Lei do lixo para as cimenteiras

Desenvolvimento sustentável na indústria é muitas vezes associado a aumento de custos. Essa regra, porém, não é válida para o setor cimenteiro. Com o reaproveitamento de resíduos do próprio processo produtivo – o co-processamento –, as cimenteiras conseguem substituir parte da matéria-prima e do combustível utilizados na fabricação de cimento, tendo ganhos ambientais e de gastos. Mas há outras chances de melhorar ainda mais esses indicadores.

Se o co-processamento, adotado em meados da década de 1990, já está consolidado entre as cimenteiras brasileiras, agora o objetivo é dar um passo muito maior. O setor quer aproveitar lixo urbano para substituir parcialmente o coque de petróleo usado na produção. Não é de admirar. Utilizando o lixo, as companhias poderão substituir até 80% do combustível utilizado hoje no processo produtivo.

Para que isso seja possível, entretanto, será preciso uma lei no Congresso ou uma resolução específica do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Diante das negociações para isso, a expectativa do setor cimenteiro é que a atividade seja regulamentada em 2010. “A indústria de cimento é a única com potencial para operar com grandes volumes de lixo. Essa aprovação será importante para destruir esse resíduo em larga escala”, avalia o gerente de Ecologia Industrial e Meio Ambiente da multinacional Lafarge, Paulo Salomão.

Para se ter uma idéia das possibilidades, na Alemanha, onde a atividade já é autorizada e é proibida a criação de novos aterros sanitários, alguns arriscam que haverá falta de lixo urbano disponível em 2009.

Econegócio

O mercado cimenteiro brasileiro demonstra que já assimilou o conceito de econegócio, que reúne produtos e serviços desenvolvidos para solucionar problemas ambientais e utilizar métodos mais racionais de exploração dos recursos naturais para produção de bens e serviços. Apenas o aproveitamento de resíduos já permite às fábricas substituírem, em média, 15% do coque de petróleo e 10% da matéria-prima utilizada na produção do cimento.

Considerando que o gasto energético representa um terço do custo total de produção da indústria cimenteira, o co-processamento se torna um forte fator de competição. Além de reduzir custos com matéria-prima e energia, as empresas ainda eliminam grandes passivos ambientais gerados pelos resíduos. Segundo previsões, em breve será impossível uma cimenteira sobreviver no mercado sem aproveitar resíduos e lixo.

De olho nesses números, duas gigantes do mercado mundial de cimento, a Lafarge, de origem francesa, e a Cimpor, de Portugal, constituíram uma joint venture no Brasil para desenvolver a cadeia de co-processamento. Formada em 2004, a Eco-Processa utiliza hoje 750 mil t/ano de resíduos na produção de cimento. Esse volume permite a economia anual de 330 mil t de coque de petróleo e 345 mil t de minérios.

“Nossa empresa cuida da captação e da adaptação para o uso de resíduos. Há hoje uma demanda muito grande por resíduos no mercado. Isso se explica porque, com o co-processamento, o resíduo é extinto e se elimina o passivo ambiental. Isso é ecologia industrial”, explica o diretor da Eco-Processa, Francisco Leme.

Já a brasileira Votorantim Cimentos decidiu seguir por outro caminho. A empresa possui uma gestão própria para co-processamento. Dos 25 fornos da companhia, 12 já estão licenciados para usar resíduos. “Hoje utilizamos cerca de 400 mil t de resíduo por ano e temos potencial para chegar a 1 milhão de t/ano nos próximos cinco anos”, conta o gerente de Negócios da Área de Co-Processamento da empresa, Francisco Souza.

Tecnologia

Para se habilitar ao co-processamento, as fábricas brasileiras precisam de autorização dos órgãos ambientais. A atividade é regulamentada por duas resoluções do Conama. Das 65 unidades cimenteiras destinadas a moagem e produção de cimento no país, 35 estão licenciadas para realizar o processo.

Antes de obter a licença ambiental, porém, as empresas precisam fazer uma série de investimentos nas fábricas para reaproveitar os resíduos. Os principais custos dizem respeito à instalação de uma estrutura para estocar os resíduos e à adaptação dos fornos para a queima desse material.

A Lafarge investiu US$ 20 milhões e aplicará igual quantia nos próximos cinco anos para adaptar suas quatro plantas no Brasil. Três unidades já utilizam resíduos na produção de cimento, e a quarta estará pronta para o co-processamento em meados de 2009.

Atualmente a companhia substitui 36% de combustível fóssil por insumos energéticos alternativos, principalmente resíduos da indústria siderúrgica e pneus. A meta é aumentar esse número para 45% até 2010, percentual que poderá subir ainda mais com a autorização para uso de lixo urbano.

Ano da Publicação: 2010
Fonte: http://www.energiahoje.com/brasilenergia/noticiario/2008/12/01/372361/lei-do-lixo-para-as-cimenteiras.html
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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