Plástico vira piso

resultado é um material inovador, de baixo custo e alta resistência, com potencial para aplicação no ramo da construção civil



O lixo urbano é, hoje, um problema ambiental e social. Diariamente, milhares de toneladas de resíduos são despejados nos aterros sanitários, boa parte constituída de matéria-prima reciclável como plástico, papel e vidro. As cidades de grande porte são as que mais sofrem com esse problema. Somente em Belo Horizonte, 4.500 toneladas de resíduos sólidos são despejadas por dia nos aterros municipais, de acordo com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). Desse total, 11% são plásticos, em suas diversas apresentações.



Na natureza, esse material leva cerca de 450 anos para se decompor. Na tentativa de diminuir esse impacto ambiental, uma equipe de pesquisadores da Escola de Engenharia da UFMG procurou desenvolver alternativas de uso do plástico reciclado. O resultado é um material inovador, de baixo custo e alta resistência, com potencial para aplicação no ramo da construção civil. A tecnologia, desenvolvida com o apoio da FAPEMIG , entre outros, já foi patenteada e recebeu, em 2001, o Prêmio Sebrae de Inovação Tecnológica.



Em 1992, o professor Antonio Ferreira Ávila, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG, embarcou para os Estados Unidos, onde faria o doutorado em Mecânica de Compósitos. O compósito é um material obtido a partir da aglutinação de dois ou mais elementos e que, depois de pronto, resulta em um produto mais resistente que as próprias matrizes. A Mecânica de Compósitos estuda a estrutura, a ação entre esses elementos e suas respectivas propriedades mecânicas resultantes.



Foi entre os americanos que o professor teve seu primeiro contato efetivo com a cultura da reciclagem. Pensando no problema brasileiro, ele resolveu buscar, dentro de sua área de conhecimento, alternativas que pudessem transformar materiais plásticos descartados em elementos úteis para a confecção de peças e engrenagens mecânicas. Ao realizar os levantamentos preliminares, Ávila descobriu que cerca de 20% do material plástico jogado no lixo era formado por polietileno teraftalato, o PET, utilizado na confecção de garrafas de refrigerantes. Essa se tornou, assim, a matéria-prima básica de seu estudo. “Por menor que fosse, uma fração reaproveitada desse material já representaria uma grande contribuição ao meio ambiente”, ressalta.



Praticamente sozinho, o professor iniciou, então, um estudo sobre as propriedades do PET e suas formas de aplicação. Uma dificuldade enfrentada foi o preconceito dos brasileiros em relação às qualidades do material reciclado. Segundo Ávila, existe uma tendência de se pensar que tudo o que é composto por material reciclável é de menor qualidade e menos resistente, o que não procede. Para o pesquisador, vencido esse preconceito, a indústria só tem a ganhar. “Uma grande vantagem do material é o preço. A indústria de reciclagem paga, hoje, cerca de R$ 0,60 por quilo de plástico. É mais barato que o quilo de areia.”



Compósito-verde

O primeiro desafio foi encontrar um material que casasse com o PET já que, sozinho, ele não reúne propriedade mecânicas suficientes para ser transformado em um material mais resistente. A resposta não estava longe. Para compor o novo produto, foi escolhido o polietileno de alta densidade (PEAD), utilizado na fabricação das tampas das garrafas de refrigerante. A principal vantagem do PEAD é possuir um ponto de fusão mais baixo que o do PET, demandando menor gasto de energia. Além disso, ele permite uma melhora significativa nas propriedades mecânicas do compósito.



Com a adição do PEAD, o PET passa a ter maior resistência ao impacto e maior acomodação das partículas, aumentando significativamente a rigidez e a resistência mecânica do produto final. Os dois materiais, uma vez triturados, misturados e prensados em proporções específicas, permitiriam a criação do inédito “compósito-verde”, como foi enfi

Ano da Publicação: 2005
Fonte: Revista Minas faz ciência edição 18 - http://revista.fapemig.br
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: bulletin@residua.com

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