O que retiramos de casa ou do local de trabalho e jogamos fora, inclusive o lixo tecnológico, não desaparece, somente vai para outro lugar
Em tempos modernos, com inovações tecnológicas sempre surgindo, a fabricação de aparelhos eletrônicos é grande. Novidades nessa área não param de ser lançadas, o que faz com que produtos como celulares, televisores, computadores e outros se tornem obsoletos em um curto período de tempo, e sejam substituídos por outros mais novos. Até esquecemos que, com o descarte dos aparelhos, são geradas milhares de toneladas de lixo, o chamado lixo tecnológico ou lixo eletrônico.
O lixo tecnológico não pode ser descartado como um material qualquer. O descarte incorreto, como em entulhos, em lixões ou exportando para países incapazes de dar o destino adequado, resulta em prejuízos ambientais e também à saúde humana. A falta de uma política de gestão desse tipo de resíduo, aliada a ausência de uma legislação que atinja todos os tipos de resíduos eletrônicos gerados, contribui para a gravidade do problema.
Em 2008, foram vendidos no mundo todo cerca de 1,2 bilhão de celulares e 4 milhões de notebooks, sem contar outras dezenas de milhões de computadores de mesa, televisores, aparelhos de DVD, máquinas fotográficas, MP3 e outros tantos produtos. Estes equipamentos contêm compostos tóxicos e metais pesados, como o chumbo. Durante o uso correto, estes equipamentos são inofensivos com relação ao contato com tais substâncias. Porém, no caso de um descarte e disposição final inadequados, podem trazer sérios riscos à saúde da população, principalmente associados a danos ambientais prováveis, como contaminação de solos ou de lençóis freáticos. Sem contar o grande desperdício de materiais presentes nesses aparelhos, enquanto o planeta se ressente de fontes de matérias-primas e locais seguros para disposição de resíduos, como aterros.
O destino mais adequado para o lixo eletrônico é a reutilização total ou parcial do produto descartado ou eventualmente sua reciclagem. Ainda que não exista uma mobilização nacional pra solucionar o problema, existem algumas iniciativas isoladas, por parte de ONGs, prefeituras de algumas cidades ou mesmo fabricantes de eletrônicos. Muitas empresas, visando minimizar os impactos ambientais de suas atividades, passaram nos últimos anos a recolher os próprios produtos usados e a reaproveitar a matéria-prima na linha de produção. Em Sorocaba, em outubro do ano passado, ocorreu o “Mutirão do Lixo Eletrônico – Recicle. Não descarte esta idéia!”, uma realização da Secretaria Estadual do Meio Ambiente com o apoio da Prefeitura Municipal. Na ocasião, foi recolhida uma grande quantidade de celulares velhos, pilhas e baterias.
Uma medida pioneira na prevenção de problemas com o lixo tecnológico foi adotada pela Universidade de São Paulo (USP). Para uma compra de 2 mil computadores, a universidade colocou no edital de licitação, ocorrida em setembro de 2008, o desejo que fossem equipamentos livres de chumbo e outros metais pesados, mais eficientes que os convencionais com relação ao consumo de energia e com componentes recicláveis. Os “micros verdes” adquiridos apresentam maior durabilidade e consomem 30% menos energia. Nos computadores sustentáveis, o chumbo, o bromo (elemento que dificulta a propagação de chama no equipamento), o cromo hexavalente (usado para combater a corrosão) e o cádmio (das baterias) são substituídos por outras substâncias. Graças a esta substituição, estes equipamentos, caso não sejam reutilizados e reciclados depois de descartados, trarão bem menos riscos à população se forem parar, por exemplo, num aterro sanitário de resíduos domésticos.
A questão dos danos causados pelo lixo tecnológico é relativamente nova, mas tende a ser um assunto em alta nos debates ambientais. Pesquisadores estão tentando melhorar a desmontagem e posterior reciclabilidade desses equipamentos. Já as empresas fabricantes estão entendendo a responsabilidade que têm pelo equipamento obsoleto quando convencem um cliente a comprar uma versão mais moderna. Individualmente, algumas atitudes podem ser tomadas, como por exemplo, ao trocar um equipamento, doar o antigo para quem possa usá-lo ou a instituições que trabalham com inclusão digital.
O que retiramos de casa ou do local de trabalho e jogamos fora, inclusive o lixo tecnológico, não desaparece, somente vai para outro lugar. Não consumir mais do que se precisa e maximizar a vida útil do que comprar é evitar o desperdício. E evitar o desperdício é uma atitude inteligente.
Amanda de Alcântara Etruri é aluna do curso de graduação em Engenharia Ambiental da Unesp-Sorocaba e Sandro Donnini Mancini (mancini@sorocaba.unesp.br) é professor da Unesp-Sorocaba (www.sorocaba.unesp.br/professor/mancini) e escreve a cada duas semanas, às terças-feiras, neste espaço.
Ano da Publicação: | 2009 |
Fonte: | http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=44&id=174939 |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |