Ana Cláudia Nioac
29 de Julho de 2008, 14:04
Se você mora no Rio de Janeiro ou em São Paulo e gostaria de ajudar a combater o desmatamento na Floresta Amazônica mas não sabe o que fazer porque mora longe, a idéia dessa coluna é justamente lhe trazer uma opção: incentivar a produção de madeira plástica usando o nosso próprio lixo plástico.
Mas o que vem a ser madeira plástica?
A madeira plástica é um produto que apresenta propriedades semelhantes às da madeira natural. Ela é fabricada com conteúdo de plástico (de preferência reciclado) de pelo menos 50% em massa e possui dimensões típicas dos produtos de madeira natural industrializada. Isso quer dizer que ela pode ser utilizada para fazer tábuas, perfis, ripas e praticamente qualquer forma que se encontre por aí em madeira natural.
Além disso, oferece diversas vantagens em relação à madeira natural. Ela apresenta, por exemplo, maior durabilidade e não requer o uso de pesticidas; é fácil de limpar com água e sabão, é moldável e impermeável e pode ser furada, aparafusada e serrada. Ela pode ser feita a partir de diversos tipos de plástico e levar na composição cargas minerais e fibras naturais ou de vidro para aumentar a sua resistência e estabilidade, dependendo do que se queira atingir.
Nos Estados Unidos, o uso de resíduos plásticos como matéria-prima para a fabricação de mesas de piquenique, bancos de jardim, tampas de lixo, cercas, mourões e outras aplicações destinadas a ficar ao ar livre cresce vertiginosamente a cada ano. No Brasil, embora incipiente, esse mercado de reciclagem de plástico aparenta ser promissor, impulsionado pelo momento favorável que as questões ambientais desfrutam.
Em São Paulo, a recicladora Wisewood acaba de acionar suas máquinas para a produção de cruzetas de poste elétrico (aquelas madeirinhas sobre as quais os fios e cabos se apóiam), pallets e dormentes de ferrovia, usando como matéria prima a madeira plástica.
O presidente da empresa, Vladimir Kudrjawzew, engenheiro formado no ITA, conta que o grande diferencial do seu negócio está no desenvolvimento tecnológico do seu processo produtivo e na composição do material para garantir a qualidade dos seus produtos. Para isso, a Wisewood selou uma parceria com a professora Élen Vasques Pacheco, do Instituto de Macromoléculas da UFRJ, na busca da maior variedade possível de misturas de materiais recicláveis que possam ser comprados num raio de, no máximo, 100km da fábrica e que, ao mesmo tempo, atendam às exigências dos seus produtos.
Vladimir reforça que embora os resíduos de pós-consumo industrial (como aparas e peças deformadas) sejam, na maioria das vezes, mais baratos que os materiais recicláveis vendidos pelas cooperativas, a recicladora garante o mínimo de 50% de sua compra para cooperativas. Com isso, a empresa contribui para garantir o emprego e a renda da população que encontrou no lixo uma oportunidade de trabalho.
Luz, câmera e ação
E onde é que você, consumidor, entra em ação?
Um dos maiores desafios enfrentados no dia-a-dia de uma usina de reciclagem é a compra das suas matérias-primas. Suas maiores preocupações estão ligadas à garantia da freqüência de entrega, à homogeneidade do material (já que existem diversos tipos e cores de plástico) e ao estado dos resíduos (secos, molhados, limpos ou imundos). Esse problema acontece em virtude da falta ou a má gestão do sistema de coleta dos resíduos e da falta de recursos financeiros destinados para esse fim.
Portanto, o primeiro passo para contribuir é procurar saber se no seu bairro, ou em algum lugar próximo à sua residência e/ou local de trabalho, existe um sistema de coleta seletiva da prefeitura local ou por meio de cooperativas e sucateiros. Se não, existem alguns sites de cooperativas que coletam em domicílio, basta que você entre em contato com eles solicitando o serviço.
Mas lembre-se que para os catadores é sempre mais interessante coletar a maior quantidade possível de material reciclável de cada vez. Por isso, vale a pena organizar no prédio ou no condomínio a sua separação. A peça-chave nessa etapa é o porteiro ou o responsável pelo lixo. Ele deve estar bem instruído e treinado para garantir a eficiência na separação. A pior coisa é se dar ao trabalho de separar todo o material reciclável e ver que depois tudo se mistura no caminhão. É preciso saber também quais e como os materiais devem ser separados para serem coletados.
Cuidar do nosso próprio lixo dá trabalho. Na hora de separar o lixo reciclável, principalmente os plásticos, o ideal é que esses resíduos estejam lavados (de preferência reutilizando água de outras lavagens) e secos, o que agrega valor a esses materiais, tornando-os economicamente mais atrativos para as cooperativas. Já para os recicladores o importante é não deixar o material reciclável ser misturados com restos de alimentos ou lixos não higiênicos.
O segundo passo é, na compra de um produto feito de madeira, se informar sobre a sua procedência e, se possível, verificar se existe esse produto feito de outros materiais, como madeira plástica. Já passou da hora do consumidor brasileiro aprender a comprar e a exigir a sustentabilidade ambiental dos produtos nacionais.
Então, que tal fazer parte desse movimento e ajudar a preservar a nossa floresta e, ao mesmo tempo contribuir para destinação adequada do nosso lixo?
Ano da Publicação: | 2008 |
Fonte: | http://www.oeco.com.br/index.php/ana-claudia-nioac/52-ana-claudia-nioac/19114-oecod228748 |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |