Em tempos de dólar fraco, um inimigo das exportações brasileiras, uma associação de mulheres artesãs da cidade satélite de Riacho Fundo, na periferia de Brasília, está reciclando lixo com muita criatividade e ganhando o mundo. Formada por cerca de 130 mulheres, a maior parte donas de casa, a Associação Moda e Tradição Companhia do Lacre transforma fechos de latas de cervejas e refrigerantes em bolsas, cintos, vestidos, xales e até artigos para casa, como cortinas e forros de mesas. O grupo deve aumentar com a conclusão de um curso de capacitação que formará mais 240 artesãos.
Em média, são feitas entre 2 mil e 3 mil peças por mês – a maioria por encomenda. Atualmente, os principais clientes são três empresas de moda e design dos Estados Unidos, da Espanha e da Alemanha, que adquirem até 98% do que é produzido mensalmente. Manualmente, as artesãs costuram e cobrem parcialmente os lacres com crochê. O trabalho pode ser feito nas próprias residências, usando moldes e medidas padronizadas.
Cada associada tem uma renda mínima de R$ 450 por mês – mas quem faz mais ganha mais. “Tudo nasceu para dar às mulheres da comunidade uma alternativa de renda e de auto-estima”, comenta a presidente da associação e uma das pioneiras do grupo, Chica Rosa. Ela não revela números do faturamento, mas diz que tudo é calculado com o objetivo de garantir uma remuneração digna às artesãs. A organização foi criada formalmente há dez anos, mas somente em fevereiro do ano passado passou a ter sede própria. Um porcentual de 16% do faturamento com vendas é para manter os custos do local.
Rock in Rio Lisboa
Para serem transformados em bolsas ou vestuários, os lacres passam por um processo de limpeza e recuperação, após terem sido comprados dos catadores de latas e empresas de reciclagem de lixo. Chica Rosa revela que em média são adquiridos por mês 800 quilos da matéria-prima. “A proposta inicial era comprar só de catadores, mas para atender a demanda isso não é suficiente”, comenta. As linhas e agulhas para o crochê são adquiridas diretamente das fábricas pelas artesãs credenciadas, o que reduz custos.
Chica Rosa considera, orgulhosa, que a crescente demanda pelos produtos levou a associação ao dilema de se transformar ou não em uma empresa. Isso, porque, até agora, o grupo tem usado as facilidades do processo simplificado de exportação – uma vez que fazem operações de até US$ 20 mil. “Mas já estamos chegando próximo desse limite”.
O grupo está concentrado agora nos preparativos para a terceira edição do Rock in Rio Lisboa, marcado para o fim deste mês. As aparições em eventos já se tornaram freqüentes. No fim de março, os produtos de lacre foram destaque no evento de moda do Centro-Oeste Capital Fashion Week, o que rendeu o convite para exposição em Lisboa. “O apelo da responsabilidade ambiental, com a reciclagem de lixo, e também social, com a geração de renda para pessoas carentes, abre portas no exterior”, resume uma das gerentes de negócios internacionais da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Luciana Furtado. A organização é o principal ponto de apoio ao desenvolvimento das exportações das artesãs.
Fonte: Isabel Sobral (O Estado de S.Paulo)
Ano da Publicação: | 2008 |
Fonte: | http://www.reciclaveis.com.br/noticias/00805/0080513lacres.htm |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |