Na ONU ainda não se atigiu consenso sobre como enfrentar o problema
Flávio Henrique Lino escreve para O Globo:
Um vasto lixão espacial. É o que se tornou a órbita da Terra desde que o Sputnik 1 subiu ao espaço em 1957.
Em meio século de viagens espaciais, o homem conseguiu transformar o entorno do planeta numa gigantesca área de restos, detritos e destroços que, eventualmente, obedecem à lei da gravidade e caem de volta, deixando um rastro de fogo nos céus.
A Nasa estima em dezenas de milhões a quantidade de detritos espaciais variando em tamanho de menos de um centímetro a mais de um metro.
O primeiro objeto a inaugurar a categoria de lixo espacial foi o próprio satélite pioneiro russo, que fez sua última transmissão três semanas após o lançamento e ficou mais dois meses flutuando inutilmente no espaço até reentrar na atmosfera terrestre.
Satélites fora de uso e estágios superiores de veículos de lançamento ou seus destroços, em caso de explosão minúsculos pedaços de tinta, combustível solidificado, luvas de astronautas, ferramentas… tudo pode se transformar em lixo espacial.
Atualmente, cerca de 11 mil objetos maiores de dez centímetros catalogados orbitam a Terra, e sabe-se que há mais de cem mil com tamanho entre um e dez centímetros. As estimativas para objetos menores do que isso chegam a dezenas de milhões.
Os objetos vão batendo uns contra os outros e se fragmentando, aumentando cada vez mais o número deles em órbita, explica José Monserrat Filho, vice-presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial.
De 1999 a 2003, 840t de lixo espacial voltaram à Terra
As agências espaciais dos EUA e da Rússia monitoram a localização dos objetos maiores, que representam perigo real para as espaçonaves e os satélites em torno da Terra, pois muitos viajam a uma velocidade de até 40 mil km/h.
Em 1997, a Nasa estabeleceu o Centro de Estudos de Órbita e Reentrada de Destroços para estudar o lixo espacial.
Entre 1999 e 2003, o centro estimou que 840 toneladas de material reentraram na atmosfera da Terra: boa parte, no entanto, não resiste ao calor intenso da fricção com a atmosfera e se desintegra antes de atingir a superfície do planeta.
Segundo a Nasa, nos últimos 40 anos, todos os dias um objeto catalogado cai na Terra.
O caso mais famoso de lixo espacial foi o satélite Skylab, de 69 toneladas, cujos destroços caíram sem controle no Oceano Índico e na parte ocidental da Austrália em 11 de julho de 1979, deixando o mundo numa tensa expectativa.
O maior objeto considerado lixo espacial até hoje reentrado na atmosfera foi a estação espacial russa Mir, de 120 toneladas, que voltou à Terra em 23 de março de 2001 de forma controlada.
A estimativa é de que entre 20 e 35 toneladas de material resistiram à fricção de entrada e caíram no Oceano Pacífico Sul, a leste da Nova Zelândia área designada por tratados internacionais como lixão espacial do planeta.
O tempo de permanência dos objetos no espaço varia de acordo com a altitude em que eles orbitam a Terra: abaixo de 600 km, eles caem de volta dentro de alguns anos; na faixa de 800 km em algumas décadas; acima de mil km, podem continuar circulando o planeta por mais de um século.
Brasil faz parte de Comitê da ONU para Uso do Espaço
A solução para o problema do lixo espacial, no entanto, ainda está tão longe de ocorrer quanto Plutão se encontra do Sol.
Em 1959 a ONU criou o Comitê sobre o Uso Pacífico do Espaço Exterior, que conta com 67 membros, mas até hoje não houve consenso sequer para definir o que é lixo espacial do ponto de vista jurídico.
Com isso, o risco lá em cima aumenta para os satélites e espaçonaves sem que aqui embaixo se adotem medidas eficazes para lidar com o problema de maneira geral.
Até agora, apenas um acidente grave foi registrado, quando em julho de 1996 o satélite militar francês Cerise chocou-se a 680 km de altitude com um fragmento de um foguete francês Ariane, que havia explodido dez anos antes.
Com o impacto, o satélite se desestabilizou, entrou em giro e caiu na Terra de forma controlada.
Não há uma diretriz para todos os países envolvidos. O que tem valido é uma espécie de bom senso, mas como as atividades espaciais se intensificam e o perigo aumenta, é necessário atacar o problema o mais rapidamente possível, alerta Monserrat.
Ano da Publicação: | 2011 |
Fonte: | http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=36248 |
Link/URL: | http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=36248 |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
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