Inclusão Digital vs Lixo Eletrônico vs Meio Ambiente

Sabe aquele seu mouse de R$ 10 que parou de funcionar e só move o cursor para a esquerda? Não presta mais, vai para o lixo, obviamente. Mas que lixo? Você sabe para onde esse material será encaminhado? Sabe que tipo de problemas ao meio ambiente ele pode causar se for desconsiderado nas triagens do lixo comum?

Um mouse pode não causar tantos problemas, mas um monitor colorido, por exemplo, pode ter cerca de 3 quilos de chumbo, metal pesado altamente contaminante. Muitos outros equipamentos são feitos de materiais poluentes e tóxicos, mas não são tratados com o cuidado devido após o seu descarte. Eu até lancei uma campanha com o tema, mas infelizmente não tive muitos adeptos.

O problema: o lixo eletrônico poluente e tóxico
Crescimento hoje em dia está intimamente ligado à tecnologia. Quanto mais tecnologia um país emprega, mais ele produz e quanto maior sua produção, maior a visibilidade no mercado internacional e crescem as exportações. Por outro lado, maior é o consumo de recursos naturais e a produção de lixo e poluição.

Infelizmente a alta produção de determinado setor não está diretamente ligada à qualidade dos produtos – está aí a China para amparar minha afirmação. Com o aumento da demanda e da concorrência, os fabricantes estão baixando a qualidade da matéria-prima ou do processo de fabricação, para reduzir o preço final. Com isso, a preocupação com o lixo eletrônico só aumenta, pois sabemos que os devidos cuidados não estão sendo tomados na escolha do material e com a pouca qualidade, o tempo de vida útil dos produtos é drasticamente reduzida, tendo que ser substituídos em pouco tempo – gerando mais lixo.

Grande parte do material utilizado em produtos eletrônicos, além de poluente, é tóxico. Isso significa que não é somente a sujeira e o acúmulo de lixo que nos preocupa, mas as conseqüências que o contato com esse material tóxico podem trazer ao meio ambiente e a nós mesmos. Doenças de pele e problemas respiratórios são os mais comuns, mas certos materiais podem causar doenças muito mais sérias, como o câncer.

Reciclagem pode ser uma saída
A legislação brasileira ainda não possui um controle efetivo da destinação dos resíduos sólidos, como alguns países da Europa, mas determinados produtos já têm previsão de destino, como por exemplo, as pilhas e baterias esgotadas. A lei diz que os produtores devem assumir a responsabilidade de recolher esse material e dar destinação coerente, seja armazenagem em lixo tóxico ou reciclagem.

Existem iniciativas de pessoas, ONGs e empresas privadas numa mesma direção, que auxiliam na execução de projetos de reciclagem. Um deles é o Papa Pilhas do Banco Real, que mantém postos de coleta de pilhas e baterias esgotadas e cuida da reciclagem das mesmas.

Mas nem tudo pode ser reciclado e muitas coisas, apesar de possuírem processos possíveis, não o são por conta do alto custo da tecnologia envolvida. Em casos como esses é interessante observar formas de reutilização dos equipamentos, com outras destinações, para evitar o descarte do mesmo nos lixos. O reuso pode ser para uma destinação útil para você mesmo ou outras pessoas, como no caso das ONGs que montam equipamentos mais modestos à partir de doações de sucata eletrônica. Três ou mais computadores quebrados podem dar origem a um computador funcional dentro de um centro de inclusão social.

A inclusão digital feita de forma errada torna essa tarefa mais difícil
O modelo que vem sendo adotado de inclusão digital no Brasil é o barateamento de computadores. Fora as quedas naturais de moedas estrangeiras, que influenciam diretamente no preço de eletro-eletrônicos, o Governo se ocupa na redução de alíquotas de impostos para determinados tipos de máquinas, como se isso bastasse para incluir a população no mundo digital, conectado, online.

Fora o fato de que computador não é uma necessidade básica e diversos outros temas deveriam ser priorizados, baratear equipamentos acaba por sucateá-los à médio prazo. E o que poderia ser uma ferramenta social, termina num canto encostado (pois falta dinheiro para consertar o micro) e algum tempo depois certamente no lixo. Falta educação digital, falta apoio para inserção no mercado de trabalho, sobra aumento de produção de lixo eletrônico.

Manufatura Reversa, um negócio em expansão
O processo é muito parecido com uma fábrica, mas ao contrário. Os produtos entram em “linha de desmontagem” e cada funcionário da seqüência trata de fazer sua parte e ir separando os equipamentos em pedaços identificáveis e classificáveis. Em equipamentos como computadores, é possível separar em materiais como plástico, vidro, borracha, metais ferrosos e não ferrosos e componentes eletrônicos.

A separação torna possível a reciclagem desses materiais, o que seria muito trabalhoso e caro de se fazer sem esse pré-processo manual. Dentro desse processo, os materiais podem se tornar produtos de diversos tipos, como cabos de panela, tomadas, fios, cabides, tampas, sola de sapato, vidro de monitor, etc.

Atualmente o maior mercado para esse tipo de empresa vem do próprio fabricante, que descarta material que não foi comercializado ou danificado, evitando o passivo com o meio ambiente e podendo reutilizar a matéria prima gerada. Isso não quer dizer que não existe mercado para esse manufatura reversa informal ou popular, o problema é a falta de demanda ainda. Coisa que pode ser muito melhorada com a divulgação e educação da população para a questão do lixo tecnológico.

Ano da Publicação: 2010
Fonte: http://tecnocracia.com.br/arquivos/inclusao-digital-vs-lixo-eletronico-vs-meio-ambiente
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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