O que fazer com tanto plástico sendo produzido nos dias de hoje? Existem muitas tecnologias de processamento que vão além do reuso tradicional (retorno do material plástico às processadoras primárias) e abrem novas possibilidades para a criação da “economia dos resíduos”.
A presença de materiais plásticos no nosso dia-a-dia é cada vez mais notória, em utensílios domésticos, embalagens para alimentos, além das utilizações tecnológicas mais sofisticadas, como aviação e eletroeletrônicos. Segundo dados recentes da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (AbiPlast), o consumo total do material no Brasil sofre uma escalada gradativa a cada ano e atingiu a marca de 5,2 milhões de toneladas no ano de 2009.
A organização da cadeia produtiva do plástico no Brasil melhora a cada ano, e muitas discussões têm sido feitas em relação às possibilidades de melhoria nos critérios socioambientais das empresas. Muitos destes critérios dependem da multiplicação de cadeias logísticas que unam os rejeitos plásticos no consumo ao reprocessamento. Isto já acontece em alguma medida através de iniciativas de muitas cidades e regiões brasileiras, mas isto está longe de ser satisfatório num país com tantas diferenças socio-econômicas como o Brasil. De uma forma geral, onde há reciclagem, os materiais são devolvidos às empresas onde foram processados primeiramente, através da intermediação de catadores e cooperativas, para recondicionamento e reprocessamento.
O que quero tentar colocar em discussão aqui é que é possível criar e multiplicar modelos logísticos para a cadeia de plástico de forma a melhorar a eficiência da ciclagem dos materiais. À primeira vista, são inegáveis os benefícios ambientais e econômicos que esta ação traria, ainda que seja importante a análise das possibilidades caso a caso. Um modelo seria a introdução de tecnologias de reprocessamento que podem ser realizadas por pequenas e médias empresas, possivelmente coordenadas pelas cooperativas. Como transformar resíduos plásticos em combustíveis? A melhor maneira de construir um setor econômico nesta área é supor a segregação dos materiais reciclados, ou seja, papel, plástico, vidro, entre outros, nos locais de consumo. Desta forma, parte da responsabilidade deve ser sim do consumidor! Volto já a este assunto.
Primeiro quero falar brevemente das tecnologias. O processamento de resíduos plásticos pode dar origem a combustíveis sólidos, líquidos ou gasosos. A efetividade destes combustíveis depende crucialmente da matéria-prima, que deve ser a mais pura possível para manter a propriedade de calor de combustão (significa a quantidade de calor liberada por grama ou kilograma de material, normalmente).
Combustíveis sólidos podem ser produzidos pela formação de briquetes de plástico, cuja principal aplicação pode ser na alimentação de fornos siderúrgicos ou termelétricos, em substituição ao carvão ou à madeira. De uma forma geral, os plásticos (polietileno, polipropileno e poliestireno são os preferíveis, inclusive para os combustíveis líquidos e gasosos) são granulados e alimentados em uma extrusora a 200oC, que produz os briquetes padronizados. Papel também pode ser utilizado até certa proporção misturado ao plásticos, o que dá origem ao chamado RPF (Refuse-derived Paper and Plastic Fuel).
A produção de combustíveis líquidos e gasosos a partir de plásticos pode ser feita através de técnicas clássicas como pirólise à 500oC ou hidrogasificação à 800oC, respectivamente. De uma forma geral, o produto pode ser utilizado normalmente em veículos automotivos, dada sua similaridade de composição química em relação à gasolina ou ao diesel. Estas tecnologias ainda possuem alguns gargalos dependendo da matéria prima de alimentação e dos padrões finais dos combustíveis, mas numerosas empresas oferecem soluções, como a EarthTechnica, Ostrand, Toshiba, Klean Industries, entre outras. Recomendo aos interessados que busquem mais sobre as tecnologias nos sites das empresas e em publicações sobre tecnologias de plásticos (no site da Abiplast inclusive).
Para recapitular, quero dizer que a sofisticação da cadeia de plástico, colocando a responsabilidade no consumidor na separação do material reciclado, também é parte fundamental na melhoria da eficiência de utilização dos materiais. Além do mais, a formalização de uma estrutura neste sentido poderia incentivar as cooperativas de catadores que criassem pequenas empresas para reprocessamento dos materiais. O que André Trigueiro, na CBN, chamou de “microempresas do lixo”, que dariam maior condição de vida e dignidade para essas pessoas, que se tornariam empresários e funcionários.
André Trigueiro também coordena o programa Cidades e Soluções, na Globo News, que veiculou um programa sobre a madeira plástica brasileira (veja no link), ainda em 2007. Assista para ter uma idéia desta iniciativa. Temos que transformar iniciativas positivas em regras neste país, porque as urgências na área de meio ambiente são gritantes. O problema do plástico, além da macabra “sacolinha plástica”, deve ser entendido com seriedade.
Autor: Leandro Figueiredo
Ano da Publicação: | 2011 |
Fonte: | http://www.revistasustentabilidade.com.br/blogs/pensando-a-sustentabilidade/processando-residuos-plasticos-quais-as-possibilidades-do-brasil |
Link/URL: | http://www.revistasustentabilidade.com.br/blogs/pensando-a-sustentabilidade/processando-residuos-plasticos-quais-as-possibilidades-do-brasil |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |