que a conferência mudou nossas vidas para melhor. Logo depois, os lixões tiveram que se adequar para virar aterros sanitários, com canalização do gás metano e cobertura de argila sobre o lixo. Veio também a legislação pela erradicação do trabalho infantil. Aos 15, tive que sair de lá e fui trabalhar como açougueiro”, contou Tião.

Para ele, a percepção sobre a conferência também evoluiu. “Antes, a cidade estava com a segurança reforçada para receber líderes mundiais e um pessoal no Aterro do Flamengo que parecia meio doidão. Agora, com a Rio+20, a preocupação com o planeta é um fato para a maioria. De lá para cá, a reciclagem cresceu muito e os lixões começaram a acabar”, disse.

Com o fechamento do depósito de Gramacho, 60 catadores trabalham na cooperativa e outros 500 estão cadastrados para iniciar o trabalho com reciclagem. Tião lembrou que continua a luta para a valorização do profissional: “Com a economia em crescimento, o Brasil gerará mais resíduos e será preciso evitar o desperdício por falta de reciclagem. Mas o sistema tem que deixar de ser predatório, desumano e desigual. No retorno financeiro, nem 10% chegam ao catador.”

Uma alternativa para a geração de renda pode estar no uso da reciclagem de resíduos na construção civil, diante da expansão das obras de infraestrutura no Brasil. O engenheiro Romildo Toledo, professor do Programa de Engenharia Civil da Coppe/UFRJ, falou dos projetos desenvolvidos para a substituição parcial do cimento no concreto, com cinzas agroindustriais a partir de fibras de plantas, além do reaproveitamento de resíduos de demolição e cinza de lodo de esgoto. “Depois da água, o concreto é o produto mais utilizado nas construções, reunindo brita, areia e cimento. E 5,7% das emissões de CO2, principal responsável pela mudança climática, vêm do cimento. O concreto ecológico ajuda, assim, a capturar CO2″, destacou.

Já o coordenador do Laboratório de Modelagem, Simulação e Controle de Processos do Programa de Engenharia Química da Coppe/UFRJ, José Carlos Pinto, falou do reaproveitamento do plástico. Lembrando que o produto é sempre apontado como vilão ambiental, ele frisou a importância do reaproveitamento: “Se o plástico pode durar 200 anos, a degradabilidade não é uma desvantagem. Ele pode ser reaproveitado e reciclado, com a química verde, com viabilidade técnica e econômica.”

Ano da Publicação: 2012
Fonte: Internet
Link/URL: http://www.coppenario20.coppe.ufrj.br/?p=2175
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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