Invenção brasileira vai alavancar reciclagem de pneus

Tecnologia usada para separar nylon, aço e borracha dos pneus é tão importante no processo de reciclagem, que o nome do inventor é mantido em sigilo pela empresa.

São Paulo – A mais recente prova de que o Brasil, ainda que por força da Lei, se preocupa com a preservação ambiental, está sendo dada pela indústria Midas Elastômeros. A sétima e mais nova empresa do grupo paulista Vibrapar Participações iniciou o processo de reciclagem de pneus há quatro meses, de forma experimental, em Itupeva, São Paulo. A partir de dezembro de 2001, a fábrica entrou na grande escala, começando a reciclagem anual de 5 milhões a 6 milhões de pneus e outros resíduos de borracha.

A tecnologia, desenvolvida por um engenheiro químico e mecânico, brasileiro, empregado pela empresa, é inédita mundialmente. “Nosso processo é único, porque é o primeiro que separa o nylon, o aço e a borracha. Os outros apenas picam os pneus e os encaminham para usos restritos”, informou um dos controladores e diretor do Vibrapar, Alexandre Malvazzi.

A tecnologia usada pela Midas Elastômeros é tão importante no processo de reciclagem, que o nome do inventor é mantido em sigilo pela empresa. Sabe-se apenas que ele é um engenheiro mecânico e químico, com título de doutor, que projetou detalhadamente o processo de separação dos ingredientes dos pneus. E o engavetou, porque ninguém apostou na idéia.

O inventor brasileiro continua trabalhando como funcionário da Midas, empresa que acreditou no potencial do esboço, e agora vai dar partida na única fábrica mundial que recicla os pneus, separando a borracha, o nylon e o aço. Primeiro, a Midas instalou uma unidade piloto, para conhecer a viabilidade do projeto. E depois partiu para a fábrica em grande escala. Sem esse tipo de tecnologia, as demais indústrias do planeta apenas picam a borracha dos pneus.

Uma vez registrada a patente, a tecnologia poderá ser licenciada a empresas internacionais. “Fomos visitados por gregos, italianos, holandeses, argentinos e americanos, que ficaram pasmos com o que viram. Mas, não deixamos chegarem muito perto”, comenta um dos controladores do Grupo Vibrapar Participações, João Deguirmedjian. A Midas é subsidiária integral do Vibrapar.

O investimento de US$ 5 milhões no desenvolvimento da tecnologia, do processo e da produção, deverá ter retorno em três anos. A capacidade instalada da fábrica, para 20 mil t/ano, processará 70% de borracha recuperada (em pó), 20% de filamentos de aço e 10% de fibras de nylon. O aço alcança o preço de R$ 50 a R$ 70, por tonelada, e será vendido a sucateiros. Já a borracha, que, quanto mais fina sua granulação maior o valor de comercialização, pode ser vendida entre US$ 200 e US$ 1.100, por tonelada.

João Deguimedjian, que também é sócio controlador do Grupo Vibrapar, afirma que o aço será vendido a sucateiros. Os sucateiros vendem o produto às siderúrgicas, que derretem o aço e o aproveitam como insumo virgem. A borracha será comercializada para fábricas de tapetes, solados de calçados, pneus e outros artefatos. Ela pode substituir 30% do material virgem – a borracha SBR, no Brasil produzida pela Petroflex – usado nessas produções.

“Recebemos propostas de compra da Vipal, da Amapá e da Azaléia, entre outras indústrias”, afirmou William Sidi, diretor da Univen, uma das subsidiárias do Vibrapar. Sidi responde também como diretor da Midas Elastômeros. Segundo ele, o nylon pode ser transformado em produtos têxteis, como tapetes e vestuário, mas exige um pós-tratamento que a Midas não faz. Ou seja, o comprador terá que reprocessar o nylon para retirada total de alguns resíduos de borracha.

O Brasil descarta, anualmente, cerca de 20 milhões de pneus de todos os tipos: para trator, caminhão, automóvel, carroça, moto, avião e bicicleta, entre outros. A partir de janeiro de 2002, entrará em vigor a resolução 258/99, do Conama, segundo a qual de cada quatro pneus produzidos ou importados pelo País, ao menos um terá que ter destinação correta,<

Ano da Publicação: 2001
Fonte: Centro de Informação Metal Mecânica-O Estado de São Paulo - 28/11/01
Autor: J. Penido
Email do Autor: jpenido@resol.com.br

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