Empresário pleiteia formalizar reciclagem

Os recicladores de resinas termoplásticas precisam se organizar em associações próprias em favor do atendimento de seus interesses específicos. Para o segmento se desenvolver no país e deixar de ser percebido como uma indústria marginal, o governo deveria elevar a atividade dos recuperadores ao patamar de utilidade pública, por uma simples razão. Eles ajudam a limpar o meio ambiente e devolvem como matéria-prima milhares de toneladas de dejetos, que tinham como destino final, em tempos passados, os aterros sanitários.

Essa é a opinião do empresário gaúcho Rosalvo Prates, radicado desde o final dos anos oitenta no Paraná, onde dirige a empresa de sua propriedade denominada Mennopar, em Pinheirais, na Grande Curitiba. Prates é filiado e um dos diretores do Sindicato da Indústria de Material Plástico no Estado do Paraná (Simpep). No entanto, lamenta o fato de que apenas cinco recicladores daquele estado estejam agrupados em torno do sindicato.

Para Prates, a principal missão dos recicladores, agrupados em uma associação comum, é conquistar o reconhecimento oficial, pois conforme ele, trata-se de uma indústria fundamental, porque pega passivo ambiental, transforma em matéria-prima, gera imposto e emprego. Mas é cobrada de maneira desproporcional. Ele revela estar imobilizando, neste começo de 2009, mais de R$ 60 mil na instalação de equipamentos contra fogo, tais como hidrantes, mangueiras e reservatório para água. Somente o projeto de engenharia ficou em R$ 13 mil.

Abrir uma usina de reciclagem em consonância com a legislação ambiental do Paraná, nos cálculos de Prates, demanda hoje algo em torno de R$ 1,5 milhão. A escavação de um poço pode ficar entre R$ 30 mil e R$ 50 mil. A estação de tratamento de efluentes, outros R$ 100 mil, para 2 mil m² de galpões, mais equipamentos, como moinho extrusoras, lavadores e secadores. Todo esse maquinário pode reciclar umas 2.400 toneladas/ano de resinas.

Por conta da demanda, do investimento e das obrigações ambientais, a principal queixa do mercado formal da reciclagem é a presença na cadeia da figura do sucateiro, um comerciante muitas vezes informal, que compra o lixo seco por mixaria e repassa aos recicladores com até 100% de ágio.

No entendimento de Prates, cabe justamente aos empresários formais moralizar o segmento, com base no atendimento das legislações, pagamento de impostos, respeito ao emprego legal, entre outros quesitos. Ao cumprir esses encargos, os empresários estariam aptos a exigir algum tipo de contrapartida. Uma das reivindicações propostas por Prates seria a isenção do ICMS da energia elétrica como forma de beneficiar aqueles que abriram empresas legais e geram empregos.

Hoje, no Paraná, o ICMS da energia elétrica incidente para a atividade industrial já beira os 30%. “Não queremos ficar isentos de impostos porque todo empreendimento lucrativo deve cumprir suas obrigações. Pedimos apenas algum reconhecimento”, assinala Prates.

A reciclagem compreende três etapas: a terciária (segregação), a secundária (descontaminação-moagem, lavagem e secagem) e a primária, que é a extrusão da resina em granulados. A segregação é fácil de fazer por tipo e cor. Já a secundária exige estação de tratamento de efluente e poço artesiano, com água para descontaminar; e, na maioria dos casos, ninguém quer mexer com a chamada “parte suja” do processo.

Na opinião de Prates, a reciclagem é um mercado promissor porque é uma atividade de solução. De qualquer forma, ele defende uma maior profissionalização dos catadores, que poderiam realizar a etapa terciária e a secundária, com o objetivo de eliminar a presença do sucateiro como elo da cadeia.

O empresário tem um custo de 30 centavos de real por quilo nas etapas terciária e secundária, porém está disposto a treinar os catadores para realizar o serviço e repassar o valor. Contudo, enfrenta barreiras culturais. “Eles não querem fazer. Só querem separar o que é ferroso do não-ferroso”.

Prates já propôs uma parceria com as cooperativas de catadores de Curitiba, mas lamenta não ter sido ouvido. Ele conta que a trajetória para montar a Mennopar começou com um galpão há quinze anos. Depois, ele fez um segundo, perfurou o poço e construiu uma estação de tratamento de efluentes “na cara e na coragem”.

Atualmente a usina pode reciclar até 50 toneladas por mês em resinas convertidas em sacos de lixo, embalagens secundárias para alimentos, ou seja, aquelas colocadas para proteger caixas de leite, latas e outros recipientes, sem risco de contaminação. Além disso, ele recicla bombonas convertidas posteriormente em frascos de óleo lubrificante. Segundo o empreendedor, toda a indústria de alimento usa o reciclado para a embalagem secundária.

De acordo com a organização não-governamental Plastivida, a reciclagem de resinas termoplásticas está dividida em três processos. O primeiro é denominado reciclagem química e consiste na decomposição química dos polímeros para retornarem à indústria na forma de petroquímicos básicos, monômeros ou misturas de hidrocarbonetos, os quais voltam às refinarias ou centrais petroquímicas para a obtenção de produtos nobres de elevada qualidade.

O objetivo da reciclagem química é a recuperação dos componentes químicos individuais para serem reutilizados como produtos químicos ou para a produção de novos plásticos. Essa reciclagem permite tratar a mistura de plásticos e reduzir custos de pré-tratamento, de coleta e seleção. Além disso, permite produzir plásticos novos com a mesma qualidade de um polímero original.

A reciclagem mecânica consiste na conversão dos descartes plásticos pós-industriais ou pós-consumo em grânulos que podem ser reutilizados na produção de outros produtos, como sacos de lixo, solados, pisos, conduítes, mangueiras, componentes de automóveis, fibras, embalagens não alimentícias e muitos outros e possibilita a obtenção de produtos compostos por um único tipo de plástico ou produtos derivados de misturas de diferentes plásticos em determinadas proporções. Estima-se que no Brasil sejam reciclados mecanicamente 15% dos resíduos plásticos pós-consumo.

A reciclagem energética é a queima dos polímeros, mas se diferencia da incineração por utilizar os resíduos plásticos como combustíveis em geração de energia elétrica, como ocorre principalmente no Japão, onde já existem mais de mil usinas de reconversão de lixo seco em eletricidade. “A usina de Saint-Queen, na França, assegura o suprimento de eletricidade para 70 mil pessoas com 15 mil e 400 megawatts/ano, obtidos por reciclagem energética”, sinaliza o site da Plastivida.

O documento da Plastivida diz ainda que junto com a economia e recuperação de energia ocorre também uma redução de 70% a 90% da massa do material. Ao final da queima resta apenas um resíduo inerte esterilizado. Conforme a Plastivida, a energia contida em um quilograma de plásticos é igual à energia existente no mesmo volume de óleo combustível.

Fonte: Revista Plástico Moderno

Ano da Publicação: 2009
Fonte: http://www.reciclaveis.com.br/noticias/00906/0090601empresario.htm
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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