O biogás do lixo como fonte de energia

Carolina Carvalho (*)

A gestão de resíduos sólidos, ou seja, o tratamento do lixo urbano propriamente dito, constitui um conjunto de diretrizes que tem por objetivo diminuir e até mesmo eliminar os impactos causados pela geração e disposição destes resíduos em locais destinados a estes fins, os chamados aterros. Sem o gerenciamento adequado, as principais conseqüências a serem enfrentadas pela população que vive próxima são: contaminação do solo e água, com fungos e bactérias; aumento da população de insetos e ratos, que são vetores de doenças graves; entupimento de redes de drenagem e escoamento; assoreamento de corpos d’água; emissão de gases tóxicos e gases que contribuem para o efeito estufa (o biogás); e por fim, aumento de custos com serviços posteriores para “consertar o estrago”.
Recentemente, visitei em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, uma Central de Tratamento de Resíduos (CTR), responsável pela recepção, tratamento e destinação final do lixo urbano. Para começar, é o único aterro sanitário de grande porte que é licenciado pela FEEMA (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente), Rio de Janeiro. Anteriormente, era o lixão da cidade, sem medidas de tratamento e segurança para a população local, e foco de doenças e contaminação.
Explicando em miúdos, um aterro funciona basicamente assim: a base do terreno é impermeabilizada por argila compactada e uma manta de polietileno. Sobre esta base é depositado o lixo coletado da cidade. A seguir, outra camada impermeabilizante é aplicada sobre a camada de lixo recém depositada. Esta medida previne o lençol freático de ser contaminado pelo líquido gerado na decomposição, o chorume. Além das medidas impermeabilizantes, foram inseridos drenos para o chorume e biogás (líquido e gases decorrentes da decomposição da matéria orgânica do lixo) serem captados para fora do volume de resíduos.
São bem interessantes as providências tomadas em relação ao chorume e ao biogás na CTR Nova Iguaçu. O biogás tem sido aproveitado como fonte de energia para o tratamento do chorume. Vou explicar. O biogás é composto por aproximadamente 50% de metano e 50% de dióxido de carbono, ambos gases do efeito estufa (GEE), e pequenas quantias de nitrogênio e oxigênio. Através dos drenos que mencionei antes, o biogás é captado e ativa unidades denominadas evaporadores, onde a água e vapores contidos no chorume também coletado pelos drenos são evaporados e os sólidos são sedimentados.
Os vapores gerados por este processo (tanto do biogás como do chorume) passam por filtros e são constantemente monitorados e este processo acaba por quebrar a molécula de metano, evitando assim a emissão deste composto para a atmosfera. Com os sólidos sedimentados, reduz-se o volume de chorume e seu potencial de contaminação.
Este projeto de aproveitamento energético do biogás para tratamento de chorume foi o primeiro do mundo a ser inscrito no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) na ONU, em 18 de novembro de 2004, e o primeiro com apoio do Banco Mundial. Como o próprio nome já diz, o MDL é um mecanismo de flexibilização do Protocolo de Quioto, que auxilia a redução da emissão de gases do efeito estufa, promovendo o desenvolvimento sustentável. Dados fornecidos pela CTR revelam que catadores do antigo lixão hoje trabalham na CTR. Ainda há um extenso programa no setor de responsabilidade social, que envolve integração com a comunidade, promovido pela empresa, através de palestras com temáticas ambientais, cursos profissionalizantes, oficinas de reciclagem e até mesmo alfabetização. Quem desejar saber mais é só acessar o site www.ctrnovaiguacu.com.br.
Este é um modelo de como os aterros sanitários deveriam funcionar em todos os lugares do mundo. É extremamente importante ter um modelo desses no Brasil, e mais importante ainda divulgá-lo às pessoas, para que saibam que há atividades que realmente se comprometem com a sustentabilidade do meio e também com a população. E para que levem adiante este exemplo, como um agente multiplicador, fazendo com que outros aterros também entrem neste sistema de gestão. E que o básico desta gestão fique na cabeça de todos: separar e reciclar o lixo sempre!
(*) Carolina Carvalho é geóloga (UNESP), mestre em sensoriamento remoto (INPE) e doutoranda em planejamento energético na Coppe (UFRJ).

Ano da Publicação: 2010
Fonte: http://www.tribunadobrasil.com.br/site/?p=noticias_ver&id=5428
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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