Nossa reciclagem é um lixo, mas há soluções

A coleta seletiva de São Paulo está estagnada: representa apenas 1% das
15 000 toneladas de resíduos que a prefeitura recolhe diariamente. Especialistas indicam como mudar esse cenário

Daniel Nunes Gonçalves
Revista Veja São Paulo – 05/08/2009

Reduzir, reutilizar e reciclar. É raro quem nunca tenha ouvido a recomendação para usar o princípio dos “três erres” na hora de consumir e dar um destino ao lixo que produz. A popularização da palavra sustentabilidade fez crescer a consciência ambiental e tem estimulado os paulistanos a fazer sua parte. Donas de casa vão aos mercados carregando sacolas de pano para não precisar gastar sacos plásticos, profissionais pensam duas vezes antes de imprimir seus e-mails, e nas escolas as crianças aprendem a separar papéis, latas e plásticos naqueles simpáticos cestinhos coloridos. A boa vontade da população, porém, não é suficiente para resolver um dos maiores problemas de metrópoles como São Paulo: o destino de seus resíduos. Apenas 1% das 15 000 toneladas de lixo produzidas diariamente na cidade passa pela coleta seletiva da prefeitura. Se levássemos em conta somente os detritos domiciliares que podem ser reaproveitados, esse número subiria para 7%. Muito pouco.

Como se divide o lixo coletado pela prefeitura de SPOs setenta caminhões de coleta seletiva da administração municipal atendem cerca de 20% dos moradores da capital. Muitos paulistanos tomam o cuidado de separar metais, vidros, plásticos e papéis naqueles cestos coloridos. Perda de tempo, já que esses materiais são jogados no mesmo caminhão e divididos só depois, em centros de triagem. Portanto, basta separar o lixo em dois sacos: um para rejeitos comuns, que vão parar em algum dos três aterros sanitários usados pelo município; e outro para recicláveis. Vale, claro, dar ao menos uma enxaguada para que restos de alimento não atraiam insetos.

Os caminhões de lixo reciclável da prefeitura, que carregam 140 toneladas diárias, passam em dias diferentes dos veículos de coleta comum. Duas concessionárias, Loga e Ecourbis, são responsáveis por 60% do serviço. O restante fica por conta de caminhões-gaiola de quinze cooperativas de catadores cadastradas pela administração municipal. Com 964 associados, elas são responsáveis também pela triagem de tudo o que é recolhido. Os 8,8 milhões de paulistanos que moram fora da rota desses veículos têm, caso queiram reciclar, de contatar cooperativas independentes ou se dar ao trabalho de levar, no porta-malas do carro, seus dejetos a pontos de entrega voluntária espalhados por empresas privadas, como os sessenta supermercados da rede Pão de Açúcar e os treze da Wal-Mart.

Quando comparado com os sistemas de coleta seletiva de capitais como Curitiba e Porto Alegre, que existem há duas décadas e atendem 100% da população, o atual programa paulistano, vigente desde 2003, é vergonhoso. “Acho lastimável que a metrópole que mais produz lixo na América do Sul não tenha políticas públicas de administração de resíduos sólidos compatíveis com o século XXI”, afirma Elisabeth Grimberg, coordenadora de ambiente urbano do Instituto Pólis, ONG que atua na área. “É inadmissível que apenas 1,5% dos 760 milhões de reais do orçamento anual da Secretaria de Serviços para o lixo seja destinado à coleta seletiva.” Segundo Elisabeth, 30% de tudo o que é rejeitado poderia ser reciclado, o que representaria uma economia anual de mais de 9 milhões de reais. “Sabemos que os números atuais estão aquém do ideal, mas estamos trabalhando para melhorá-los”, diz o secretário de Transportes e de Serviços, Alexandre de Moraes. Ele lembra que o orçamento previsto para a coleta seletiva neste ano, 11,8 milhões de reais, é o dobro do destinado em 2008.

O que fazer com o lixo não é uma questão que aflige apenas os paulistanos. Trata-se de uma preocupação mundial. Para se adequarem a leis ambientais cada vez mais rígidas, várias cidades ricas do mundo mandam seus rejeitos para fora. Mais de 80% do lixo de São Paulo já tem como destino os municípios de Caieiras e Guarulhos. Com o objetivo de evitar a proliferação de lixões antiecológicos, os aterros sanitários contam com tratamento para o refugo tóxico. Mas a capacidade desses espaços é limitada, e só uma reciclagem eficiente diminuiria a quantidade de detritos a ser enviados a eles. Para piorar, a recente crise econômica afetou as cooperativas de coleta e triagem. “O preço do papelão, das garrafas PET e das caixas longa-vida que vendemos para os recicladores caiu pela metade”, diz a ex-vendedora ambulante Olinda da Silva, coordenada da Coopere, no centro.

Ano da Publicação: 2010
Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/lixo/coleta-seletiva-lixo-reciclagem-consumo-atitude-solucao-politica-publica-489527.shtml
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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