A questão da abolição da sacolinha plástica está longe de chegar ao congresso nacional nos Estados Unidos. Alguns estados e cidades americanos discutem a questão, um número pequeno deles já baniu a sacolinha plástica do comércio e passou a cobrar por sacola de papel, mas, no geral, a iniciativa é muito incipiente no país.
Joel Heinen, professor do departamento de estudos ambientais da Florida International University, acredita que o governo federal dificilmente irá criar leis de diminuição do consumo de sacolas plásticas, já que a maioria das questões legais no país é resolvida pelos governos estaduais e municipais. "São os governantes locais que precisam se conscientizar e aprovar leis desse tipo", diz. Defensor do pagamento de uma taxa simbólica pelo uso de sacolas plásticas e de papel em supermercados, lojas e outros estabelecimentos – e não a abolição delas-, Heinen acredita que iniciativas que atingem o bolso das pessoas funcionam. "Se os estados instituíssem que seria cobrado 0,10 centavos de dólar por uma sacola de plástico ou papel, isso certamente não ia levar ninguém à falência e pelo menos faria as pessoas pensarem que estão fazendo uma escolha ao comprar uma sacola. Talvez, nesse momento, elas poderiam se dar conta que não precisam da sacola e que podem carregar os produtos de outras formas".
Em algumas grandes cidades norte-americanas, onde não existem leis de proibição de sacolinhas, foram criadas campanhas de conscientização e programas de coleta e reciclagem desse material. Em janeiro de 2009, o estado de Nova York aprovou uma lei que obriga algumas redes de varejo e supermercados com lojas de mais de 920 metros quadrados que operam cinco ou mais lojas com mais de 460 metros quadrados a aderirem ao programa de reciclagem de sacolas plásticas, que exige que sejam disponibilizadas latas coletoras na loja e que seja colocada uma mensagem no texto da sacola. Além disso, elas são obrigadas a vender ecobags. A cidade de Nova York tem mostrado preocupação com questões ambientais, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido, opina Constance DeCherney, diretora de estratégias da agência iCrossing, que mora há 6 anos na cidade de Nova York. Segundo ela, o estilo de vida dos novaiorquinos e a cultura do fast-food na cidade são os responsáveis pela quantidade de lixo produzida e pelo desperdício em geral. "Eu passei a carregar uma ecobag porque acredito que essa é uma forma de fazer a minha parte. Então, sempre que posso, recuso sacolas plásticas", diz.
A popularização das ecobags no país criou uma oportunidade de negócio para Elisabeth Long, dona da Bag the Habit. Quando comecei a minha empresa de sacolas reutilizáveis em New Jersey, em 2007, tinha que explicar às pessoas o conceito desse tipo de sacola. Agora que muitos já conhecem a ecobag, muito por conta das grandes redes de varejo que passaram a oferecer opções sustentáveis de sacola, passamos a criar novas versões, como por exemplo as ‘produce bags‘, especializadas em carregar verduras, legumes e frutas."
Enquanto o governo não sanciona leis nacionais, algumas redes de supermercado começaram a criar suas próprias campanhas de redução do uso de sacolinhas plásticas. A maior rede de varejo dos Estados Unidos, Walmart, criou o programa Plastic Bag Initiative em setembro de 2008, e espera com essa iniciativa reduzir em 33% o plástico por loja até 2013 e cerca de 9 bilhões de sacolas plásticas por ano em toda a rede. Em outubro de 2008, o Walmart passou a oferecer sacolas reutilizáveis por 0,50 centavos de dólar aos seus clientes.
Outro exemplo é a rede de supermercados de produtos orgânicos Whole Foods, presente em várias cidades americanas, no Canadá e no Reino Unido, que só distribui sacolas de papel (mas não cobra por elas) e oferece ecobags no caixa a 0,99 centavos de dólar, preço comum a outros supermercados.
Quem já baniu as sacolinhas plásticas nos EUA
San Francisco foi a primeira cidade norte-americana a banir sacolas plásticas no comércio em 2007, e outras cidades norte-americanas seguiram a tendência: nos últimos três anos, Washington D.C., Los Angeles (county), Edmond (Oklahoma), Portland (Oregon) e Bellingham (Washington) aboliram a versão das sacolinhas em plástico e passaram a cobrar pela versão em papel. A última grande cidade a aprovar a lei for Seattle, em dezembro de 2011, que deve entrar em vigor em 1º de julho deste ano.
No sul do país ainda não existem muitas iniciativas nesse sentido. Aqui na Flórida, qualquer iniciativa que for inconveniente aos turistas não vai pra frente. E isso também iria acontecer caso alguém propusesse uma lei para as sacolinhas plásticas, já que a maioria das grandes lojas trabalha com o plástico, diz Heinen. E o professor conclui: "há muito mais consciência sobre a questão do lixo nos estados do norte do país do que no sul".
Outras cidades do país como Olympia, Port Townsend, Bainbridge Island, Lake Forest Park, no estado de Washington, Eugene (Oregon), Austin (Texas), Jackson (Wyoming) e Boston (Massachusetts) também estão considerando banir sacolinhas plásticas. "2012 pode ser o ano de grandes evoluções na questão das sacolinhas plásticas aqui nos Estados Unidos", diz Elisabeth, que foi convidada pela prefeitura local de Jersey City para implementar a lei de proibição de sacolas plásticas na cidade, mas desde meados de 2011 o processo está parado por conta de pressões locais. Ajudei a escrever a legislação, mas, apesar do prefeito ter apoiado a iniciativa, fomos obrigados a parar com o processo devido à pressão da indústria de sacolas plásticas, de um grande supermercado e de representantes do American Chemistry Council.
Ano da Publicação: | 2012 |
Fonte: | http://viajeaqui.abril.com.br/materias/estados-unidos-tem-iniciativas-isoladas-para-banir-sacolas-plasticas |
Link/URL: | http://viajeaqui.abril.com.br/materias/estados-unidos-tem-iniciativas-isoladas-para-banir-sacolas-plasticas |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |