Partindo de menos lixo para lixo-zero

No Parque Nacional de Yellowstone, os copos transparentes e talheres brancos de plástico não são o lixo típico de uma lanchonete. Feitos de plásticos a base de plantas, eles se dissolvem como mágica quando aquecidos por mais de alguns minutos.

No Ecco, um restaurante popular em Atlanta, os garçons não raspam mais os restos de comida dentro do lixo. Eles são jogados em cilindros de 18 litros e levados para uma pilha de compostagem nos fundos.

E em oito de suas fábricas na América do Norte, a Honda está reciclando com tanta diligência que elas se livraram de todas as suas lixeiras.

No Parque Nacional de Yellowstone, os copos transparentes e talheres brancos de plástico utilizados pelos visitantes são feitos de plásticos
a base de plantas. Dissolvem-se como mágica quando aquecidos por mais de alguns minutos
Em todos os Estados Unidos, uma estratégia antilixo conhecida como “lixo-zero” está deixando de ser exceção e se transformando em norma, ganhando espaço nas lanchonetes das escolas, parques nacionais, restaurantes, estádios e corporações.

O movimento é simples na teoria, embora nem sempre o seja na prática: produzir menos lixo. Evite as embalagens de isopor ou qualquer outra que não seja biodegradável. Recicle ou transforme em composto tudo o que puder.

Apesar de nascida do idealismo, a filosofia de lixo-zero está sendo incentivada por causa da dura realidade: a dificuldade cada vez maior de conseguir permissões para novos aterros sanitários e uma consciência de que os dejetos orgânicos nos aterros liberam metano que ajuda a aquecer a atmosfera da Terra.

“Ninguém quer um aterro perto de casa, inclusive nas áreas rurais”, disse Jon D. Johnston, chefe de gerenciamento de materiais para a Agência de Proteção Ambiental que está ajudando a liderar o movimento do lixo-zero no sudeste dos EUA. “Nós percebemos que o aterro é valioso e não podemos enterrar coisas que não precisam ser enterradas.”

Os norte-americanos ainda são os campeões incontestes do lixo, jogando cerca de 4,6 libras por pessoa por dia, de acordo com os números mais recentes da EPA. Mais de metade disso termina nos aterros ou incinerada.

Mas lugares como a comunidade da ilha-resort de Nantucket oferecem um vislumbre do futuro. Quase sem espaço para aterro e preocupados com o custo de enviar o lixo de barco para o continente a 48 quilômetros de distância, eles implantaram uma rígida política de gerenciamento do lixo há mais de uma década, disse Jeffery Willett, diretor de obras públicas na ilha.

A cidade, com o consentimento dos moradores preocupados com os aumentos dos impostos, obriga a reciclar não só itens que são normalmente reprocessados como o alumínio, vidro e papel, mas também pneus, pilhas e utensílios domésticos.

Jim Lentowski, diretor-executivo da Fundação de Conservação Nantucket sem fins lucrativos e morador permanente da ilha desde 1971, disse que separar o lixo e entregá-lo ao complexo de reciclagem e disposição se tornou algo natural para a maioria dos moradores.

O complexo também tem uma estrutura parecida com uma garagem onde os moradores podem deixar livros e roupas e outros itens reutilizáveis para outras pessoas levarem para casa.

O estacionamento para cem carros do aterro é um ponto de encontro animado para os moradores locais, acrescentou Lentowski. “Na manhã de sábado durante a época eleitoral, os políticos ficam por lá e entregam broches de campanha”, disse. “Se você quiser sentir como é a comunidade, este é um ótimo lugar para ir.”

Willet disse que apesar de a quantidade de lixo que os moradores da ilha produzem continuar a mesma, a proporção de lixo que vai para o aterro caiu para 8%.

Por outro lado, os moradores de Massachusetts como um todo enviam uma média de 66% de seu lixo para os aterros ou incineradores. Apesar de Willett ter divulgado o modelo de Nantucket por todo o país, a maioria das comunidades ainda não têm a infraestrutura para estabelecer uma meta de lixo-zero.

Além da dificuldade de persuadir os moradores e empresários a separarem seu lixo, muitas cidades grandes e pequenas não estão dispostas a fazer investimentos significativos em máquinas como composteiras que podem processar alimentos e lixo orgânico dos jardins. Mesmo assim as atitudes estão mudando, e cidades como San Francisco e Seattle estão à frente da transformação. Ambas adotaram planos para incentivar práticas de lixo-zero e estão coletando o lixo orgânico nas calçadas nas áreas residenciais para compostagem.

Cena cada vez mais rara: televisor antigo é jogado em cesto de lixo em Burke, na Virgínia (Estados Unidos). Em todo o país, uma estratégia antilixo conhecida como “lixo-zero” está deixando de ser exceção e se transformando em norma, ganhando espaço nas lanchonetes das escolas, parques nacionais, restaurantes, estádios e corporações
Os resíduos alimentares, que segundo a EPA representam cerca de 13% do total de lixo em todo o país – e muito mais quando os recicláveis são levados em conta – são vistos como o próximo grande desafio.

Quando os restos de uma maçã, o pão embolorado e a comida da semana passada vão para os aterros, eles não devolvem os nutrientes que retiraram do solo ao serem produzidos. Além disso, quando são selados nos aterros sem oxigênio, os materiais orgânicos soltam metano, um potente gás de efeito estufa, enquanto se decompõem. Se forem para a compostagem, entretanto, os alimentos podem se decompor e retornar para a terra como um adubo natural, sem produzir metano no processo.

A Green Foodservice Alliance, uma divisão da Associação de Restaurantes da Geórgia, tem acrescentado restaurantes em toda Atlanta e periferia às suas áreas consideradas de lixo-zero. E novas companhias estão surgindo para atender ao crescimento da demanda dos restaurantes para o transporte de lixo para reciclagem e compostagem.

Steve Simon, sócio do Fifth Group, companhia que é dona do Ecco e de quatro outros restaurantes na área de Atlanta, disse que a parte mais difícil de participar do programa da área de lixo-zero não é treinar sua equipe, mas sim encontrar transportadores confiáveis.

“Agora há apenas dois na cidade, e nenhum deles tem mais de um ano de existência, então ainda é uma situação muito experimental”, disse Simon.

Ainda assim, ele disse que não tem muitas dúvidas de que o setor de transporte irá crescer e de que todos os cinco restaurantes eventualmente se tornarão lixo-zero.

As embalagens também estão evoluindo rapidamente como parte do movimento de lixo-zero. Bioplásticos como os usados nos garfos de Yellowstone, feitos de produtos à base de plantas, como o amido de milho, que imitam plástico, são usados para fabricar um número cada vez maior de itens que podem ir para a compostagem.

Steve Mojo, diretor-executivo do Instituto de Produtos Biodegradáveis, uma organização sem fins lucrativos que certifica esse tipo de produtos, disse que o número de companhias fabricando produtos compostáveis para fornecedores de serviços alimentícios dobrou desde 2006 e que muitos passaram a produzir itens como sacolas de compras e embalagens de alimentos.

A transição para o lixo-zero, entretanto, tem seus armadilhas.

Josephine Miller, uma funcionária ambiental de Santa Monica, Califórnia, que baniu o uso de isopor das embalagens, disse que alguns cidadãos têm inadvertidamente jogado as embalagens alternativas à base de plantas nas latas de lixo para reciclar, onde elas derreteram e colaram os outros itens. Yellowstone e outras instituições pediram às fábricas para marcar os itens biodegradáveis com uma faixa marrom ou verde.

Mesmo com essas dicas claras no design das embalagens, os consumidores terão que ser educados a pensar no destino de tudo o que forem jogar fora se quiserem que a filosofia de lixo-zero seja bem sucedida, dizem autoridades ambientais.

“A tecnologia existe, mas ainda é necessário um grande trabalho de educação”, disse Johnston da EPA.

Ele espera que as companhias e empresas privadas adotem a ideia mais rapidamente do que os cidadãos comuns porque o incentivo pode vir de uma pessoa que está no topo.

“Levará muito mais tempo para que os americanos comuns adotem a compostagem”, disse Johnston. “Atingir a minha casa e a sua é o maior desafio.”

Tradução: Eloise De Vylder

Ano da Publicação: 2010
Fonte: http://www.cmqv.org/website/artigo.asp?cod=1461&idi=1&moe=212&id=14227
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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