Lixo do mundo pára na Ilha do Mel, no Paraná

Uma garrafa fechada com uma rolha é lançada ao mar. Dentro, um bilhete escrito à mão, para um destinatário anônimo, cujo conteúdo quase sempre remete a uma declaração de amor ou a um pedido de socorro. A cena imortalizada no cinema como um gesto romântico e solitário, na vida real ilustra uma das mais graves agressões ao meio ambiente: o lixo jogado nos oceanos e que vem parar nas praias trazido pela maré.

Uma pesquisa inédita, feita pela bióloga Andressa Rutz Debiazio, revela que o litoral do Paraná não está a salvo das garrafas, latas e embalagens que são arremessadas pelo homem em alto-mar e nas regiões costeiras. O estudo, que embasou monografia de conclusão do curso na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC), foi feito na Estação Ecológica Ilha do Mel, que compreende 95% da área total da ilha, no litoral do estado.

O resultado foi surpreendente: a bióloga encontrou 148 embalagens de 42 países diferentes. Material descartável, mas perfeitamente reciclável como metal, vidro e, na maioria, plástico (61%). Lixo que demora de seis meses a 500 anos para se decompor na natureza. Cerca de 76% das embalagens são de produtos alimentícios (sólidos e líquidos), com destaque para as garrafas de água (42%). Os produtos foram identificados pelo idioma nos rótulos e, sobretudo, pelo código de barras, que segue uma tabela universal. Foram ao todo dez coletas realizadas entre outubro de 2004 e maio deste ano ao longo dos 22 quilômetros de costa da reserva ambiental (a ilha toda tem 35 quilômetros). Uma pequena amostra dos quilos e mais quilos de lixo estrangeiro que chegam às praias de todo o estado diariamente.

A explicação para tamanha sujeira pode estar no vaivém de navios nos portos de Paranaguá e Antonina. Ao longo da pesquisa, Andressa trabalhou com quatro hipóteses para justificar a presença dos resíduos na Ilha do Mel (veja quadro). Dentre elas, a mais razoável é o arremesso desses objetos próximo à costa paranaense em função do estado de conservação das embalagens.

Diante dessa evidência, para ela ficou claro que os navios de todo o mundo que cruzam o Canal da Galheta em direção à Baía de Paranaguá têm culpa no cartório. “Não temos provas, mas é difícil acreditar que não sejam os navios que estejam jogando esses resíduos na água”, explica.

Por ano, os portos paranaenses recebem em média 2,5 mil embarcações de todo o mundo. De janeiro a junho deste ano, foram exatos 1.099 navios de 30 nacionalidades diferentes. A maioria dos objetos encontrados pela bióloga foi fabricada na China e na Itália, mas isso não quer dizer que os navios com essas bandeiras sejam os campeões da sujeira. “Não posso afirmar que determinado lixo é do país tal. Um navio chinês pode ter atracado, por exemplo, no Chipre antes de vir ao Brasil e trazido mercadorias fabricadas lá e não na China”, esclarece.

A questão principal, segundo ela, é o desrespeito à legislação internacional que rege o tratamento do lixo em navios. “Existe um certificado de origem que trata da questão do lixo. Cada vez que uma embarcação pára num porto precisa apresentar esse documento e aí recebe outro para apresentar no próximo porto. Até onde sei, o Brasil não solicita a apresentação desse certificado”. (Sérgio Luis de Deus / Gazeta do Povo)

Ano da Publicação: 2010
Fonte: http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2005/08/14/20433-lixo-do-mundo-para-na-ilha-do-mel-no-parana.html
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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