Enxergar o valor econômico do lixo pode ser a senha para a solução de um dos maiores problemas ambientais do século: a destinação adequada para os mais de 2,1 trilhões de toneladas de lixo gerados ao ano pelo homem.
É um mercado e tanto. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no país mais de R$ 8 bilhões em materiais recicláveis foram parar em aterros sanitários e lixões em 2009.
O que explica tamanha fortuna sendo, literalmente, jogada no lixo? De acordo com especialistas, há várias respostas. “O lixo, por sua própria natureza, nunca foi prioridade nas políticas públicas”, explica o técnico do Ipea, Jorge Hargrave.
Uma realidade que se reflete nos contratos de concessão dos municípios para a gestão do lixo. Focados no transporte e aterro, acabam estimulando as empresas a enterrar lixo sem preocupação com coleta seletiva.
“Muitos prefeitos falam que não há recursos para a coleta seletiva, e eles deveriam ver isso como oportunidade de reduzir gastos”, diz o professor Sabetai Calderoni, do Instituto Ambiente Brasil.
Somente no município de São Paulo, segundo ele, mais de R$ 1 bilhão dos R$ 1,2 bilhão gastos ao ano com gestão do lixo poderiam ser economizados com coleta seletiva e reciclagem – menos gasto com transporte e aterros.
Já a atual distribuição dos ganhos com a reciclagem pode desestimular. “As prefeituras têm a maior parte dos custos da coleta, e os benefícios são difusos, incluem catadores e empresas transformadoras”, relata Hargrave.
Parcerias
Como os contratos de concessão de limpeza urbana não refletem a perspectiva de aproveitamento econômico, algumas prefeituras usam as Parcerias Público-Privadas (PPPs) para a coleta seletiva.
“O uso das PPPs explica em boa parte o crescimento dos municípios que fazem coleta seletiva”, diz Calderoni.
Dados do Compromisso Empresarial pela Reciclagem (Cempre) mostram que 443 cidades, 8% do total, hoje fazem coleta seletiva (em 26% a coleta é feita por empresas privadas). Em 2002 eram 192. Na outra ponta, há maior demanda por reciclados, que são insumos mais baratos.
Prova de que há um descompasso entre oferta e demanda, entre 2008 e 2009 as indústrias importaram quase R$ 500 milhões de “lixo limpo” (papelão, alumínio etc).
Nenhum estímulo promete ser mais forte para o avanço da economia do lixo no Brasil, no entanto, que a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada em agosto pelo presidente Lula.
Com base no princípio de que resíduos geram valor e renda, a lei cria obrigações para governos e empresas que prometem mudar o modo como o lixo é tratado, estimulando a reciclagem e a exploração comercial do setor.
Resíduos podem virar fonte de receita
Empresas vêm descobrindo que ideias criativas na gestão de resíduos não são só solução para problemas ambientais, mas uma fonte de receitas e até de geração de negócios.
A “Ilha Ecológica” da Fiat é um desses exemplos. Funciona desde 1994 como central de descarte na fábrica de Betim (MG), e reaproveita 98,5% dos resíduos. Nos primeiros anos gerava R$ 10 milhões em economia de custos e venda dos materiais.
Já a Coca-Cola Brasil adotou metas de reciclagem, reutilização e redução de embalagens e de água, entre elas o ambicioso objetivo de ser neutro em água até 2020.
“Sustentabilidade não é filantropia, é negócio saudável”, resume o vice-presidente de comunicação e sustentabilidade da Coca-Cola, Marco Simões.
“Um exemplo é a redução de matéria-prima nas embalagens. Além de ambientalmente correta, é um benefício financeiro”.
Fonte: André Palhano (Folha de S. Paulo)
Ano da Publicação: | 2010 |
Fonte: | http://www.reciclaveis.com.br/noticias/01011/0101130valor.htm |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | RODRIGO@WEB-RESOL.ORG |