O lixo e o Fator 10

Esforços internacionais convocam governos, empresas e sociedade civil para adotar o “Fator 10”, isto é, aumentar em 10 vezes a eco-eficiência no processo produtivo nos próximos 30 anos, buscando um desenvolvimento que promova o progresso das gerações presentes, mas que também garanta o das gerações futuras.



Em 1900 havia 1,5 bilhão de pessoas no mundo. Hoje existem seis bilhões. A “pegada ecológica” conceito surgido na década passada, fornece uma medida aproximada do impacto que a produção e o consumo de materiais, de alimentos, de combustíveis, etc., está tendo sobre o ambiente, mostrando a dimensão das armadilhas criadas pela civilização moderna para si mesma.

A economia do “jogar fora” está começando a dar sinais de transformação. A Bahia que recicla 21% do seu lixo, ainda tem mais de 90% das suas cidades sem esgotamento sanitário. Os esgotos são levados para as fossas ou despejados nas águas dos rios que abastecem campos e as cidades. Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, 80% de todas as doenças nos países em desenvolvimento advêm do consumo de água contaminada.



O conceito da minimização de resíduos, antes da reciclagem, pode ser incluído nas políticas de compras públicas nos três níveis: federal, estadual e municipal, estimulando o mercado nesta direção. Mecanismos sintonizados com o “Fator 10”, se introduzidos na Lei das licitações, induzirão à aquisição de produtos eco-eficientes pelos governos. Fica a sugestão para os congressistas eleitos e para os reeleitos.



Dados curiosos demonstram o estrago que, inadvertidamente, estamos causando ao Planeta. John Young, pesquisador da organização não-governamental Worldwatch Institute – WWI, calculou que para criar um simples par de alianças de ouro, são processados materiais equivalentes a um buraco de três metros de comprimento, por um e meio de largura e um e meio de profundidade. Tivemos duas grandes revoluções em termos de mudanças nas atividades econômicas, afirmou o cientista Lester Brown, fundador do WWI, em entrevista nas páginas amarelas da Veja. “A primeira foi a revolução agrícola, há dez mil anos. A segunda foi a industrial, que começou há dois séculos.



Estamos agora diante de outra grande reestruturação, que chamamos de revolução ambiental. A diferença é que uma durou muitos milênios e a outra, dois séculos. A revolução ambiental precisará acontecer em poucas décadas se quiser resultados”. Cerca de 150 mil brasileiros hoje vivem da coleta de latas de alumínio e geram uma renda que varia de R$ 200 a 600/mês. 45 latas de alumínio podem ser trocadas por um quilo de feijão e 35 por um quilo de arroz.



Cerca de 65% das latas de alumínio e 21% dos vasilhames de refrigerante (Pets) são reciclados no Brasil, o resto, com o nome one way (via única), não voltam para as fábricas. Ficam nas praias, ruas e rios; são parte do velho paradigma econômico do “jogar fora”.



A econologia – visão socioeconômico-ecológica integrada – ajuda na montagem da nova equação. O “Fator 10” é um aliado do programa “Fome Zero”, prioridade do governo eleito. Pode ajudar na redução da fome e ir além, gerando o lucro social, econômico e ecológico, integrados.



A poluição atmosférica mata três vezes mais que o trânsito. Pequenas partículas com dez micrômetros de diâmetro (1/2.400 de uma polegada) ou menores, podem se alojar nas alveólas do pulmão, como afirma o cientista Bernie Fischlowitz-Roberts, pesquisador do Earth Policy Institute – EPI. Na província canadense de Ontário a poluição atmosférica custa aos contribuintes cerca US$ 1 bi/ano em hospitalizações, emergências e ausências ao trabalho.



Quanto será que custa a poluição do ar, da terra e da água, aos cofres públicos aqui? A River Rouge, fábrica da Ford em Michigan, considerada um emblema da Segunda Revolução Industrial há 70 anos, foi modernizada. A Ford investiu US$ 2 bilhões na sua reforma transformando o telhado de 4 ha num “teto vivo”, uma área plantad

Ano da Publicação: 2004
Fonte: Ambiente Brasil
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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