Os perigos do lixo eletrônico

Saiu neste mês a 9ª edição do Greenpeace’s Guide to Greener Electronics, um ranking das indústrias eletrônicas “mais verdes” ou menos poluentes, que são avaliadas por critérios de eficiência energética, mudanças climáticas, redução de substâncias tóxicas em equipamentos e programas de manejo e reciclagem do lixo eletrônico (e-waste). A Nokia assumiu a primeira posição do guia verde graças a um programa de reciclagem de lixo eletrônico na Índia, obtendo 7 de 10 pontos possíveis, seguida, em ordem decrescente, pelas Samsung, Fujitson Siemens, Sony Ericsson, Sony, LG, Toshiba, Dell, HP, Acer, Panasonic, Philips, Aple, Lenovo, Motorola, Sharp, Microsoft e Nitendo.

O descarte de equipamentos eletrônicos por desgaste ou obsolescência – e principalmente por mero consumismo – vem produzindo um volume crescente de lixo eletrônico que hoje, segundo algumas ONGs, já seria capaz de lotar anualmente um comboio ferroviário cujo comprimento daria uma volta ao mundo. A Índia é pioneira na importação de lixo eletrônico dos países ricos para a recuperação lucrativa de seus materiais “nobres” utilizados em sua fabricação, aproveitando-se de sua mão-de-obra farta e barata..

O descarte do lixo orgânico doméstico caminha para ter a sua reciclagem viável, porém outros resíduos são potencialmente mais perigosos, principalmente os não biodegradáveis. É o caso das substâncias tóxicas e metais pesados encontradas nos equipamentos eletrônicos que compramos e descartamos em períodos cada vez menores. Uma boa parte deles acaba sendo depositada nos aterros sanitários onde diversos de seus componentes podem contaminar continuamente o ambiente, principalmente a água dos lagos, rios e lençóis freáticos. Assim, o conforto e satisfação que essas maravilhas da tecnologia nos proporcionam podem se transformar em ameaças quando retornam às nossas casas sob a forma de alimentos de origem animal e vegetal que se utilizam da água como fator de produção.

A lista dos elementos e compostos químicos tóxicos utilizados em equipamentos eletrônicos associada aos danos à saúde é um verdadeiro circo de horrores:

Chumbo – usado em TVs, celulares e computadores – Danos cerebrais, neurológicos e renais, doenças do sangue e comprometimento de fetos. Em altos níveis de exposição causa vômito, diarréia, convulsões, coma e morte.

Mercúrio – usado em lâmpadas, displays, telas LCD, chaves e circuitos impressos – Altos níveis de exposição contribuem para danos cerebrais, renais e problemas de desenvolvimento de fetos, podendo contaminar o leite materno e os peixes. A sua ingestão ou inalação causa danos ao sistema nervoso central e aos rins.

Cádmio – usado em baterias de celulares, resistores, detetores de infra-vermelho, semicondutores, tubos de TV antigos e alguns plásticos – Sua concentração no organismo é cumulativa e pode causar problemas de rins, danos na estrutura óssea, além de ser cancerígino.

Arsênico – usado em celulares – Causa doenças de pele, prejudica o sistema nervoso central e pode causar câncer de pulmão.

Belírio – usado em placas-mãe de computadores e celulares – Causa câncer de pulmão.

Cromo hexavalente – usado na proteção de placas metálicas contra a corrosão – Causa bronquite asmática e deformações do DNA.

Plásticos e PVC – constituem, em média, 20% do material dos computadores, usados em circuitos impressos e componentes como conectores, gabinetes e cabos – São difíceis de serem separados na reciclagem e, quando queimados, produzem substâncias tóxicas, e, inaladas, causam problemas no aparelho respiratório.

Retardantes de chamas (BRTs: Brominated Flame Retardant) – Causam desordens hormonais, nervosas e reprodutivas.

Fonte: SVTC (Silicon Valley Toxics Coalition)

No Brasil, encontra-se tramitando no Congresso o Projeto de Lei 1991/2007 sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que é bastante avançada. Nele, o lixo eletrônico é classificado como resíduo sólido especial e reverso. Isto significa que o material eletro-eletrônico descartado deva passar por um programa de logística reversa do fabricante como na Índia, mas aqui sob a responsabilidade das Prefeituras. Somente depois, por um procedimento diferenciado de manejo, será depositado nos aterros sanitários. Mas a questão de sempre é que a legislação, mesmo avançada, depende de sua adoção por todos, sem o que não funciona.

Há dicas universais que podem ser encontradas no Google, sob as mais diversas chaves: lixo eletrônico, lixo tóxico, e-waste, toxics etc. É também indispensável conhecer desde já – e usar – os pontos de descarte na cidade, mantidos por empresas de responsabilidade social como agências bancárias, supermercados, lojas de operadoras telefônicas etc. Duas delas são bastante simples e interessantes:

Pilhas – se o seu MP3 é um emérito gastador de pilhas, adquira baterias recarregáveis e um carregador (preço ridiculamente baixo), com a vantagem de preservar o bolso.

Coleta seletiva – se em seu bairro ela ainda não foi implantada, não será sacrifício acumular o seu lixo eletrônico para solicitar o descarte a um amigo que já tenha o serviço.

Mas a dica mais original vem de um site muito visitado por engenheiros, o www.howstuffworks.com (como a coisa funciona), sobre o poder político da compra: when consumers talk, electronics listen”, ou, quando os consumidores falam, os eletrônicos escutam.

Ano da Publicação: 2010
Fonte: http://wwo.uai.com.br/UAI/html/sessao_11/2008/09/28/em_noticia_interna,id_sessao=11&id_noticia=81301/em_noticia_interna.shtml
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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