O americano Adam Weissman, de 31 anos, é inteligente e bem articulado. Vive no Brooklyn, em Nova York, uma cidade que lhe daria infinitas opções de emprego e de consumo. Mas não é isso que ele quer. Pelo contrário. Desempregado por opção, diz que sua profissão é ser revolucionário. Adam dorme no chão de um escritório abandonado, sem banheiro. Recusou-se a fazer faculdade, só anda de bicicleta e jamais entra em lojas, nem mesmo para comprar roupas ou alimentos. Seu estilo de vida e seu radicalismo fazem parte do movimento freegan, crescente nos Estados Unidos e no mundo, com alguns adeptos no Brasil (leia a reportagem O almoço é grátis. Mas é um lixo)
Navegando na contramão do consumismo desenfreado contemporâneo, os freegans (junção da palavra inglesa free ou livre e vegan pessoas que recusam alimentos derivados de animais) têm pavor de dinheiro: trocam o emprego formal por trabalhos voluntários, vivem em prédios abandonados e lutam ferrenhamente pela morte do capitalismo, pela proteção ambiental e pelo fim da tortura aos animais. Evitamos ganhar dinheiro, gastar dinheiro, por acreditarmos que o capitalismo é imoral, diz ele. Tentamos viver de uma forma que não sustente este sistema.
Há onze anos adepto do movimento, Adam sonha com um mundo, a esta altura, quase impossível. Sua fala é ininterrupta e imperativa, apesar de contar verdades e estatísticas assustadoras sobre a fome mundial, os desmatamentos e o destino do planeta. Não tenho cartões de crédito, carro, ou qualquer bem. Minha única despesa é manter minha bicicleta. Não preciso consumir o que a sociedade me impõe, diz ele, que se transformou num porta-voz do movimento em Nova York.
A cultura do desperdício é o que mais revolta os freegans. Segundo um estudo do departamento de antropologia da Universidade do Arizona, cerca de 14% de comida consumida por uma casa nos Estados Unidos, vai para o lixo. Uma família de quatro pessoas joga fora 600 dólares por ano em alimentos. Isso inclui produtos frescos e dentro da validade. (De acordo com o Instituto Akatu para o Consumo Consciente, um terço dos alimentos comprados pelos brasileiros vai direto para o lixo. Este foi o tema da campanha lançada pela ONG no início deste ano).
Outro agravante é a supervalorização da mão-de-obra no país que torna mais barato jogar uma roupa rasgada fora, do que contratar uma costureira. O mesmo vale para móveis, computadores ou eletrodomésticos. Tudo acaba no mesmo destino: o lixo. Na cidade do seriado Sex and the City, a meca do consumo, 1,5 milhão de pessoas vivem na pobreza 34% delas tem de optar entre comer e pagar aluguel.
A contradição é tamanha: a mesma cidade produz um lixo sólido de quase três quilos por pessoa diariamente. São caixas, embalagens, garrafas, casacos, brinquedos e até celulares em bom estado. E é por isso, que Nova York tem se tornado o paraíso freegan. Montei meu apartamento inteiro com mesas, espelhos e cadeiras que encontrei na rua, diz a americana Dina Netra, mãe de um adolescente. As pessoas não têm tempo de lidar com o que não querem, diz ela, que aumentou sua coleção de vinil vasculhando as calçadas. Dina não está sozinha. Certa vez, encontrei uma caixa com mais de 20 CDs e DVDs novíssimos, numa das regiões mais nobres da cidade. Eram restos de um fim de namoro, conta Carlos Silva, um carioca que vive em Manhattan, e que também já resgatou uma pia nova em folha jogada em frente a um prédio.
Para mudar a mentalidade e hábitos da população, os freegans promovem workshops de conserto de bicicletas, de plantação de hortas, de reciclagem de plásticos, de corte e costura.
Ano da Publicação: | 2011 |
Fonte: | Planeta Sustentável |
Link/URL: | http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/lixo/conteudo_485216.shtml |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |