Nestes últimos 40 anos desde o lançamento do satélite artificial soviético Sputnik, em 4 de outubro de 1957 , cerca de dezoito mil objetos produzidos pelo homem foram colocados em orbita da Terra. Até recentemente existiam cerca de dez mil objetos de grande e médio portes ao redor do planeta, além de quarenta mil fragmentos. Estima-se que a quantidade desses detritos deverá se multiplicar nos próximos vinte ano. E o mais preocupante é que sete mil deles possuem dimensões superiores a vinte centímetros limite mínimo de visibilidade de um radar. Abaixo dessa medida, os objetos não podem ser detectados, apesar de se encontrarem numa região muito próxima da superfície.
Se lembrarmos que a freqüência normal de lançamento de satélites é de cem por ano ou mais, no próximo século a quantidade de detritos espaciais poderá se tornar uma ameaça às atividades humanas no espaço circunvizinho à Terra, bem como um elemento prejudicial às observações astronômicas feitas a partir da superfície do planeta.
Até agora, a maior parte do lixo espacial responsável por colisões desastrosas com naves, satélites e astronautas se constituiu de fragmentos ou resíduos oriundos da atividade pacifica, como satélites de comunicação, de estudos meteorológicos, de levantamento de recursos naturais, etc.. Um exemplo de poluição acidental ocorreu quando o terceiro estagio do foguete francês Ariadne , lançado em novembro de 1986, explodiu, dando origem a 465 fragmentos de tamanho superior a 10 centímetros e a 2330 estilhaços de um milímetro a um centímetro. No entanto, nos últimos anos, com o inicio dos testes com armas anti-satélites como o programa Guerra nas Estrelas, o problema do lixo espacial vem se agravando de modo assustador. Em testes realizados com um satélite destruído por um míssil, cerca de 275 fragmentos puderam ser registrados por radares logo após o impacto. Deve existir, porem, um numero muito mais elevado desses fragmentos, que não podem ser observados por serem muito pequenos. Outros testes dessa natureza granadas espaciais que, após destruírem o satélite-alvo, deixam uma verdadeira nuvem de estilhaços girando em torno da Terra estão previstos nos programas militares das potências atômicas. O programa Guerra nas Estrelas acabou sendo cancelado devido aos altos custos que o envolviam, mas recentemente os EUA desenvolveram um programa semelhante, com custos mais baixos, mas que provocam o mesmo problema do lixo espacial, embora a uma orbita mais baixa.
Segundo a ultima estimativa norte-americana, existem cerca de 3,5 milhões de resíduos metálicos, lascas de pintura, plásticos, etc.. de dimensões inferiores a um centímetro, orbitando no espaço próximo. Esta cifra cai para 17.500 com relação aos objetos entre um e dez centímetros, e a 7000 para os detritos de tamanho superior. Quase três mil toneladas de lixo espacial flutuam a menos de duzentos quilômetros do solo. De acordo com a NASA, este numero, já assustador, devera se duplicar antes do ano 2010. Até lá, e mais alem, os fragmentos vão continuar como um perigo em potencial, pois na velocidade com que orbitam 15 mil, 20 mil ou 30 mil quilômetros por hora se transformam em formidáveis projeteis, que ameaçam todos os objetos com que possam vir a se chocar.
A maior parte do lixo espacial poderá provocar colisões fatais com naves, sondas e satélites tripulados, numa ameaça às atividades dos astronautas. Existem vários exemplos de veículos espaciais danificados por colisões com detritos. Em 1982, um pedaço de um foguete soviético arranhou o ônibus espacial Columbia. Uma caixa de instrumentos eletrônicos do satélite americano Solar Maximum, recuperada pelos astronautas num vôo da Challenger, apresentava 160 perfurações produzidas por lascas de tinta que viajavam à velocidade orbital. Resíduos orbitais danificaram também as células solares do satélite europeu GEOS-2, colocado em orbita pela ESA. Também sofreram danos o telescópio espacial Hubble, satélites de telecomunicações, etc..
A media de objetos espaciais que reentram em nossa atmosfera é da ordem de 33 a 35 por mês. Alias, todos os objetos lançados em orbita ao redor da Terra deverão, um dia, retornar à superfície do planeta. Entretanto, muitos deles levarão centenas, milhares ou milhões de anos para cair.
Ao contrario da idéia difundida de que, sendo 2/3 da Terra cobertos por oceanos, a probabilidade de queda em regiões continentais é pequena, e em zonas densamente povoadas ainda muito menor, uma das quedas de resíduos espaciais ocorreu justamente na área urbana da cidade americana de Manitowoc, no estado de Winconsin. De fato, em 1962, o satélite soviético Sputnik 4, ao reentrar na atmosfera, abriu uma cratera bem no centro comercial daquela cidade. Os pedaços encontrados estavam tão quentes que os bombeiros tiveram de esperar algumas horas para recolhê-los.
Um dos maiores objetos espaciais que já reentraram na atmosfera foi o estagio do foguete Saturno II que lançou o Skylab, em 1973. Seu peso era de 38 toneladas, e a sua queda ocorreu em 1975, no Oceano Atlântico, ao sul dos Açores.
Em 11 de marco de 1978, às 1h20min da madrugada, o terceiro estagio de um foguete soviético reentrou na atmosfera em cima do Rio de Janeiro. O espetáculo pirotécnico formado por inúmeros fragmentos que brilhavam com uma luz intensamente azulada levou a maior parte dos observadores do acontecimento a acreditar ser aquilo uma frota de discos voadores. Na realidade, se a reentrada tivesse ocorrido minutos antes, o foguete teria caído na área urbana do Rio e não no Oceano Atlântico, como aconteceu.
Mas bem mais preocupante é a queda de satélites portando substancias radioativas, como aconteceu com o Cosmos-954, um engenho militar soviético que caiu próximo ao lago dos Escravos, no Canadá, em janeiro de 79. Ele carregava um reator nuclear que alimentava o seu radar. Os americanos, que acompanhavam a trajetória do Cosmos através de sua rede de radares, quando compreenderam que os cientistas soviéticos haviam perdido o controle da situação, lançaram um alarme atômico generalizado embora discreto para todas as capitais dos países ocidentais.
Infelizmente, esta não foi a primeira vez que um satélite portador de material radioativo atingiu a superfície terrestre, e conhecem-se alguns casos. Um exemplo recente, envolveu a sonda Cassini, que portava uma carga de plutônio que seria usado para energizar a nave quando já estivesse longe o bastante do Sol para carregar as suas baterias solares, foi lançado há alguns anos atras, com vários protestos da comunidade cientifica e de organizações civis, temendo que a nave explodisse e liberasse uma chuva de plutônio sobre o planeta. Para se Ter uma idéia da alta radioatividade do plutônio, uma gota desse material, jogada sobre a Baia do Guanabara, é mais do que suficiente para tornar as águas imprestáveis para consumo humano devido ao risco de câncer. Ou, para citar outro exemplo, recentemente, um navio japonês, levando um carregamento de mais de três toneladas de plutônio para processamento nas usinas nucleares japonesas, foi alvo de protestos mundiais, principalmente dos países por onde o navio navegaria em mares territoriais. Se o navio sofresse um acidente e afundasse, a carga de plutônio, apesar de protegida por contâineres e outras camadas protetoras, se vazasse, poderia dizimar toda a vida no planeta.
Apesar dos protestos contra os lançamentos de satélites com reatores nucleares, não se acredita que eles deixem de ser postos em orbita. O mais lógico será desenvolver métodos de maior proteção. Um satélite em orbita é menos perigoso que um reator na superfície. Mas recentemente, estão testando um novo método de propulsão de sondas e satélites, usando propulsão iônica, como foi testado com o Deep Space.
A solução para o lixo espacial reside num projeto militar norte-americano que foi desenvolvido alguns anos atras, um laser de alta potência que pode ser direcionado para atingir satélites em orbita a partir da superfície terrestre, com alta precisão. Espera-se que este projeto seja usado para eliminar os detritos espaciais, ou seja, converter um projeto militar para fins pacíficos e assegurar uma exploração mais segura do espaço, sem pôr em risco as atividades humanas.
Fonte: www.bio2000.hpg.ig.com.br
Ano da Publicação: | 2011 |
Fonte: | http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente-reciclagem/lixo-espacial-2.php |
Link/URL: | http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente-reciclagem/lixo-espacial-2.php |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
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