Marçal Rogério Rizzo (*)
Antes de dissertar sobre o lixo urbano, achei necessário escrever brevemente sobre as cidades. Na atualidade, é quase impossível imaginarmos o mundo sem discutir a sustentabilidade urbana e pensando nisso logo surgem perguntas na cabeça: Como criar melhores condições de vida nas cidades? Como vivermos em um ambiente saudável nesses aglomerados urbanos?
A busca por essas respostas é complexa, até mesmo em virtude da população das cidades ter aumentado de forma exagerada. A ocupação do espaço urbano tem sido feita desordenadamente e isso tem causado sérios problemas para a sociedade e em especial para o meio ambiente.
No caso do Brasil, nas últimas décadas tivemos um crescimento urbano exagerado. Em 1945, a população que vivia nas cidades brasileiras correspondia a 25% da população total. Já em 2000, a população urbana passou a representar 82% dos 169 milhões de habitantes. O êxodo rural foi e continua sendo a principal causa pelo inchaço urbano.
O setor público não tem dado conta de atender prontamente as necessidades dos moradores das cidades. Muitas vezes a ausência do bom senso por parte dos políticos e bajuladores vem à tona. O meio ambiente urbano não é tratado como merece.
Um dos principais problemas que ameaça a sustentabilidade urbana são os resíduos sólidos, popularmente conhecidos como lixo. A palavra lixo é derivada do latim e a literatura apresenta duas versões: a primeira vem da “lixius” que significa “água ou objeto sujo” e a segunda vem do termo “lix” que significa “cinza”.
Além de gerar uma imagem ruim, um cheiro desagradável, trazer inúmeras doenças e ser um passivo ambiental para as futuras gerações, dois aspectos relacionados ao lixo preocupam os estudiosos de plantão. O primeiro deles é o aumento acentuado no volume de lixo produzido. O texto “Lixo: conseqüências, desafios e soluções” de autoria de Geila Santos Carvalho afirma que o volume de lixo produzido no mundo nos últimos 30 anos foi três vezes maior que o aumento populacional. Isso vem ocorrendo em virtude da mudança nos padrões de consumo e de produção, pois hoje buscam agregar valor em produtos através das embalagens e a parte da sociedade tem atingido altos padrões de consumo, que na maioria das vezes é desperdiçado. Vários produtos tem tido uma vida útil muito curta ou é descartável e isso obriga a troca por novos produtos.
Outro ponto que merece destaque nesse artigo é que a maior parte do lixo produzido tem sido disposto de forma inadequada, a céu aberto sobre o solo e há casos que vem contaminando as águas dos rios, córregos e até mesmo o lençol freático.
Diante da apresentação do problema qual seria uma solução viável em curto prazo já que o planeta Terra tem pressa?
Inicialmente temos que pensar na educação. A sociedade tem que estar educada e sensibilizada para o problema do lixo. A coleta seletiva deveria ser uma regra e não uma exceção nos municípios, pois isso viabilizaria a reciclagem, ou seja, a reutilização de materiais. Lembramos que o impulso para reciclagem advém de dois processos: a geração de renda e o amadurecimento de uma consciência ambiental.
Existe um inegável trabalho realizado hoje no Brasil pelos “catadores” de materiais recicláveis. Apesar do pequeno número de prefeituras que declaram que têm programas de coleta seletiva de lixo, eles estão presentes em todos os municípios buscando no lixo uma fonte de receita para a sobrevivência.
Hoje é necessário fazer do lixo um meio de gerar renda e empregos. A Revista da Indústria, publicada pela FIESP no mês de julho de 2005, traz alguns números interessantes sobre a reciclagem, afirmando que o aproveitamento de resíduos já é alto em alguns setores como, 97% em alumínio, 77,3% em papelão ondulado e 40% em PET.
O economista Sebetai Calderoni, em seu livro “Os bilhões perdidos no lixo”, afirma que o Brasil perde anualmente 5,8 bilhões de reais, porque deixa de reciclar o seu lixo urbano, deixando claro que nosso “lixo” vale muito e pode ser uma alternativa de renda para muitas pessoas que se encontram desempregadas e até mesmo excluídas do meio social.
Devo lembrar da compostagem da matéria orgânica existente no lixo que pode se tornar um ótimo adubo orgânico, mas sobre esse tema comentarei em futura oportunidade.
Em outro artigo que escrevi sobre o assunto lembrei da ligação do lixo com a geração de energia. Estudos mostram que a matéria orgânica quando se decompõe, produz o gás metano (CH4) que é um gás poderosíssimo de efeito estufa, pois é 21 vezes mais quente que o CO2. Esse gás metano “solto” na natureza pode causar mudanças climáticas. Infelizmente o Brasil é um grande produtor de gás metano. Das 180 mil toneladas produzidas por dia, 31% é abandonado a céu aberto. Entretanto, o Ministério de Meio Ambiente fez uma pesquisa analisando o lixo e os aterros de 91 cidades brasileiras onde constatou que o potencial energético a partir do gás metano produzido por esses 91 aterros é o suficiente para atender a 6,5 milhões de pessoas.
No Brasil a falta de vontade política para solucionar o problema do lixo prevalece. Na maioria das cidades, não há estimulo para a coleta seletiva por parte do poder público. Há pontos na legislação tributária que devem ser mudados para estimular a criação de novos negócios e novas empresas na área de reciclagem de produtos. Precisamos incentivar a mudança nos percentuais de cobrança do ICMS para empresas dessa área, sem contar com as leis de atração de novos empreendimentos empresariais, especialmente das empresas que atuam junto à reciclagem.
Finalmente, além dos ganhos econômicos que destaquei neste artigo, temos os ganhos ambientais que são imensuráveis.
* É economista, professor universitário, mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Unicamp e doutorando em Dinâmica e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP de Presidente Prudente – SP).
marcalprofessor@yahoo.com.br
Ano da Publicação: | 2009 |
Fonte: | http://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=29337 |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |