Uma prova da falta de seriedade com que o Brasil encara a questão da reciclagem e do meio ambiente é a guerra das sacolas plásticas degradáveis. Atualmente, uma pessoa bem informada não tem condições de decidir entre uma sacola oxidegradável, uma de plástico comum ou uma biodegradável.
Os artigos abaixo mostram os interessados defendendo suas posições de uma forma que deixa consumidores e o comércio sem saber o que fazer.
O engodo dos plásticos oxidegradáveis
Deputados estaduais, vereadores e secretários de governo bem-intencionados em relação ao meio ambiente têm proposto projetos de leis para obrigar o comércio a substituir sacolinhas plásticas por sacolas supostamente biodegradáveis.
Na imaginação das pessoas, essas embalagens poderiam ser jogadas fora sem causar maiores danos ambientais. Isto não é verdade. E os projetos de lei nessa direção, embora louváveis na sua intenção, padecem de um grave engano técnico. Se aprovados, terão o efeito contrário e ocasionarão graves transtornos ao ecossistema.
Os plásticos que essas autoridades imaginam biodegradáveis na verdade não o são. Trata-se de plásticos meramente oxidegradáveis ou fragmentáveis, que apenas se esfarelam. Eles recebem um aditivo que acelera seu processo de degradação. Contudo, não se biodegradam, porque não se decompõem em até seis meses, como prescrevem as Normas técnicas nacionais e internacionais de biodegradação. As sacolas feitas com esses plásticos aditivados são incorretamente denominados de oxibiodegradáveis, caracterizando o apelo a um falso ecomarketing.
Os plásticos oxidegradáveis, quando começam a se degradar, dividem-se em milhares de pedacinhos. No fim do processo não vão desaparecer, e sim virar um pó que facilmente irá parar nos córregos, rios, represas, lagos e mares, etc..
Tal fato foi amplamente comprovado por universidades e centros de pesquisa como Cetea (Centro de Tecnologia de Alimentos) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Ulbra (Universidade Luterana do Brasil), Univille (Universidade de Joinville, Santa Catarina), Universidades de Michigan e da Califórnia nos Estados Unidos, dentre vários outros institutos acadêmicos.
Todas estas entidades constataram que as sacolas plásticas aditivadas não se biodegradam nem na superfície de aterros; liberam substâncias orgânicas; depois de fragmentadas não podem ser coletadas, nem recicladas mecanicamente e nem recuperadas energeticamente, pois o aditivo que recebem para acelerar o tempo de sua degradação pode ser prejudicial ao meio ambiente.
O que a população pode e deve fazer é praticar os 3 R’s: Reduzir o excesso de sacolas que são usadas para transportar compras. Reutilizá-las dando-lhes uma infinidade de novos usos, promover a coleta seletiva e Reciclá-las. Os plásticos são 100% recicláveis e a indústria da reciclagem no Brasil tem crescido ano a ano. Hoje, o País recicla 20% de sua produção de plásticos. O poder público pode ajudar de duas formas, aumentando a coleta seletiva municipal dos resíduos urbanos uma vez que somente 7% das cidades brasileiras têm esse tipo de serviço e estimulando a população a separar o lixo orgânico do reciclável dentro de suas casas.
As prefeituras também poderiam parar de jogar milhões de reais no lixo se, em vez de fazer aterros sanitários, construíssem Usinas de Recuperação Energética para gerar energia térmica e elétrica. Em todo o mundo, cerca de 150 milhões de toneladas/ano de lixo urbano vão para mais de 750 instalações para essas usinas, todas perfeitamente adequadas às mais rígidas normas ambientais. As embalagens e sacolinhas plásticas que todos utilizamos para embalar o lixo ajudam nesse processo, economizando combustível. Isso é possível devido ao elevado conteúdo energético dos plásticos, equivalente ao do óleo combustível e diesel.
As sacolinhas plásticas não foram desenvolvidas para permanecerem na natureza. A educação do consumidor sobre os benefícios dos produtos plásticos é uma parte importante da mensagem que a indústria de plásticos vem passando para toda a população. A cada um – indústria, consumidor e a gestão pública – todos têm seu papel fundamental no que diz respeito à questão do lixo.
Os plásticos são duráveis, leves, impermeáveis, resistentes, seguros, atóxicos, inertes, não mofam nem enferrujam. Daí porque os plásticos se tornaram indispensáveis à vida moderna. Se o material é tão bom e provém do petróleo (um recurso finito), ele jamais deveria receber um aditivo que acelere sua fragmentação, impedindo seu reúso! Isso é estimular o desperdício, o que vai contra as sociedades que pretendem ser ambientalmente corretas.
Francisco de Assis Esmeraldo é engenheiro químico, presidente da Plastivida – Instituto Socioambiental dos Plásticos, membro do Conselho Superior de Meio Ambiente da Fiesp, do Conselho Empresarial de Meio Ambiente da Firjan (RJ) e do Conselho Executivo da Associação Brasileira de Embalagens (Abre)
Plástico Ecológico, sim!
O mercado de embalagens plásticas degradáveis apresenta crescimento considerável no Brasil e no mundo. O uso de sacolas e outras embalagens plásticas que se decompõem com rapidez na natureza ganham cada vez mais adeptos. É uma tendência mundial, resultado da necessidade de solucionar problemas reais, tal como o acúmulo de embalagens plásticas no meio ambiente. O aumento da procura por essas embalagens sustenta-se por estudos e testes científicos que comprovam a eficiência das tecnologias e a necessidade por produtos eco-responsáveis.
O debate em torno do uso dos plásticos oxi-biodegradáveis sofre com informações distorcidas, que o colocam como material que se degrada em pedaços e que não é biodegradável. Infelizmente, esse posicionamento contrário por parte das petroquímicas é caso singular no Brasil. Em todo o mundo, novas e comprovadas tecnologias são aceitas e atestadas por universidades de renome internacional como Pisa (Itália), Universidade Blaise Pascal – Clermont Ferrant (França) e Aston (Reino Unido). Segundo esses laudos, plásticos oxi-biodegradáveis d2w desaparecem por completo. Após sua decomposição, resta apenas água, pequena quantidade de CO2 e biomassa, resultantes da biodegradação.
O posicionamento dessas instituições respeitadas serve como atestado de bons antecedentes para centenas de empresas ao redor do mundo. Exemplo disso é a inglesa Roberts Bakery que utiliza as embalagens d2w para guardar os pães de forma, com contato direto.
O mercado oferece dezenas de soluções para diminuir o impacto dos plásticos convencionais incorretamente descartados no meio ambiente: materiais biodegradáveis e compostáveis (feitos à base de amido de batata e milho, por exemplo) de origem renovável ou não, oxi-biodegradáveis (que aceleram a degradação e posterior biodegradação do plástico convencional por meio de aditivos), hidro-biodegradáveis e também os hidro-solúveis.
Plásticos oxi-biodegradáveis d2w se degradam e posteriormente se biodegradam, sim. Da mesma forma que os plásticos convencionais. A única diferença está no tempo que o processo vai levar, muito mais curto nos plásticos d2w. Assim sendo, tudo o que se fala contra os plásticos oxi-biodegradáveis também é válido em relação aos plásticos convencionais.
A indústria plástica está diante de uma nova realidade, onde plásticos são injustamente vistos como vilões do meio ambiente. Enquanto isso, os representantes das petroquímicas no Brasil não enxergam que novas tecnologias visam proteger a indústria plástica como um todo, já que podem oferecer ao mercado um produto que continua a ser reciclável, que oferece todas as vantagens e qualidades do plástico, mas que gera menor impacto ambiental quando descartado de forma errada e não é coletado.
Os plásticos d2w são uma alternativa interessante para acelerar a decomposição de toneladas de plásticos lançados no solo, rios e lagos. O aditivo já é utilizado em mais de 180 indústrias no Brasil e plásticos d2w são produzidos e adotados em mais de 60 países. Como se vê, muita gente começou a despertar para o problema, dando importante contribuição para amenizar o impacto provocado pelo descarte incorreto dos plásticos.
É importante que os empresários e consumidores se informem corretamente sobre cada uma das soluções e cobrem pesquisas e laudos específicos na hora de analisar a possibilidade de adotar um tipo ou outro de tecnologia. A escolha por opções menos impactantes ao meio ambiente e efetivamente eco-responsáveis pertence ao cidadão e ao mercado.
Eduardo Van Roost é diretor da Res Brasil, empresa especializada em embalagens naturalmente degradáveis
Ano da Publicação: | 2009 |
Fonte: | http://www.setorreciclagem.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=799 |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |