Em novembro de 2007, um artigo na CNN mostrou um lado da indústria eletro-eletrônica que muitas vezes fica oculta. Falava sobre Guiyu, cidade na China onde é feito o processamento de grande parte do lixo eletrônico não só da China como também de muitos países ditos “desenvolvidos”. Diz o artigo:
Por cinco anos, ambientalistas e a mídia têm dado destaque aos perigos para trabalhadores chineses que decompõem grande parte dos eletrônicos do mundo. Apesar disso, uma visita a esta cidade do sudeste da China (Guiyu) tida como o coração do despejo de “lixo eletrônico” mostra que houve pouca melhora. Na verdade, o problema está piorando ainda mais por causa da contribuição da própria China.
A china hoje produz mais de um milhão de toneladas de lixo eletrônico a cada ano, disse Jamie Choi, um ativista com o Greenpeace China em Beijing. Isso se soma a cerca de 5 milhões de aparelhos de televisão, 4 milhões de refrigeradores, 5 milhões de máquinas de lavar, 10 milhões de telefones celulares e 5 milhões de computadores pessoais, de acordo com Choi.
“A maioria do lixo eletrônico na China vem de outros países, mas a quantidade do lixo eletrônico doméstico está aumentando”, ele falou.
Esse negócio feio é movido por pura economia. Para o ocidente, onde regras de segurança aumentam o custo do descarte, é até 10 vezes mais barato exportar o lixo para países em desenvolvimento. Na China, migrantes pobres do interior enfrentam os riscos à saúde para ganhar alguns yuan, explorados por empreendedores sedentos por lucro.
Como em muitos outros casos, a China exacerba práticas que rolam de maneira cotidiana em todo o mundo. Exploração de trabalho potencialmente danoso, vista grossa das autoridades, tudo pelo lucro, terceirização de danos. Os chineses que trabalham com isso ganham por volta de 100 dólares por mês. Não tem como não lembrar dos depósitos em áreas periféricas de São Paulo, onde adolescentes derretem a solda de placas de circuitos, sem nenhuma proteção ou mesmo consciência do mal que os resíduos podem trazer. Uma vez o Adilson, saudoso coordenador de logística do Agente Cidadão, me contou que tinha conhecido um desses “empresários” em São Mateus, que dizia ser o “maior especialista em reciclagem de eletrônicos” do Brasil. O trabalho dele se resumia a comprar ou receber de doação grandes lotes de eletrônicos e vendê-los para a China. Jogava a sujeira pra baixo do tapete, ganhava dinheiro e ainda falava em nome de “reciclagem”. Outro trecho interessante do artigo da CNN:
“Claro, reciclagem soa ambientalmente melhor”, diz Wu Song, um estudante universitário local que estudou na área. “Mas eu na verdade não chamaria o que está acontecendo aqui de reciclagem”.
Também lá, os poucos que tentam fazer as coisas do jeito certo não obtêm muito sucesso. Já ouvi no Brasil coisas parecidas com o que diz Gao Jian, diretor de marketing da New World Solid Waste, na cidade de Qingdao:
“Nós nem atingimos o break-even (quando o faturamento supera o investimento). Esses caras pagam mais porque eles não precisam de equipamento caro, mas os métodos deles são realmente perigosos.”
Ano da Publicação: | 2012 |
Fonte: | http://lixoeletronico.org/blog/lixo-eletrônico-na-china-cnn-0 |
Link/URL: | http://lixoeletronico.org/blog/lixo-eletrônico-na-china-cnn-0 |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |