Um grupo de pesquisadores do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), em São Paulo, desenvolveu um método para transformar uma série de resíduos industriais em vidro. O processo pode ser aplicado imediatamente para conter a poluição industrial, dizem os cientistas
O resultado obtido é um material que pode ser usado na construção civil e não precisa ir mais a um aterro, onde poderia causar danos à população e ao ambiente. A pesquisa, que já está sendo conduzida há cerca de seis anos, é coordenada por Sonia Regina Homem de Mello Castanho, do Centro de Ciência e Tecnologia de Materiais do Ipen. E a idéia em si não é exatamente nova. “O processo de vitrificação de resíduos tido como tradicional se baseia na simples dispersão deles em uma matriz de vidro preexistente, o que, de certa forma, limita a quantidade de resíduo que pode ser incorporada”, ela conta.
Vitrificação de verdade
O diferencial dos novos esforços é a tentativa de não só fazer “grudar” os resíduos no vidro, mas fazer com que eles mesmos componham o vidro, ou seja, se transformem nele. Obviamente, desse jeito é possível incorporar muito mais resíduos por quantidade de material vitrificado. Mas o resultado não nasceu da noite para o dia. “Inicialmente, em nossos estudos, somente parte dos componentes dos resíduos era considerada auxiliar na vitrificação, a outra parte era calculada como material disperso”, diz Castanho.
“Foram os resultados animadores obtidos nessa fase que levaram ao estudo atual”, diz. Agora, todos os componentes dos resíduos são utilizados na formação do vidro. O resultado é um material que tem uma boa resistência química e com uma estrutura diferente da dos vidros tradicionais.
Segredo
De uma forma genérica, a produção de vidro com base em resíduos é a mesma que é usada na vitrificação comum. Funde-se a matéria-prima numa temperatura adequada e depois resfria-se rapidamente o material. O segredo para converter de forma eficaz os resíduos em vidro não está na técnica, mas na composição exata. “Esse ajuste é feito utilizando justamente os cálculos de formulação que estão sendo desenvolvidos em nossos estudos”, afirma a pesquisadora do Ipen.
Material que pode ser reciclado dessa maneira não falta. “Em teoria, todo resíduo que contenha metais tóxicos pode ser vitrificado”, explica Castanho. No entanto, é preciso fazer ajustes no processo de fabricação, de acordo com a composição de cada tipo de rejeito. “Embora não tenhamos estatísticas atualizadas e confiáveis para apresentar, a quantidade de resíduos que podem ser vitrificados seguramente ultrapassa a casa das centenas de toneladas por ano, apenas na região metropolitana da Grande São Paulo”, afirma a pesquisadora.
É claro que, numa visão de curto prazo, sai mais barato para as empresas simplesmente depositar seus resíduos num aterro do que os converter em vidro. Mas a verdade é que, se uma companhia estiver aí para ficar, ela precisará bancar a manutenção do aterro por um longo período e, em algum ponto do futuro, vai precisar dar tratamento adequado a seus depósitos tóxicos. Em suma, o barato tende a sair caro. Por isso, Sonia Mello Castanho considera que qualquer empresa que decidisse tratar seus resíduos imediatamente, em vez de no futuro longínquo, estaria de fato fazendo economia.
As pesquisas do Ipen foram conduzidas em parceria com algumas companhias, que cederam resíduos para os testes. “Temos mantido estreito contato de cooperação com algumas empresas. Elas têm demonstrado um certo interesse, pois o atual ambiente legislativo e de mercado as pressiona a possuírem processos limpos e ambientalmente sustentáveis”, diz a cientista.
Para já
O grupo do Ipen já está requerendo patente sobre o processo, que ainda pretende aperfeiçoar. Mas Mello Castanho diz que ele poderia ser aplicado de imediato, se desejado. &qu
Ano da Publicação: | 2005 |
Fonte: | www.setorreciclagem.com.br |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |