O outro lado da reciclagem

Quando se fala em reciclagem, parece tudo maravilha. Os que juntam o material a ser reciclado contribuem para o meio ambiente, uma porção de gente encontra seu sustento recolhendo ou revendendo o material, enquanto terceiros transformam aquilo em outros produtos. E todos ajudam as empresas que fabricam os produtos originais a não enfrentarem um problema que, a princípio, deveria ser delas.



Na vida real a coisa não é tão simples, nem bonita assim. Os que juntam o material para reciclar geralmente têm que lavar as embalagens e não encontram tão facilmente locais para levar determinados produtos, como celulares e baterias. Os que recolhem o material muitas vezes são explorados por atravessadores que lhes pagam ninharia e revendem o recolhido pelo dobro ou mais. E mais: o recolhimento de material para reciclar já foi apontado como uma verdadeira indústria da miséria, porque seria o único meio de sustento de pessoas que não conseguem emprego.



Os artesãos da reciclagem nem sempre têm melhor sorte. Salvo alguns costureiros e artistas que usam a reciclagem como um marketing para as peças criadas, e ganham dinheiro com isso, a grande maioria faz cintos, colares, pulseiras, bolsas e vendem em feiras de fim-de-semana ou no boca-a-boca.



Por fim, as empresas que ganham bilhões com os produtos originais estão pouco preocupadas com o destino final do que produzem. Um exemplo são os fabricantes de pneus.



PET e celular



O Brasil usa PET desde 1988. Em 1994, a produção era de 80 mil toneladas. Em 2005, subiu para 374 mil. Em 1996, a taxa de reciclagem era de 16,2%. Em 2006, chegou a 51,3%. Apesar disso, sobram ainda 182 mil toneladas anuais que ficam por aí, entupindo bueiros ou boiando em rios, levando séculos para degradar-se.



Há novidades que diminuem o problema. Em 2007, a Tintas Coral usou 21 milhões de embalagens plásticas na composição de matérias-primas para os produtos dela. No entanto, o que sobra na natureza ainda é muito.



Só 2% dos brasileiros reciclam seus celulares apesar de 74% acharem que isso é bom para o meio ambiente. No mundo, não é muito diferente: apenas 3% dos celulares vendidos voltam à linha de produção. Isso é resultado de um estudo da Nokia, que falou com 6,5 mil pessoas em 13 países.



Grande parte dos entrevistados (44%) guarda os aparelhos em casa. No Brasil, apenas 32% fazem isso, enquanto 29% dão seu aparelho para outra pessoa. Mas enquanto aqui 10% jogam o aparelho antigo no lixo comum, no resto do mundo essa taxa cai para 4%. Cerca de 80% de um celular são formados por plástico, circuitos eletrônicos e metais, que podem ser reciclados.



Cidade sem lixo



Recentemente acompanhei no Blue Bus, um site focado em propaganda e marketing, mas que também fala de costumes e variedades, comentários de internautas a respeito de reciclagem, a partir da pesquisa da Nokia. Um disse que já havia tentando oferecer equipamentos antigos a ONGs que trabalham com inclusão digital, mas que recebeu como resposta "que não tinham como mandar pegar". Perguntava ainda se alguém já tentou "colocar pilhas AA e AAA numa lata de lixo (verde)? Se achou alguma? Estava limpa, só com pilhas? Ou tinha restos de comida?"



Outro falava que "enquanto os fabricantes lançam novos modelos freneticamente, estimulando a troca de aparelhos, ninguém se lembra de fazer a coleta de celulares usados. Troquei recentemente um aparelho e andei por todo o shopping buscando um local onde pudesse depositar meu velho. Nenhuma das lojas de celulares do shopping tinha algum tipo de coleta. Aliás, me olhavam com cara de interrogação".



O mesmo Blue Bus reproduziu notícia da BBC, falando de cidade-exemplo de reciclagem: "Kamikatsu, uma pequena cidade no Japão, não tem serviço de coleta de lixo – os moradores são responsáveis pela coleta seletiva e reaproveitamento de material orgânico. O programa ‘‘Lixo Zero‘‘ levou a uma redução do volume de lixo produzido, especialmente comida. A população tem que separar os itens que joga fora dividindo em 34 categorias para reciclagem – uma sofisticação de classificação que separa diferentes tipos de plástico, por exemplo. O prefeito diz que a iniciativa da cidade deveria ser adotada em todo o mundo para reduzir não apenas o lixo, mas também baixar o preço dos alimentos, já que há menos desperdício".





Fonte: O Povo

Ano da Publicação: 2008
Fonte: http://www.reciclaveis.com.br/noticias/00808/0080818lado.htm
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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