Enquanto muitos comemoram o gigantesco boom imobiliário que revira São Paulo e outras tantas cidades no país, há quem lamente o aumento da geração de resíduos da construção civil. Só aqui na capital estima-se que o volume – já exorbitante – de 17 mil toneladas por dia tenha alcançado a casa das 20 mil toneladas produzidas diariamente nas reformas, demolições e novas construções.
Tarcisio de Paula Pinto, consultor do Ministério do Meio Ambiente, não tem dúvidas: “Quando o mercado imobiliário se expande, a quantidade de entulho gerada pelas obras cresce na mesma proporção”, diz. E para onde vai tanto entulho? Será que nada desse material poderia ser reaproveitado na cadeia produtiva antes de ser nomeado lixo?
Inúmeras pesquisas em universidades apontam caminhos para o reaproveitamento desses resíduos. Em usinas de beneficiamento, o entulho vermelho (restos de tijolos, telhas, blocos cerâmicos e terra) se transforma em um agregado reciclado que pode ser utilizado como base e sub-base na pavimentação de ruas, por exemplo. Já o entulho cinza, composto por restos de concreto, vira areia reciclada (ideal para argamassa de assentamento) e brita de diversas granulometrias.
Cuidar da gestão do entulho ainda não é prioridade no mercado da construção civil, mas por força da lei (que funciona, sim, em algumas circunstâncias!), já mexeu na caçamba de muita gente. Em vigor desde 2003, a Resolução 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelece uma regra simples e óbvia: quem gera entulho deve se responsabilizar pelo transporte e destinação adequada desses materiais.
Para fazer esse controle, a lei prevê que cada município deve criar um programa de gestão dos resíduos da construção civil, justamente para que possa ter autonomia para decidir como resolver o problema – já que não há uma receita ou fórmula de sucesso a ser copiada por qualquer um em qualquer lugar.
Em São José do Rio Preto e Americana, a gestão do entulho já rende frutos que lembram “coisa de primeiro mundo”, como chamamos por aqui as experiências que dão certo… Lá, as prefeituras criaram pontos de entrega voluntária de entulho, contrataram aterros e construíram usinas de beneficiamento que reciclam os resíduos, transformando-os em matéria-prima de qualidade para obras públicas. Top no Brasil, São José já consegue reciclar cerca de 80% de todo o entulho gerado nas obras que ocorrem na cidade.
Guarulhos é outro exemplo interessante, que também conta com uma usina recicladora de entulho. Resultado: economia na gestão do lixo, melhorias ambientais e matéria-prima mais barata para construir casas populares e escolas. Mais racional impossível, não?
Em São Paulo, a prefeitura quer estender os ecopontos (que são esses pontos de entrega voluntária de entulho) a todos os 96 distritos da cidade e estuda a contratação de 5 aterros com usina de beneficiamento – o que pode representar um passo largo na direção de uma gestão mais sustentável das sobras da construção civil.
Ao contrário do que está acontecendo na China, que cresce vorazmente a cada dia, sem se preocupar com o problema da montanha de entulho que essa ânsia de dragão está criando para ela mesma, é preciso enxergar além dos efeitos de curto prazo e planejar o crescimento. É o que parece fazer mais sentido, pelo menos, numa época em que o termo “recurso renovável” depende também da voracidade (e da velocidade) com que ele é extraído ou depositado na natureza…
Ano da Publicação: | 2009 |
Fonte: | http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/gaiatos/20080513_lst_assuntos.shtml |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |