Junk food para as tartarugas marinhas no sul do Brasil

Juliana de Azevedo Barros

A poluição marinha hoje é apontada como uma das principais ameaças às tartarugas marinhas. Das sete espécies existentes, cinco habitam o litoral do Rio Grande do Sul, são elas: a tartaruga-cabeçuda, a tartaruga-verde, a tartaruga-de-couro, a tartaruga-oliva e a tartaruga-de-pente. Estas são espécies ameaçadas de extinção.

As tartarugas marinhas possuem um complexo ciclo de vida, após deixar as praias de desova, seguem em direção ao mar, rumo ao oceano aberto, onde passam cerca de uma década até retornarem para zonas costeiras. Sabe-se que juvenis, quando em ambientes oceânicos, frequentemente ingerem resíduos sólidos quando se alimentam. Os efeitos causados por esta ingestão podem ser letais ou sub-letais e, direta ou indiretamente, responsáveis pela morte do animal. A obstrução do trato gastrointestinal pode acontecer mesmo com a ingestão de pequenas quantidades. Os efeitos sub-letais afetam a fisiologia, que ocorrem a partir da redução do ganho nutricional (diluição da dieta), que tem como consequência a redução do crescimento e da reprodução desses animais. Esses efeitos ainda contribuem para o acúmulo de gases no intestino, os quais podem influenciar o controle da flutuabilidade e, também resultam na falsa saciedade, diminuindo a busca por alimento.

Estudos sobre a ingestão de resíduos sólidos por tartarugas marinhas permitem conhecer sobre esse impacto e entender sobre a qualidade das áreas de alimentação e como as atividades humanas têm interferido nesses ambientes e dessa forma, permite auxiliar na elaboração de estratégias de conservação dos habitats de alimentação, considerada uma prioridade para aumentar as chances de sobrevivência das tartarugas marinhas.

O sul do Brasil é uma importante área de alimentação da tartaruga-cabeçuda, esta é uma região de elevada produtividade, pois a plataforma continental e a região litorânea do sul do Brasil têm influência das descargas de águas do Rio da Prata e da Lagoa dos Patos, bem como da Corrente do Brasil, que se desloca na direção Norte-Sul no verão e da Corrente das Malvinas, de direção oposta, no inverno. O encontro destas duas massas de água forma a Convergência Subtropical.

Para investigar a ingestão de resíduos sólidos pelos juvenis de tartarugas-cabeçudas em ambiente oceânico no extremo sul do Brasil, animais mortos foram coletados a partir da captura incidental na pescaria de espinhel pelágico. O trato gastrointestinal foi removido e analisado quanto à presença de resíduos.

De 35 tartarugas analisadas no ambiente oceânico do Rio Grande do Sul, 34 apresentaram resíduos sólidos no trato gastrointestinal (91,43%). O volume médio dos resíduos nos tratos gastrointestinais foi de 7,06 ml (±9,46), e representou, em média, 3,83% do volume relativo em relação ao conteúdo alimentar. Plásticos representaram a maior parte dos resíduos sólidos antropogênicos (69%), seguidos de madeira (13%), linha de pesca (9%), fibra sintética (4%), borracha (3%), carvão (1%) e isopor (1%). O lixo encontrado nos tratos gastrointestinais das tartarugas marinhas tinham as mais diversas origens, porém, na maioria das vezes, geralmente é desconhecida.

volume relativo dos resíduos sólidos antropogênicos na dieta das tartarugas-cabeçudas no sul do Brasil foi baixo. Entretanto, registrou-se uma alta frequência de ocorrência desses resíduos, o que representa um problema para a conservação das tartarugas-cabeçudas em ambiente oceânico. A obstrução do trato gastrointestinal pode acontecer mesmo com a ingestão de pequenas quantidades e os efeitos sub-letais da ingestão podem ter consequências severas, mas são difíceis de quantificar.

Resíduos sólidos antropogênicos parecem ser uma grande ameaça para os juvenis oceânicos no sul do Brasil. As tartarugas oceânicas, analisadas no presente estudo, se alimentam principalmente de itens flutuantes e próximos à superfície. Este comportamento promove a ingestão de resíduos antropogênicos flutuantes que se acumulam em zonas de convergência, as quais são importantes áreas de alimentação de tartarugas nessa fase.

A conservação das tartarugas marinhas em relação à ingestão de resíduos sólidos no sul do Brasil (assim como em outros oceanos) é um problema de grande abrangência geográfica que depende de cooperação internacional. Os juvenis de tartaruga-cabeçuda são originários de populações de várias regiões geográficas. Análises genéticas dos animais capturados incidentalmente em espinhel pelágico indicaram que 45% eram provenientes de populações brasileiras, enquanto os outros 55% vinham de outras áreas de desova, localizadas possivelmente na África ou mesmo Oceano Índico.

Juliana de Azevedo Barros é bióloga do Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental – NEMA

Este trabalho foi parte da dissertação de mestrado em Oceanografia Biológica, desenvolvida em parceria com o NEMA e a Universidade Federal do Rio Grande- FURG.

Ano da Publicação: 2010
Fonte: http://www.globalgarbage.org/blog/index.php/2010/07/16/junk-food-para-as-tartarugas-marinhas-no-sul-do-brasil/
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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