Plástico recuperado vira papel

Uma nova alternativa para minimizar o impacto ambiental causado pelos descartes plásticos começa a ganhar contornos industriais nos próximos meses. Em etapa final de testes, um papel sintético obtido de plástico reciclado de resíduos urbanos chegará ao mercado convertido em fitas adesivas, papel de impressão e rótulos. Resultado de uma parceria tríplice, o produto comprova que a união de forças entre cientistas e empresários na busca de desenvolvimentos para agregar valor à sociedade quase sempre acerta o alvo. O projeto demandou vários anos de estudos e ganhou corpo nos últimos três. Em abril de 2007 foi depositada a patente em nome dos três parceiros: Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos (DEMa/UFSCar), Vitopel e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A coordenadora do projeto e docente do DEMa, Sati Manrich, explica que, a fim de aproveitar o máximo possível o resíduo urbano, foram desenvolvidas várias formulações. Os rejeitos plásticos, depois de limpos e moídos, recebem aditivos para a obtenção de propriedades ópticas (brilho, brancura, dispersão e absorção de luz) e resistência mecânica ao rasgamento, à tração e a dobras. A blenda segue para a extrusão e resulta em um material semelhante ao papel derivado da celulose.

De acordo com a mentora da pesquisa, a ideia surgiu com o objetivo de buscar alternativas para minimizar o impacto ambiental causado pelo material plástico descartado com produtos de maior valor agregado. “A intenção era despertar o interesse para aplicações mais nobres, chamar a atenção tanto de empresários como da população”, explica Sati. O produto ainda incorpora outros aspectos ambientais importantes: seu uso tem a contrapartida de evitar a derrubada de árvores e economizar grande volume de água, necessário ao ciclo produtivo do papel celulósico.

Como principais características, a cientista ressalta a maior durabilidade, resistência à umidade e melhor aspecto visual, em comparação ao papel da celulose. A cientista indica o material para aplicações que requerem propriedades como barreira à umidade e à água ou maior resistência.

Na Vitopel, o novo material utiliza a tecnologia dos filmes de polipropileno biorientado (BOPP), resultando num material resistente, com aspecto diferenciado e similar ao do papel cuchê. “O produto requer extrusão mais sofisticada e biorientação”, comentou José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Vitopel, maior produtora de filmes flexíveis biorientados da América Latina e a terceira maior do ramo no mundo.

O projeto também contou com os conhecimentos da empresa em formulação e extrusão para o desenvolvimento de filmes multicamadas e de tratamento que oferecem ao produto final características de resistência associadas à espessura mais fina. A companhia investiu dois milhões de dólares na elaboração do composto.

“Só falta caracterizar melhor o produto, sua produtividade, padrão de cor, entre outros aspectos, para entrar no mercado comercialmente”, explicou Roriz. Dentro de dois meses, as primeiras 250 toneladas do material chegam ao mercado transformadas em fitas adesivas, papel de impressão e rótulos. Além dessas aplicações, também está previsto o seu uso em livros escolares, envelopes e catálogos institucionais, entre outros itens. De acordo com o presidente da Vitopel, o papel derivado de resíduos plásticos não concorre com o de celulose. “A ideia é ser um produto complementar, pode até ser laminado com papel”, disse.

A empresa tem capacidade instalada para produzir um total de 150 mil toneladas anuais de filmes flexíveis. Num primeiro estágio, seriam convertidas 10 mil toneladas do novo material que, a propósito, pode ser reincorporado ao processo produtivo.

Esse volume pode facilmente ser elevado para 50 mil toneladas anuais, de acordo com a demanda do mercado e desde que a empresa tenha condições de estabelecer um sistema de coleta contínua, fundamental para manter constante a produção. Da sua própria fábrica, a Vitopel poderá reabsorver 250 toneladas mensais de aparas. A empresa já tem potenciais fornecedores: algumas cooperativas de reciclagem com as quais mantém relacionamento.

O presidente da Vitopel comemora o fato de o produto ter despertado interesse internacional. “Se não estiver no raio de alcance de exportação, os três parceiros – Vitopel, UFSCar e Fapesp – podem licenciar a tecnologia”, declarou Roriz.

A docente do DEMa/UFSCar está envolvida com o projeto de caracterização de poliolefinas provenientes de resíduos urbanos para a fabricação de papel sintético desde 1996. Várias pesquisas abordaram o reaproveitamento de embalagens pós-consumo e em 2002 ganhou impulso o estudo que resultou no produto agora em vias de comercialização.

Fonte: Revista Plástico Moderno

Ano da Publicação: 2009
Fonte: http://www.reciclaveis.com.br/noticias/00907/0090710plastico.htm
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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