Dono de um valioso patrimônio ambiental, há anos o Estado do Rio vê sua riqueza ameaçada pela ausência de políticas de coleta seletiva de lixo e reciclagem. De acordo com a Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Rio, dos 92 municípios fluminenses, 67 ainda convivem com o risco de terem seus lençóis freáticos e recursos hídricos contaminados por lixões, onde milhares de famílias catam, literalmente, o seu ganha-pão. Mas iniciativas pontuais em algumas cidades trazem esperança a este panorama assustador para ambientalistas, ainda que não representem, quantitativamente, grandes avanços na área de reciclagem.
É o caso de Niterói, que além de ter o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, gaba-se de ter sido a cidade pioneira na implantação de um sistema de coleta seletiva, hoje uma realidade entre 20% da população do município. Orgulho maior ainda para os moradores do bairro de São Francisco, onde o projeto de triagem de lixo criado pelo professor Emílio Eigenheer completa 20 anos este mês.
Lá, 50% dos moradores, algo em torno de 1.200 residências, já separam o material reciclável do lixo orgânico antes de jogar tudo nas caçambas.
Esta é a rotina na casa de Irinete dos Santos, moradora de São Francisco. Ela e o marido Genival foram um dos primeiros casais a aderir à coleta seletiva, logo depois que Emílio, formado em filosofia, voltou da Alemanha com idéias sobre reciclagem e começou a bater de porta em porta em busca de parceiros, com o apoio da Universidade Federal Fluminense (UFF).
– Um pessoal da UFF veio aqui e explicou que deveríamos separar vidro, papel e papelão. Nunca tinha ouvido falar nisso até então, mas hoje já temos uma vasilha especial aqui em casa para colocar o material reaproveitável – conta Genival, hoje com 73 anos.
A lição foi passada para os quatro filhos e os cinco netos. Dois deles, Priscila, de 17 anos, e Vanessa, de 13, tentam convencer os amigos na escola da importância da separação do lixo. E até a noiva de um dos filhos de Irinete, moradora de outro bairro, aderiu à coleta seletiva.
– Ela separa o lixo na casa dela e traz para cá, para ser reciclado – diz Genival.
O material coletado pela família vai se juntar ao restante recolhido no bairro, na Grota do Surucucu, onde tudo é separado e prensado para ser vendido. Por mês, o bairro junta de 20 a 25 toneladas de material reciclável, o que não chega a 0,5% do total de lixo produzido por mês na cidade – 13.500 toneladas.
– É muito pouco em termos quantitativos, mas nossa iniciativa tem importância simbólica. Fomos uma das primeiras experiências sistemática de coleta seletiva do país, levada depois para Curitiba, Porto Alegre e outras cidades – comemora Emílio.
O que os ambientalistas que atuam no estado lamentam é que a iniciativa do professor tenha se difundido pouco por terras fluminenses. Sérgio Ricardo de Lima, ex-secretário-executivo da Associação Permanente de Entidades de Defesa do Meio Ambiente (Apedema) e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Guandu, reclama da ausência de ações integradas na área de coleta seletiva, coordenadas por uma política pública de reciclagem. Apesar de considerar a iniciativa niteroiense um indicativo positivo, ele ressalta que há muito o que fazer, desde a criação de programas de educação ambiental nas escolas à formação de cooperativas de catadores de lixo.
– O Estado do Rio ainda está na pré-história neste assunto. Temos entre 40 e 60 lixões, segundo levantamento do Ministério Público estadual. Megacidades como o Rio ainda não têm a coleta seletiva – reclama.
Presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alerj e autor de três leis sobre reciclagem, o deputado estadual Carlos Minc (PT) observa que além da questão ambiental, o não reaproveitamento do lixo tem efeitos econômicos gravíssimos. Entre eles, o desperdício de matéria-prima e energia, a não criação de empregos em cooperativas e
Ano da Publicação: | 2005 |
Fonte: | www.abrelpe.com.br |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |