O mito do lacre e a tecnologia

Provavelmente você já deve ter ouvido falar a respeito de como se pode ganhar dinheiro ou ajudar outras pessoas por meio do anel da latinha de alumínio, ou o lacre. Dizem que uma determinada quantidade de anéis de alumínio pode ser trocada por diversos equipamentos como cadeiras de roda ou ser vendida por um preço muito alto (1 quilo por até 500 reais), entre outras coisas.



O interessante é que, apesar de muita gente estar juntando os lacres, nunca se encontra pessoalmente quem ganhou dinheiro com isso: é sempre um amigo do amigo. Por quê? Porque é apenas um mito. Isso mesmo: os lacres de latinhas de alumínio não têm um valor especial. As ligas de alumínio são constituídas por pequenas porcentagens de cobre, silício, magnésio e zinco. O lacre tem uma composição bem pobre de alumínio. Essa característica reduz o rendimento da reciclagem dos lacres nos fornos que derretem o material. Por esse motivo, as recicladoras de alumínio aceitam o lacre junto da latinha, mas não separado. Isso significa que, com o mesmo peso, o lacre tem um valor muito menor do que a própria lata para as empresas recicladoras.



Além disso, são necessárias em média 70 latinhas para chegar a 1 quilo de material e mais de 3,3 mil lacres para obter o mesmo peso. Mesmo que você já tenha quilos de anéis da latinha, sua liga, pobre em alumínio, reduz muito o valor em comparação ao do lacre junto da lata, o suficiente para ser recusado. Daí só restar a possibilidade de uma produção artesanal.



Ninguém sabe como esse mito começou, mas no passado houve promoções das empresas envasadoras, como a Coca-Cola, que promovia trocas de brindes pelos anéis. Estes anéis tinham o objetivo unicamente de promover a marca, não tendo utilidade para a reciclagem de latas de alumínio. E o “mito dos lacres” não pegou só no Brasil. Na Noruega, por exemplo, as peças seriam trocadas por cachorros-guias para cegos.



Apesar do mito, a verdadeira reciclagem tem papel vital na preservação ambiental e no combate ao desperdício, gerando vários benefícios. Com a reciclagem de latas de alumínio, economizam-se 95% da energia elétrica necessária para a produção de metal primário (lingote). Por meio da reciclagem, o Brasil economiza energia elétrica suficiente para abastecer por um ano a região metropolitana de Belo Horizonte ou um Estado como o Piauí.



A atividade da reciclagem tem uma importância social grande ao beneficiar aproximadamente 160 mil pessoas e 2 mil estabelecimentos industriais/comerciais engajados na coleta, comercialização, produção de equipamentos e processamento da sucata de latas de alumínio.



A reciclagem de latas de alumínio ajudou a ampliar a consciência ecológica no Brasil e viabilizou a reciclagem de outros materiais de menor valor agregado: a sucata de latas de alumínio vale atualmente cerca de 33 vezes a de latas de aço, 6 vezes a de garrafas plásticas (PET) e 55 vezes a de garrafas de vidro. E isso tem tudo a ver com tecnologia. Quando se fala em tecnologia, a tendência é pensar em robôs, espaçonaves, clones e computadores de última geração.



Em muitos casos, avanço tecnológico significa saber o que coletar para reciclar. É a falta de tecnologia que leva empreendedores a tomar a decisão errada, como coletar o lacre e jogar fora a latinha. É impossível entender o funcionamento da economia sem considerar o progresso técnico. O entendimento de como a tecnologia afeta a nossa vida nos dá a compreensão do crescimento da riqueza das empresas e países. São as tecnologias e inovações que transformam não apenas a economia, afetando profundamente toda a sociedade. Elas modificam a realidade econômica e social, além de aumentarem a criação de riqueza e geração de renda. É a principal arma dos empresários e do próprio governo para a promoção de competitividade e progresso social. Se você realmente quer ganhar dinheiro, considere a importância da tecnologia, sob o risco de passar a vida juntando lacres de latinhas de alumíni

Ano da Publicação: 2005
Fonte: www.reciclaveis.com.br
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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